Uma em cada três adolescentes das famílias mais pobres do mundo nunca frequentou a escola, de acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançado na segunda-feira (22), enquanto ministros da Educação se reúnem no Fórum Mundial da Educação e líderes globais na Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial.
Pobreza, discriminação por gênero, deficiência, origem étnica ou idioma de instrução, distância física das escolas e infraestrutura precária estão entre os obstáculos que continuam a impedir que as crianças mais pobres tenham acesso a uma educação de qualidade. A exclusão em todas as etapas da educação perpetua a pobreza e é um fator-chave de uma crise global de aprendizado.
O documento “Abordando a crise da aprendizagem: uma necessidade urgente de financiar melhor a educação para as crianças mais pobres” — disponível em inglês — destaca grandes disparidades na distribuição dos gastos públicos em educação.
O financiamento limitado e distribuído de forma desigual resulta em turmas grandes, professores mal treinados, falta de material educacional e infraestrutura escolar precária. Isso, por sua vez, tem um impacto adverso na frequência, matrícula e aprendizado.
“Países em todos os lugares estão falhando com as crianças mais pobres do mundo e, ao fazê-lo, falham com eles mesmos”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do UNICEF.
“Enquanto os gastos com educação pública forem desproporcionalmente direcionados às crianças das famílias mais ricas, as mais pobres terão poucas esperanças de escapar da pobreza, aprendendo as habilidades necessárias para competir e ter sucesso no mundo de hoje e contribuindo para as economias de seus países.”
Analisando 42 países com dados disponíveis, o documento conclui que a educação para crianças das famílias 20% mais ricas recebe quase o dobro da quantia de financiamento da educação do que as crianças das 20% mais pobres.
Dez países da África são responsáveis pelas maiores disparidades nos gastos com educação, com quatro vezes mais recursos destinados às crianças mais ricas do que às mais pobres. Na Guiné e na República Centro-Africana — países com algumas das taxas mais altas de crianças fora da escola —, as crianças mais ricas se beneficiam nove e seis vezes mais, respectivamente, da quantidade de fundos de educação pública do que as crianças mais pobres.
Barbados, Dinamarca, Irlanda, Noruega e Suécia são os únicos países incluídos na análise que distribuem o financiamento da educação igualmente entre os quintis mais ricos e os mais pobres.
O documento observa que a falta de recursos disponíveis para as crianças mais pobres está exacerbando uma crise de aprendizado incapacitante, pois as escolas falham em fornecer educação de qualidade aos seus estudantes. Segundo o Banco Mundial, mais da metade das crianças que vivem em países de baixa e média renda não consegue ler ou entender uma história simples no final do ensino fundamental.
O documento estabelece diretrizes claras para os governos: na alocação de recursos domésticos, os fundos devem ser distribuídos para que as crianças das famílias 20% mais pobres se beneficiem de pelo menos 20% do financiamento da educação.
O financiamento público deve priorizar os níveis mais baixos de educação – nos quais as crianças das famílias mais pobres estão mais representadas –, e as alocações para níveis mais altos devem aumentar gradualmente quando a cobertura for quase universal nos níveis mais baixos.
Pelo menos um ano de educação pré-primária universal deve ser providenciado para todas as crianças. A educação pré-primária é a base sobre a qual cada estágio da escolaridade se baseia.
As crianças que concluem a pré-escola aprendem melhor, têm mais probabilidade de permanecer na escola e contribuem mais para suas economias e sociedades quando atingem a idade adulta. A alocação de pelo menos 10% dos orçamentos nacionais da educação ajudará a alcançar o acesso universal.
“Estamos em um momento crítico. Se investirmos de forma inteligente e equitativa na educação das crianças, teremos a melhor chance possível de tirar as crianças da pobreza, capacitando-as com as habilidades necessárias para acessar oportunidades existentes e criar novas oportunidades para si mesmas”, afirmou Fore.
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