Nossas cidades foram tecidas a partir de um desenvolvimento alucinado e desordenado, que teve como consequência a separação das pessoas pelo poder aquisitivo, em áreas com mais ou menos infraestrutura, o que impediu a construção de uma relação ecologicamente mais equilibrada entre cidadão e as áreas verdes. Esse desenvolvimento desenfreado nos fez chegar aonde estamos hoje, e que apenas um repensar na forma em como vivemos e nos relacionamos com o meio ambiente permitirá ao homem uma vida longa e profícua.
Vale lembrar que as unidades de conservação como os parques, além do seu importante papel na conservação e preservação da biodiversidade, são parceiras da saúde pois trazem benefícios ao bem estar e à qualidade de vida das pessoas.
O ser humano é um animal social por natureza e que a maior parte da população mundial vive em áreas urbanas e não é preciso lembrar da relevância das áreas protegidas urbanas como espaços verdes de lazer, esporte e cultura na configuração de cidades mais justas, inclusivas, saudáveis e economicamente dinâmicas.
Os serviços vitais que a natureza oferece é pouco compreendido pela maioria dos habitantes das cidades, principalmente as grandes concentrações humanas onde tudo é muito corrido e não paramos para refletir e perceber que sem natureza não existe nenhuma forma de vida.
Estudos científicos realizados pelo mundo, em especial no Japão, comprovam que os chamados “banhos de floresta” país onde essa prática é utilizada à décadas diminuem o cortisol (hormônio causador do estresse), reduzem a pressão arterial, melhoram a concentração, a imunidade, fortalecem o metabolismo e elevam o conforto emocional.
Portanto, é necessário que os órgãos gestores das unidades de conservação, realizem parcerias com as instituições ligadas à área de saúde, como as secretarias estaduais e municipais, hospitais e clínicas, no sentido de capacitar gestores da área de saúde para desenvolvimento de programas de acompanhamento clínico, baseado em um novo modelo de saúde pública. Entretanto, não podemos banalizar essa questão dos “banhos de florestas”, mas sim concretizar essa ação de forma planejada e organizada.
Ao contribuir com benefícios fundamentais para a sociedade neste caso em especial para a saúde humana, as unidades de conservação – apesar do desmonte realizado atualmente no governo em relação às unidades de conservação federais – são um ótimo negócio para os municípios, tanto do ponto de vista econômico e social, como ambiental e para melhoria da qualidade de vida urbana.
Em pesquisa aplicada junto às redes sociais em começo de Maio de 2020, a empresa “Natureza Urbana” perguntou sobre quais locais serão mais frequentados pós-Covid-19: 55% apontaram para parques e praças, 22% para bares e restaurantes, 17% acreditam que espaços para o pedestre em geral serão os mais buscados e apenas 6% indicam os shoppings como possíveis lugares mais frequentados. Portanto, criação e implantação dos parques urbanos mais comprometidos com a nova realidade mundial pós-pandemia pode ser uma saída ou alternativa para as cidades e suas áreas naturais protegidas, espaços essenciais para, além do lazer, recreação e turismo, promover saúde, por meio de experiências lúdicas nessas áreas.
O isolamento social ao qual estamos ligados nos faz refletir para pensar no mundo que espera lá fora. Com certeza, dentre as muitas possíveis reflexões, podemos destacar a necessidade de revalorizar os parques e as reservas urbanas, como espaço essencial para a melhoria da qualidade de vida urbana.
Portanto, temos que parar e pensar no futuro: como criaremos mais parques urbanos após o COVID-19? Quais podem ser as estratégias que os diversos atores, em especial os municípios poderão propor para devolver nas suas comunidades o sentimento de apropriação à cidade e dos parques? Como fazer melhor, como a gestão pública das cidades brasileiras aliado aos seus parques poderão atuar para melhorar a qualidade de vida da nossa população que sairá um tanto sofrida deste choque ao Covid-19.
Sabemos que uma das tendências pós-pandemia apontam para cidades mais integradas à natureza, fundamental para reduzir as chances de novas pandemias acontecerem, inclusive podem vir com maior impacto. Está claro, portanto, que devemos mudar nossa relação com o planeta.
Precisamos ter mais conexão com a natureza e não só contato. Conexão no sentido de se relacionar, de se vincular com a natureza, além de maior conhecimento sobre os benefícios da relação harmoniosa e respeitosa com o nosso meio ambiente, buscando hábitos de vida mais sustentáveis.
É preciso encontrar estratégias no sentido de sensibilizar a sociedade sobre o papel que os parques e reservas urbanas desempenham em um planeta cada vez mais urbano como espaços para melhoria da qualidade de vida da população em um novo mundo após a pandemia do Coronavírus.
Uma dessas estratégias poderão ser vídeos documentários disponibilizados para escolas públicas e privadas, TVs Públicas do Brasil, TVs do sistema S (Senai, Sesi, Sesc, Sebrae) bem como nas mídias sociais.
Quais serão os desafios para reestruturar nosso modo de viver para atender às demandas de um distanciamento social diferenciado? As pessoas precisarão mudar a forma de interagir com a natureza, alterando seu próprio modo de vida. Haverá esperança para uma vida nova e não volte tudo como era antes? O mundo pré-pandemia não existe mais. Mas como será este outro mundo? Os impactos ambientais positivos e negativos da pandemia serão momentâneos ou surgirá uma nova “normalidade”?
*Miguel von Behr está aposentado pelo Ministério do Meio Ambiente desde 2017. Ministra, com palestrantes convidados, o curso “Criação e gestão de unidades de conservação da natureza urbanas” www.uc-urbanas.com
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O post “Reflexões sobre as contribuições das unidades de conservação urbanas na pós pandemia” foi publicado em 13th May 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco