A quantidade de trabalhadores que atuam em plataformas digitais cresceu quase 50% no Brasil entre 2021 e 2024, de acordo com pesquisa da Clínica de Direito do Trabalho da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente 2,3 milhões de pessoas são ligadas a essas empresas, diz o levantamento, que aponta para a urgência na regulação do setor.
Nesta segunda-feira (31), entregadores de aplicativo reivindicam direitos em uma paralisação nacional chamada de “Breque Nacional dos Apps 2025”, que deve durar até a terça-feira, 1o de abril, até às 22h. Os trabalhadores pedem que todas as empresas, especialmente o iFood , que detém quase 90% do mercado de entregas no país, segundo a UFPR, ofereçam melhores condições de trabalho e reajuste nas tarifas pagas pelas entregas.
Eles querem o aumento da remuneração para R$ 2,50 a cada quilômetro rodado; taxa mínima de R$ 10 por corrida; um limite de um raio de 3 quilômetros para entregas feitas em bicicleta; e o pagamento integral por corrida mesmo quando pedidos são agrupados na mesma rota.
De acordo com Alexandre Santos, um dos líderes da organização nacional dos entregadores, a mobilização está confirmada em 200 cidades, em todos os estados do país. Em São Paulo, os protestos vão acontecer na frente da sede do iFood, que fica na Vila Yara, em Osasco. A concentração vai ser no estádio do Pacaembu, na capital paulista.
“Nossa luta não é por remuneração, é por dignidade do trabalho. Quem trabalha 12 horas porque quer enriquecer? Até quando vamos morrer para sobreviver de maneira minimamente digna”, diz Santos, que é entregador do iFood e coordenador do movimento em Santa Catarina.
Quem sente bem isso na pele é Bolaxa, como é mais conhecido o entregador do iFood Gabriel Machado. Ele trabalha, em média, de 12 a 14 horas por dia, de segunda a sábado, em Curitiba e na região metropolitana. “A empresa tem receita de R$ 7 bilhões ao ano, enquanto eu recebo R$ 1,50 por cada quilômetro rodado”, disse à Agência Pública. Em 2023, a plataforma chegou a movimentar R$ 97 bilhões no Brasil.
A pesquisa da UFPR aponta também para um aumento da desigualdade social, que já havia sido evidenciada em 2022, quando o primeiro perfil nacional dos entregadores foi publicado pela universidade. Na época, 1,4 milhão de trabalhadores utilizavam as plataformas, metade atuando no transporte de passageiros. A maioria eram homens negros da periferia, principalmente na faixa de 22 anos, com ensino médio completo.
Hoje, o perfil sociodemográfico permanece o mesmo, de acordo com Sidnei Machado, advogado trabalhista e professor de direito da UFPR, que conduziu a pesquisa. “Quando uma empresa [o iFood ] detém quase todo poder de mercado, não há concorrência do setor. Ou seja, extrai o máximo do trabalhador, se apropria da esfera pública sem pagar ao Estado por isso e contorna as leis trabalhistas. Em suma, a empresa enriquece porque a vida do trabalhador empobrece”, explicou.
Fonte
O post “Trabalhadores de apps como iFood aumentaram quase 50% no Brasil” foi publicado em 31/03/2025 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Agência Pública