A rápida escalada do conflito no noroeste da Síria criou um “caos” na área da saúde, em meio a relatos de pessoas deslocadas que se aproximavam da fronteira turca em busca de abrigo, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira (28). O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a todas as partes que recuem diante de uma nova escalada.
O chefe das Nações Unidas descreveu a atual crise de deslocamento dentro e ao redor de Idlib e a intensificação dos confrontos entre as forças turcas e sírias, estas últimas apoiadas pela Rússia, como “um dos momentos mais alarmantes” da guerra de quase uma década.
“Sem uma ação urgente, o risco de uma escalada ainda maior aumenta a cada hora. E como sempre, os civis estão pagando o preço mais alto”, disse ele a jornalistas na sede da ONU em Nova Iorque.
“Até acampamentos e outros locais onde as famílias deslocadas buscaram abrigo foram atingidos por bombardeios.”
Ele disse que a necessidade mais premente era um cessar-fogo imediato “antes que a situação fique totalmente fora de controle”.
Falando poucas horas antes de o Conselho de Segurança da ONU se reunir em uma sessão de emergência para discutir a escalada dos combates na Síria, o chefe da ONU disse que “agora é hora de dar uma chance à diplomacia, e é essencial que os combates parem”.
‘Caos’ no terreno
Falando à imprensa em Genebra no início do dia, o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, disse que os profissionais de saúde estavam descrevendo “o caos em suas unidades de saúde”.
Ele explicou que cerca de 170 mil “recém-deslocados estão dormindo ao ar livre” em Idlib — a última área da oposição na Síria que é alvo de uma campanha militar liderada pelo governo do país — com 100 mil crianças expostas a temperaturas próximas ao congelamento.
A crise é a pior que as pessoas no noroeste da Síria experimentaram desde o início do conflito, em 2011, afirmam os trabalhadores humanitários da ONU.
Aproximadamente 1 milhão de pessoas deslocadas em 3 meses
Desde 1º de dezembro, estima-se que quase 1 milhão de pessoas tenham sido deslocadas na região. As condições são “terríveis”, disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas.
“Agora temos 950 mil pessoas deslocadas em condições absolutamente terríveis. As pessoas não têm nada e não têm para onde ir”, afirmou. “É aumento atrás de aumento (do número de deslocados), e é realmente trágico ver o que está acontecendo.”
Desde o início de dezembro, 11 unidades de saúde foram atacadas, deixando dez mortos e 37 feridos, segundo a OMS.
A agência da ONU também alertou que a crise de deslocamento criou enormes necessidades de saúde em alguns centros médicos e hospitais, mas deixou outras instalações desertas, em meio a um “forte aumento nos casos de trauma”.
“Até hoje, 84 unidades de saúde foram forçadas a suspender as operações desde 1º de dezembro do ano passado. Dessas 84, 31 foram capazes de realocar e prestar serviços onde as pessoas procuravam refúgio contra bombardeios”, disse Lindmeier.
Como parte de uma operação humanitária importante e em andamento, a OMS enviou 55 toneladas de remédios e suprimentos médicos da Turquia para a província de Idlib e partes de Alepo na terça e quarta-feira.
Utilizando as passagens de fronteira de Bab al Hawa e Bab al Sama, a agência da ONU transportou equipamentos, incluindo 3.200 equipamentos cirúrgicos e de traumas.
Estes estão sendo distribuídos aos parceiros da OMS em mais de 150 unidades — aproximadamente metade das unidades de saúde em funcionamento no noroeste do país.
Mortes entre tropas turcas
Em meio a relatos de que as autoridades turcas estão autorizando a entrada de civis sírios na Turquia depois que dezenas de soldados turcos foram mortos em um ataque ligado a forças do governo sírio, o OCHA disse que as entregas de ajuda transfronteiriça continuariam.
“Não temos comunicação oficial do governo turco sobre qualquer mudança a partir de agora”, disse Laerke. “Portanto, a operação transfronteiriça continua, e eu poderia acrescentar que nos primeiros dois meses deste ano tivemos mais de 2 mil caminhões atravessando essa fronteira e essa operação continua.”
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