Hoje é meu aniversário. Faço 54 anos. E estou muito feliz por continuar viva (e vacinada com a primeira dose) no meio de uma pandemia que já matou mais de 470 mil brasileiros e que, graças ao pior governo de todos os tempos, ainda vai matar muitos mais.
É meu primeiro aniversário sem minha mãe, que partiu em março. É estranho e triste, porque ela morou com a gente, na nossa casa, durante 22 anos, e em toda data comemorativa ela preparava um prato especial. Nos últimos tempos, no entanto, ela andava muito fraca e não tinha condições de ficar em pé muito tempo pra cozinhar. Acho que a última vez que ela fez alguma receita foi em agosto, pra comemorar meus trinta anos juntos com o maridão. E ainda assim o Silvinho teve que ajudar bastante.
Nas últimas três vezes que ela fez sua maior especialidade, o Sacher Torte, o Silvinho ajudou. Ela dizia o que fazer, e ele fazia. Eu pensava que com essa experiência ele teria aprendido como preparar a bendita torta, mas que nada!
Em homenagem a minha mãe, tentei fazer a Sacher pela primeira vez na vida. Creio que já compartilhei a receita aqui no blog duas vezes, e várias pessoas testaram, aprovaram, até mandaram fotos. Lá vai:
600 g de chocolate meio amargo
150 g de chocolate em pó
3 ovos
150 g de manteiga
150 g de açúcar (uma xícara de chá)
Cremor de tártaro (sei que ninguém consegue encontrar, é dispensável)
Fermento
Pitada de sal
2 colheres sopa de baunilha
75 g maisena (meia xícara de chá)
75 g farinha de trigo
¼ litro de creme de leite fresco
Licor (minha mãe só usava Cointreau, caríssimo. Como a gente ainda tinha um pouco, usou também)
Coloque metade do chocolate, ou 300 g, de chocolate meio-amargo em pedaços em banho-maria para derreter. Acrescente mais 150 gramas de chocolate em pó. Acrescente a manteiga para derreter no chocolate. E o açúcar, misturando bem. Deixe esfriar um pouco.
Misture em uma tigela: 75 gramas de maisena (ou 4 colheres generosas de sopa), 75 gramas de farinha de trigo, 3 colheres chá de fermento, e uma pitada de sal.
Ponha nas tigelas da batedeira: na menor, 3 gemas de ovo. Na maior, 3 claras e uma colherzinha de cremor de tártaro, para dar consistência.
Bata primeiro as claras, até que fiquem firmes.
Bata as gemas na tigela menor. Acrescente, aos poucos, o chocolate derretido.
Junte aos poucos os ingredientes das duas tigelas para a tigela com as claras. Misture à mão.
Passe para uma forma untada e leve ao forno moderado por 15 a 20 minutos (no meu fogão 4 bocas ficou quase uma hora!).
Recheio e cobertura
300 gramas (ou a metade do chocolate original que sobrou) de chocolate meio-amargo cortado em pedaços, derretido em banho-maria. Acrescente ¼ de creme de leite fresco e duas colheres de chá de baunilha. Misture até formar um creme homogêneo escuro.
Monte o bolo em camadas, colocando licor sobre elas, e o recheio.
O bolo da foto de cima (escrito “Happy birthdday Lulola” foi feito pela minha mãe pra algum aniversário meu. Já esse aí foi o que eu fiz. A gente podia fazer um jogo dos 7 erros
Bom, como vocês podem ver, não é um bolo barato. Só nos 600 g de chocolate eu tive que gastar quase R$ 40 em um quilo de chocolate Garoto (tudo bem que sobrou 400 g). Meu irmão, que anda cozinhando bastante ultimamente, diz que usa gotas de chocolate que custam cerca de R$ 30 o quilo pra fazer mousse, mas não encontrei em Fortaleza (só pra entregar, e aí com o frete não compensa).
No mercado aqui perto o maridão encontrou uma vez um quilo sabor chocolate por R$ 23, mas notem o nome: “sabor chocolate”. Quer dizer que nem chocolate é. É bem ruim e, como eu queria caprichar no Sacher, comprei chocolate de verdade.
Ficou gostosa, chocolatuda, mas diferente das da minha mãe. Tava mais dura. Sem falar que eu não consegui deixar bonitinha. Quebrou tudo, virou um Frankenstein! Não sei se vou fazer novamente. Mas vocês tentem, e me contem!
Só aviso que a torta é de chocolate amargo, ou seja, não é tão doce!
Alguns brasileiros com o paladar mais açucarado podem não adorar (aí acho que não tem problema substituir parte do chocolate amargo por chocolate ao leite).
E aviso também que esta não é a Sacher Torte original, da Áustria. A de verdade tem recheio de geleia de damasco.
Minha mãe fazia essa versão de puro chocolate não sei desde quando. Eu chuto que pelo menos desde o começo da década de 80 teve Sacher Torte todo Natal. E, detalhe: como éramos em cinco pessoas, ela fazia o dobro da receita! E torta de frango. Estamos tentando reproduzir a torta de frango também (Silvinho está na cozinha abrindo a massa e reclamando que eu fiz pouca massa). Mas sem chance de ficar como a da minha mãe.