DO OC – O derretimento acelerado de geleiras em razão do aquecimento global poderá criar condições para o despertar de bactérias, fungos e vírus adormecidos por milhares de anos, alguns deles patógenos, ou seja, capazes de infectar plantas e animais, incluindo humanos.
O tema ocupa um capítulo inteiro do relatório “O Peso do Tempo: enfrentando uma nova era de desafios para as pessoas e os ecossistemas” , lançado nesta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
De acordo com o documento, a crise climática está afetando pesadamente as regiões que compõem a chamada criosfera, onde há neve, geleiras permanentes e solos congelados sazonalmente.
O Ártico, a Antártida e a Groenlândia, por exemplo, fazem parte desse ecossistema que cobre 52% da superfície terrestre do planeta e 5% de sua área oceânica. Segundo o relatório, essas regiões vêm sofrendo “danos substanciais e perdas irreversíveis”.
“Projeções indicam que entre 24% e 69% do permafrost [o subsolo permanentemente congelado do Ártico] próximo à superfície do planeta descongelará até 2100”, alerta o documento.
Entre as muitas consequências devastadoras desse cenário está a possibilidade de que sejam retirados do confinamento no gelo uma quantidade enorme de microrganismos, dentre os quais bactérias, fungos microscópicos, protistas, arqueas unicelulares e vírus.
“Devido às condições ambientais adversas predominantes, a maioria dos micróbios congelados está morta. No entanto, alguns estão metabolicamente ativos e se multiplicam lentamente, enquanto muitos outros estão dormentes, mas ainda viáveis, o que significa que podem se multiplicar em taxas normais quando as condições permitem.”
Em ambientes controlados, segundo o documento, pesquisadores conseguiram reativar organismos que se mantiveram em estado dormente por milhares de anos.
“Microrganismos eucarióticos, como fungos, algas e protistas, foram reativados de gelo antigo de até 50.000 anos. Vírus preservados no permafrost por até 48.500 anos também foram reativados em laboratório, conseguindo infectar hospedeiros e se multiplicar”, relatam os autores.
A possibilidade de surtos generalizados decorrentes do agravamento deste cenário é descrita como “improvável”, mas os pesquisadores admitem que ainda é preciso aprimorar os instrumentos para medir essa ameaça.
“Mesmo que o derretimento possa ser desacelerado pela redução das emissões de gases de efeito estufa, devemos avaliar e nos preparar para possíveis ameaças de patógenos potenciais”, escreveu Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA, em trecho do texto de abertura do relatório.
Para reduzir as perdas na criosfera, o documento defende a redução das emissões de gases de efeito estufa (incluindo as emissões de carbono provenientes de motores a diesel, queimadas agrícolas a céu aberto e incêndios florestais) e a limitação do turismo em regiões congeladas e frágeis. É recomendado, ainda, mais investimento em pesquisa sobre a diversidade de microrganismos nessas regiões.
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O post “Vírus, bactérias e fungos adormecidos por milênios poderão despertar com derretimento de geleiras” foi publicado em 11/07/2025 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima