A organização não governamental Nação Basquete de Rua lançou no início do mês (7) o projeto “Se Liga Ae Juventude!”, cujo objetivo é levar conhecimento sobre HIV e AIDS a jovens da periferia de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro .
O projeto, que conta com o apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), também busca empoderar estas comunidades por meio do conhecimento sobre sexualidade e questões sobre estigma e discriminação — que ainda têm impacto significativo nas pessoas que vivem com HIV e AIDS.
O objetivo com estas ações é conscientizar, principalmente a juventude negra de periferia, sobre a prevenção do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
No lançamento do projeto, realizado no Instituto Federal Fluminense, o UNAIDS apresentou o papel e a atuação da ONU nas áreas de saúde, educação, igualdade de gênero e zero discriminação para cerca de 300 adolescentes das comunidades da Linha e de Guarus.
“Abordamos questões sobre as diversas formas de estigma, por meio de exemplos cotidianos, e também reforçamos que muitas pessoas reproduzem esses problemas por falta de informação adequada”, disse Ariadne Ribeiro, assessora para apoio comunitário do UNAIDS.
“Muitos jovens e muitas jovens relataram que passam por constrangimentos por serem pobres, negros, bissexuais ou gays, e também pelo simples fato de morarem na região onde moram.”
O debate realizado no dia do lançamento também deu destaque à importância da mobilização local para alcançar o fim da epidemia de AIDS como ameaça à saúde pública até 2030.
O projeto “Se Liga Ae Juventude!” irá capacitar jovens de 12 a 18 anos, principalmente a juventude negra e de periferias, em habilidades de discussão sobre temas de prevenção ao HIV e saúde sexual e reprodutiva.
A partir dos conhecimentos adquiridos, estas pessoas poderão produzir materiais educativos em diferentes plataformas de comunicação, com linguagens desenvolvidas por elas mesmas, levando o debate para suas comunidades, principalmente aquelas afastadas dos grandes centros e das capitais brasileiras.
A psicóloga e vice-presidente da Nação Basquete de Rua, Tamillys Lirio, acredita que a iniciativa pode criar agentes multiplicadores de informações, e até mesmo empreendedores sociais e possíveis novos ativistas juvenis.
“Queremos que o município de Campos dos Goytacazes tenha o maior número possível de jovens conscientes e ativos, cientes de seus deveres e direitos, para que, junto às suas comunidades, possam lutar por uma cidade melhor e mais igual”, destacou.
“A desigualdade socioeconômica dita quais populações mais adoecem, as que menos têm acesso ao bem-estar e a serviços públicos de qualidade. Diante desse alarmante cenário, nós da NBR compilamos as principais demandas e fragilidades percebidas nos contextos das juventudes em seus territórios e desenvolvemos o projeto.”
O cronograma do “Se Liga Ae Juventude!” prevê atividades para os meses de novembro e dezembro, que incluem temas como sexualidade e prevenção; HIV/AIDS e questões raciais; prevenção em contextos de violência urbana e falta de perspectivas de futuro; direitos e questões relacionadas à saúde da juventude. Também está programada visita a um serviço de atendimento e testagem para HIV na região.
“As pessoas que vivem nas periferias têm dificuldades que vão desde a locomoção e tarifas do transporte público até a alimentação e nutrição adequada. E pesquisas demonstram que a população negra e pobre tem 2,4 vezes mais chances de morrer em decorrência de complicações relacionadas à AIDS”, afirmou assessora para apoio comunitário do UNAIDS.
“Além disso, meninas e meninos cada vez mais jovens também estão se infectando por sífilis, o que acaba vulnerabilizando ainda mais essa população para a infecção por HIV. E prevenção é a chave”, completou.
Nação Basquete de Rua
A ONG Nação Basquete de Rua (NBR) atua desde 2009 em prol das garantias dos direitos sociais e no combate às causas da violência urbana, com foco no apoio, por meio do esporte, da cultura e da educação, às crianças, jovens em situação de vulnerabilidade e grupos socialmente marginalizados.
Desde 2015, a ONG já é parceira do UNAIDS e do Ministério da Saúde no projeto Jovens Lideranças, que capacita jovens para reforçar o estímulo à participação de debates, palestras, dinâmicas, atividades e ações que buscam democratizar e quebrar tabus acerca de temas como HIV e AIDS, saúde sexual e reprodutiva, entendendo a importância do conhecimento e de um maior esclarecimento sobre esses assuntos na linguagem e na abordagem adequadas para jovens.
HIV em populações vulneráveis
Segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2018 do Ministério da Saúde, com relação a raça/cor de pele autodeclarada, entre os casos registrados de 2007 a junho de 2018 no Brasil, 46,1% ocorreram entre brancos e 52,9% entre negros (pretos e pardos, sendo as proporções estratificadas 11,4% e 41,5%, respectivamente).
No sexo masculino, 48,0% dos casos ocorreram entre brancos e 50,9% entre negros (pretos, 10,3% e pardos, 40,7%); entre as mulheres, 41,9% dos casos se deram entre brancas e 57,1% entre negras (pretas, 13,9% e pardas,43,2%). Além disso, 8,5% dos registros tiveram a informação sobre raça/cor ignorada.
Quando analisados os casos de AIDS nos últimos dez anos e a distribuição dos indivíduos pelo quesito raça/cor, observa-se queda de 20,9% na proporção de casos entre pessoas brancas. Entre as pessoas autodeclaradas pardas, essa proporção aumentou 33,5%.
Considerando a população negra (pretos e pardos), o aumento observado no período foi de 23,5%. Observando-se a série histórica, nota-se que, desde 2009, os casos de AIDS são mais prevalentes em mulheres negras, enquanto entre homens isso ocorre desde 2012. No ano de 2017, as proporções observadas foram de 57,3% e 61,1% entre homens e mulheres negras, respectivamente.
Mortes por AIDS na população negra no Brasil
Também em 2017, foram registrados 11.463 óbitos por causa básica AIDS, com uma taxa de mortalidade de 4,8 para cada 100 mil habitantes. A taxa de mortalidade teve redução de 15,8% entre 2014 e 2017, possivelmente em consequência da recomendação do “tratamento para todos” no Brasil e da ampliação do diagnóstico precoce da infecção pelo HIV.
Do total de mortes registradas no Brasil em 2017, 60,3% foram entre pessoas negras (pretas 14,1% e pardas 46,2%), 39,2% em entre pessoas brancas, 0,2% entre amarelas e 0,2% entre indígenas.
A proporção de óbitos entre mulheres negras foi superior à observada em homens negros: 63,3% e 58,8%, respectivamente. Realizando-se uma comparação entre os anos de 2007 e 2017, há uma queda de 23,8% na proporção de óbitos de pessoas brancas e um crescimento de 25,3% na proporção de óbitos de pessoas negras.
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