Ontem eu li três reportagens muito boas que eu tenho que compartilhar. E acho que estão interligadas.
A
primeira foi esta , sobre uma professora de uma escola particular para alunos ricos em Porto Alegre. Ela estava lecionando sobre iluminismo e a exclusão histórica das mulheres pra sua turma da oitava série quando um aluno a interrompeu gritando: “Onde tem mulher, só acontece m*rda!” Depois de mais confusão, ele acabou sendo convidado a sair da sala. Os pais do aluno misógino, provavelmente frequentador de chans incels, entraram com queixa contra a professora, e ela foi demitida. Ou seja, não pode falar sobre invisibilidade feminina das mulheres na política, que alunos bolsonarentos (e seus pais) não gostam!
A segunda foi a
excelente reportagem da repórter Ana Clara Costa na
Piauí sobre a Jovem Klan. Há muitos detalhes saborosos sobre como o dono da emissora, Tutinha, faz tudo por dinheiro. E ainda nega que sua empresa seja bolsonarista!
Na matéria fica evidência a importância que Reinaldo Azevedo (hoje admirado por bastante gente de esquerda, o que não consigo entender) teve para promover o antipetismo e a extrema-direita no Brasil. Em 2014, por exemplo, vinte dias depois da eleição de Dilma, tio Rei entrevistou Aécio Neves, encampando a tese que as eleições foram fraudadas. Saiu da emissora em 2017, mas o estrago já estava feito.
A matéria revela que o laboratório para a Jovem Klan virar TV foi o YouTube. Sabendo que tinha tratamento especial, e que seus canais no YT jamais seriam derrubados ou desmonetizados, a Klan passou a incluir cada vez mais fake news e discurso de ódio na sua programação.
A TV (a cabo, não aberta) da Jovem Klan tem baixo custo de produção. Paga mal os seus apenas 500 funcionários (quase todos terceirizados). O assistente de produção do seu programa mais importante ganha apenas R$ 2,5 mil, e não vai à redação porque não há vale-transporte.
Não preciso nem dizer que os reaças em geral e a Jovem Klan em particular (nome melhor pra definir a linha ideológica da emissora não tem) ficaram furiosos com a matéria. Aí a
Piauí fez
um vídeo apontando a mudança de opinião dos comentaristas.
Mas a
reportagem mais impactante que li ontem foi um furo do jornalista Guilherme Amado pro
Metrópoles (haverá outras,
é uma série ). Ele teve acesso a mensagens trocadas num grupo de WhatsApp chamado Empresários & Política. Lá, bolsonarentos como o véio de Havan, o dono do Coco Bambu, do Mormaii, da Multiplan, da W3Engenharia, entre outros, defendem golpe de Estado caso Bolso não ganhe.
O dono do shopping Barra World, José Koury, escreveu no grupo : “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”.
O dono do Grupo Sierra (empresa gaúcha especializada em móveis de luxo), André Tissot, respondeu: “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. Em 2019 teríamos ganhado outros dez anos a mais”. Ao ser questionado sobre a matéria, Bolso teve
mais um chilique (o outro de hoje
foi este , em que tentou roubar o celular de um youtuber que o chamou de “Tchucatchuca do Centrão).
E claro que a opinião desses ricaços não é apenas um desejo. Eles têm dinheiro, o que compra influência e poder. É chocante quando um deles fala em dar bônus e prêmios a funcionários que votarem em Bolso. Outro empresário lembra que, apesar da ideia ser fantástica, isso poderia, sei lá, de repente ser visto como compra de votos. Como é difícil ser empresário no Brasil, pô!
Mas é isso: de um lado, existem 33 milhões de brasileiros passando fome. Do outro, meia dúzia de bilionários crentes de que podem continuar mandando no país. E eles se consideram patriotas! Sonegar imposto e tramar contra a democracia do seu próprio país é patriotismo agora!
Nunca foi tão fácil escolher um lado.