“Mulher de esquerda mas sobretudo mulher de luta”, diz camiseta de manifestante em Montenegro, RS
Vamos de boa notícia para animar o ano! Em outubro em Montenegro, região metropolitana do Rio Grande do Sul, a vereadora bolsonarenta Camila Oliveira, do Republicanos, gravou um vídeo no seu gabinete com duas adolescentes cantando uma música que compara mulheres de esquerda a cadelas. E hoje
ela foi cassada por quebra de decoro parlamentar! Parabéns às feministas da cidade!
A vereadora cassada dublou o funk “proibidão do Bolsonaro”, do MC Reaça. A música é uma paródia de “Baile de Favela” e é um hino do bolsonarismo, que é misógino até o talo. Ela diz: “Dou pra CUT pão com mortadela / E pras feministas ração na tigela / As mina de direita são as top, mais bela / Enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela”.
Não só a música é um lixo misógino como também seu autor. Em 2019 MC Reaça tentou matar a amante grávida
e se matou . Bolso, que pouco antes havia ignorado a morte de artistas consagrados como Beth Carvalho,
homenageou o cidadão de bem no Twitter: “será lembrado por seu amor pelo Brasil”. Lógico que nem o presidente nem seus filhos manifestaram
solidariedade à mulher que fora espancada pelo artista e que estava internada em estado grave.
Em outubro do ano passado, quando foi iniciado o
processo de cassação (pedido pelo PDT), Camila se disse “perseguida” e disse que seu ato não teve “qualquer cunho de intolerância”. Num discurso que fez, manifestantes lotaram a Câmara e deram as costas pra ela enquanto falava.
Publico o guest post de Maria Cristina Wagner Griebeler, jornalista e militante do PT, junto a algumas fotos enviadas por Nailton Gama , coordenador regional do PT, que vibrou com a decisão: “O Vale do Caí não é terra de ninguém, estamos todos e todas atentos e fortes. Que sintam o peso e a consequência dos seus atos! As companheiras que desde o início das denúncias organizaram essa luta de maneira exemplar, fazendo política com P maiúsculo e assim conseguindo obter a justiça esperada!”
Vereadores de Montenegro cassaram o mandato de Camila Oliveira (Republicanos) por unanimidade em sessão extraordinária nesta segunda-feira, 16 de janeiro. Por nove votos a zero, a ex-vereadora fica inelegível por 8 anos por publicar vídeo nas dependências da Câmara atacando as mulheres de esquerda, nas dependências da Câmara, usando imagens de menores.
O Grupo Feminina Montenegro saudou a decisão da cassação. O Coletivo, formado por mulheres de todos segmentos sociais e cores partidárias, esteve acompanhando as sessões da Câmara desde a instalação do processo em meados de outubro, na luta por justiça.
Liliane Melo, integrante do Coletivo, afirma: “é lamentável que tenhamos que nos mobilizar para pedir a cassação de uma mulher, mas a parlamentar reproduziu em suas manifestações falas de cunho machista, de ataque às mulheres que fazem política e se posicionam na vida pública, ao invés de usar seu mandato para assegurar que políticas públicas voltadas às mulheres tenham a atenção que merecem. Mandatos femininos ainda são minoria principalmente no interior; no entanto, não é possível admitir ataques deste tipo”.
O Pedido de Cassação, encaminhado pelo PDT, tramitou na Câmara de Montenegro sob a análise da comissão formada pelos vereadores Felipe Kinn da Silva, Presidente; Valdeci Alves de Castro, Relator; e Ari Arnaldo Müller, membro. O relatório final já havia sido aprovado por unanimidade na comissão.