Brasília, 23 de outubro – Uma nova ferramenta interativa lançada hoje traz informações detalhadas sobre a exploração de petróleo nos nove países amazônicos: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. O Monitor da Amazônia Livre de Petróleo e Gás permite gerar mapas e planilhas, ao cruzar rapidamente dados sobre país, empresa, fase exploratória, além de informações sobre as localidades —terra indígena, território quilombola, região de corais etc.
O monitor foi desenvolvido pelo Instituto Internacional ARAYARA, com apoio do Observatório do Clima, Coalizão Energia Limpa, Coalizão Não Fracking Brasil pela Água, Clima e Vida – COESUS, Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Observatório do Petróleo e Gás, dentre outros. O conhecimento reunido estava espalhado em plataformas, como bancos de dados georreferenciados de governos e sites especializados. A desconexão das informações dificultava análises de contexto e risco da exploração de petróleo e gás. A iniciativa é pioneira em formular comparativos das áreas florestal e costeira da chamada Pan-Amazônia. As atualizações serão periódicas.
Qualquer pessoa pode acessar o monitor . Para Nicole de Oliveira, diretora executiva do Instituto ARAYARA, facilitar o acesso à informação confiável e atualizada é fundamental para fortalecer a participação ativa da sociedade civil nos processos de tomada de decisão. “Um caminho para evitar que a Amazônia alcance o ponto de não retorno — ao mesmo tempo em que se garante acesso a fontes de energia limpa e de baixo custo — passa pela conscientização de que aquilo que os governos e as empresas retratam como progresso, na realidade, representa um retrocesso significativo, uma ameaça à vida”, destaca. “
Hoje, existem 871 blocos de petróleo na região, que representam 29% do total de 3.028 projetos dos países pan-amazônicos. A maior parte (684 blocos ou 78%) ainda está em estudo ou oferta, indicando um evidente avanço dessa indústria sobre a floresta. Na área brasileira estão 52% (451 blocos), dentro das categorias em estudo, oferta e concessão. Eles se localizam onshore e offshore, com casos sensíveis em cada área, a exemplo de Azulão e Foz do Amazonas, respectivamente.
A Bolívia assume a segunda posição do ranking, com 129 blocos (14,81%), seguida da Colômbia, na terceira posição, com 104 blocos (11,94%). Maior quantidade de blocos, entretanto, não implica maior produção. Os blocos no Brasil são pequenos, comparados aos da Guiana, Suriname e Venezuela. Por outro lado, a quantidade chama atenção por aqui. Houve uma escalada na costa amazônica ao longo do último governo, em especial, com a inclusão de 218 novos blocos em setembro de 2022. Muitos já haviam sido devolvidos pelo Ibama com negativas de exploração, mas foram colocados novamente nas prateleiras dos leilões ou encaminhados para estudos.
O Monitor da Amazônia Livre de Petróleo expõe a ganância desses empreendimentos. “O avanço dos projetos de hoje se transformará nas bombas de carbono das próximas décadas, agravando cenas como a atual seca no bioma amazônico e enchentes destruidoras no sul do país”, alerta o biólogo Vinicius Nora, gerente de Oceanos, Clima e Geociências do Instituto ARAYARA.
Leilões de dezembro
Um bom exemplo da praticidade da nova plataforma é a possibilidade de mapear os blocos exploratórios que serão oferecidos no 4° Ciclo da Oferta Permanente, divulgado na semana passada pela Agência Nacional do Petróleo e que acontecerá em 13 de dezembro. “Com o monitor é possível saber a localização dos 602 blocos disponíveis: 21 deles se encontram no coração da Amazônia”, explica Juliano Bueno de Araújo, diretor técnico do Instituto ARAYARA e da COESUS. “Dá para fazer correlações rápidas dos diversos impactos em povos e comunidades tradicionais, unidades de conservação, rios, espécies em extinção. O monitoramento online e contínuo é uma conquista para a sociedade brasileira e global na busca da transição energética justa”, avalia.
A página de apresentação traz o posicionamento do Grupo de Trabalho Clima e Energia do Observatório do Clima sobre a contradição de explorar petróleo e gás na região amazônica. O documento foi lançado pouco antes dos Diálogos Amazônicos, a reunião da sociedade civil ocorrida no início de agosto, em Belém. Na contramão da história, o tema foi jogado para escanteio na cúpula que, em seguida, reuniu os chefes de Estado dos oito países que fazem parte da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica.
“Acabar com a exploração de fósseis é vital para alcançar as metas dos acordos de combate às mudanças climáticas”, destaca Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima. “Enquanto o mundo tenta organizar caminhos para a transição energética, o avanço da exploração desse setor sobre a maior floresta tropical do mundo causa perplexidade. O Brasil terá um papel fundamental nesse cenário como anfitrião da COP 30. Dados técnicos robustos, apresentados de forma didática e de fácil interação, ajudam a sociedade a compreender os riscos socioambientais associados à expansão desses projetos”.
Link para imagens do monitor:
https://drive.google.com/drive/folders/1Vy6gaAYMALRCsxMLZau1eITmbA3tgP_y?usp=sharing
Sobre o Instituto Internacional ARAYARA – Organização brasileira sem fins lucrativos dedicada à defesa dos direitos humanos, do meio ambiente e da justiça social. Foi fundado em 1992, no contexto da Eco 92, tem como objetivo promover ações para a construção de uma sociedade mais justa. Trabalhamos intensamente para impedir a expansão dos projetos de exploração de combustíveis fósseis e as novas emissões de gases de efeito estufa. Acreditamos que a transição energética justa é essencial para um futuro sustentável e equitativo.
Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 90 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.
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