Lembrando o 75º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau e os 6 milhões de judeus e outros assassinados sob ordens nazistas durante o Holocausto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em uma cerimônia em Nova Iorque nesta segunda-feira (27) que o mundo deve se comprometer a impedir a repetição desses crimes.
“Nossa solidariedade diante do ódio é necessária hoje mais do que nunca, pois vemos um ressurgimento profundamente preocupante de ataques antissemitas em todo o mundo e, o que é inacreditável, também à nossa volta aqui em Nova Iorque”, disse ele no evento para o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Observando uma tendência crescente de crimes de ódio antissemita nos EUA, ele lembrou que, há menos de um mês, um ataque a faca feriu cinco em uma festa de Hannukah em Monsey e deixou quatro mortos em um supermercado kosher na vizinha Nova Jersey.
E ele disse que “a situação dos judeus na Europa é ainda pior”. Citando incidentes em Reino Unido, Alemanha e Itália, ele também observou que 2018 viu um salto de 74% nos ataques antissemitas na França.
“Existe uma crise global de ódio antissemita; um fluxo constante de ataques contra judeus, suas instituições e propriedades”, explicou o chefe da ONU.
Além disso, ele sustentou que o aumento do antissemitismo estava ligado a “um crescimento extremamente preocupante” de xenofobia, homofobia, discriminação e ódio em muitas partes do mundo, visando pessoas com base em sua raça, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual, deficiência e status migratório.
Normalização do ódio
Enquanto tropas do exército soviético ficaram atordoadas ao libertar Auschwitz, 75 anos atrás, hoje o mundo não deve desviar o olhar para os terríveis detalhes daquele campo de extermínio.
Guterres chamou de “nosso dever” continuar olhando, “aprendendo e reaprendendo as lições do Holocausto, para que este nunca se repita”.
“A lição mais importante é que o Holocausto foi o culminar de milênios de ódio, desde o Império Romano até os ataques pogroms da Idade Média”, continuou ele. “O meu país, Portugal, cometeu um ato de extrema crueldade e estupidez ao expulsar sua população judaica no final do século 15.”
E ele enfatizou que décadas antes da ascensão de Hitler ao poder, os judeus da Europa Oriental já tinham sido enviados para a ilha africana de Madagascar.
Ao recontar sua visita a Yad Vashem, há dois anos, o chefe da ONU disse ter ficado horrorizado ao observar “a capacidade do antissemitismo de se reinventar e de ressurgir ao longo dos milênios”. “Toma novas formas; pode ser disseminado por novas técnicas; mas é o mesmo velho ódio”, disse ele.
Ele ressaltou que milhões de pessoas foram dessensibilizadas pelos crimes contra a humanidade que aconteciam ao seu redor, alertando: “nunca podemos baixar a guarda”.
O Holocausto foi “uma operação complexa decorrente de preconceitos de longa data” com uma corrupção social de ampla extensão, da linguagem à educação e ao discurso político, explicou o chefe da ONU.
Ele pediu a todos que examinem seus próprios preconceitos, “protegendo-se contra o uso indevido de nossa própria tecnologia e ficando atentos a qualquer sinal de que o ódio esteja sendo normalizado”.
Combatendo os preconceitos
Quando qualquer grupo de pessoas é definido como um problema, “fica mais fácil cometer abusos de direitos humanos e normalizar a discriminação contra elas”, disse Guterres.
O combate ao preconceito requer uma liderança que promova a coesão social e lide com as causas do ódio.
Um objetivo primordial da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é promover os direitos humanos e combater a discriminação e o ódio.
“A Década de Ação que lancei na semana passada visa aumentar o apoio aos países do mundo inteiro para construir sociedades inclusivas, diversas e respeitosas, que proporcionem vidas dignas e oportunidades para todos”, concluiu o secretário-geral.
Promova a paz
Por sua parte, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Tijjani Muhammad-Bande, chamou o Holocausto de “o genocídio mais horrível da história da humanidade”.
Observando os relatos arrepiantes dos sobreviventes, ele enfatizou a necessidade de fazer mais para garantir uma “comunidade global inclusiva, pacífica e harmoniosa que incentive a unidade na diversidade”.
“Eles devem nos lembrar da constante necessidade de estarmos vigilantes, promovendo coletivamente esforços que desencorajem slogans e discursos de ódio, incluindo outros vícios intoleráveis que alimentam a discriminação, a xenofobia e outros preconceitos”, disse Muhammad-Bande.
Assinalando que os jovens de hoje serão os líderes de amanhã, ele enfatizou a necessidade de educar os jovens sobre esse e todos os crimes hediondos para garantir que as “atrocidades do Holocausto não se repitam”.
Em sua mensagem do dia, a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, destacou que a ONU foi estabelecida em resposta à “desumanização assassina e ao ódio propagado pelo regime nazista” durante a Segunda Guerra Mundial, para reconstruir um “mundo de justiça e paz”.
“Mas hoje”, lamentou, “as pessoas que são vistas como diferentes estão enfrentando muitas formas de ódio, com até mesmo líderes (globais) alimentando discriminação ou violência contra judeus, muçulmanos, migrantes ou outros membros de comunidades minoritárias”.
Bachelet ressaltou que a humanidade não deve voltar a “essa mentalidade injusta e cruel”.
O alto-comissária elogiou “as mulheres, homens e jovens de todo o mundo que demonstram sua coragem, empatia e princípio ao defender a tolerância e os direitos humanos diante dos esforços para desumanizar e demonizar as pessoas”.
Ela disse que uma educação em direitos humanos não apenas garante que esses princípios universais e as lições da história sejam absorvidas, mas também capacita as pessoas a responsabilizarem seus governos.
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