A crise climática é uma das pautas socioambientais que mais tem estado nos centros dos debates atualmente, seja nos espaços políticos de tomada de decisão, seja na imprensa e nas mídias em geral. Se voltarmos alguns passos na história e olharmos para como a pauta de clima era tratada há alguns anos, podemos afirmar com segurança que uma palavra vamos encontrar com bastante frequência: futuro.
Hoje, com a crise climática batendo à nossa porta, a noção de “um problema do futuro” já não se aplica tanto assim – afinal seus impactos já são um cotidiano presente para a realidade de muitas pessoas –, entretanto, uma noção temporal intrínseca ainda se mantém. Presente e futuro se misturam e a distância percebida entre eles parece cada vez menor. É a partir desta noção que a pauta de clima se conecta com as juventudes.
Não é de hoje que dizem que os jovens são a “maior esperança para o futuro”. Mas dentro de um contexto com tantos desafios socioambientais, o que isso significa? Quando testemunhamos tanto retrocesso e desmonte nas mais diversas esferas e setores da sociedade, ecoa em nós um questionamento: qual o nosso verdadeiro papel?
Assim como tantas outras discussões de cunho social no Brasil e no mundo, falar sobre juventudes ainda é complicado. E, quando se tenta falar de juventudes ocupando pautas relacionadas à crise climática e às questões socioambientais, encontramos barreiras ainda maiores. Ouvir os jovens nunca foi prioridade de nenhum governo, e isso já pode ser considerado senso comum. Quando olhamos para os mais diversos movimentos sociais de resistência, sempre vemos a presença jovem na tentativa de contornar os obstáculos impostos pelo sistema formal de participação, tão excludente para nossas vozes, e construir alternativas para influenciar a tomada de decisões. Neste cenário, sermos criativos, inovadores e resilientes se torna não apenas necessário, mas urgente.
E é aqui que entramos: o Engajamundo é uma iniciativa de jovens feita para jovens, que acredita na sua responsabilidade como uma parte chave na solução para os grandes desafios socioambientais do Brasil e do mundo. Acreditamos – e defendemos – que o papel de impulsionar transformações já é nosso hoje, e é com esta visão que nos colocamos como um canal para a participação efetiva de jovens em processos importantes de tomada de decisões que afetam nosso presente e nosso futuro, atuando em cinco frentes ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável): Gênero, Cidades e Comunidades Sustentáveis, Biodiversidade e Clima, também conhecido como GT Clima – ou seja, quem vos escreve agora.
Como rede, ocupamos espaços de tomada de decisão para garantir que nossas vozes se façam presentes – como acontece com as COPs (da sigla Conferência das Partes, conferência da ONU sobre clima) desde 2013. Em território brasileiro, acompanhamos de perto pautas políticas que trazem o risco de agravar ainda mais a crise que estamos vivendo, e cobramos direta e incisivamente quando aqueles que deveriam ser nossos representantes intencionalmente adotam medidas que colocam em risco nosso presente e futuro – como o processo judicial ao governo pela pedalada climática . Nosso comprometimento com a pauta climática se faz presente ainda pela educação e pela comunicação, que se conectam na missão de tornar o debate sobre clima cada vez mais acessível, participativo e democrático.
Enquanto princípio guia que nos estrutura, vemos que as juventudes são diversas por constituição – e sim, é por isso que adotamos a palavra no plural: juventudes – para nós é um universo que não cabe numa palavra singular como geralmente é adotada. Somos urbanos, rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, assentados, pessoas com deficiências, periféricos, parte do grupo lgbtqia+, pesquisadores, cientistas… e tantos mais.
Nesta pluralidade, a defesa pela justiça climática se torna um princípio automático a ser buscado e defendido, e é isto que nos conecta tão profundamente. Os impactos da crise climática, ainda que afetem a todos de forma global, não atingem a todos individual e socialmente da mesma forma, nas mesmas proporções, nem mesmo de forma equânime. É um paradoxo injusto que se faz cada dia mais presente: os que menos contribuíram historicamente, e que menos contribuem hoje, para o desequilíbrio climático, são aqueles que são primeiros e mais diretamente afetados. Isso vale para as relações a nível internacional (norte global e sul global, por exemplo), mas vale também para os laços que se estabelecem entre os diferentes contextos dentro do próprio território do nosso próprio país.
As pessoas na linha de frente desta crise são ao mesmo tempo as que menos ocupam os espaços de tomada de decisão e que mais desafios encontram para fazerem suas vozes chegarem aonde precisam ser ouvidas. As juventudes estão incluídas nesse grupo e esta missão também é nossa. A crise climática é uma pauta das juventudes não apenas porque afeta nossos futuros. Mas porque, principalmente, nos demanda que ocupemos todos os dias espaços para reafirmar nossas demandas e cobrar a ambição climática que se faz necessária.
É com estes olhares que convidamos você a acompanhar a nossa coluna, enquanto ocupamos mais um espaço de multiplicação das vozes jovens que lutam pelo clima de maneira independente, para que possamos juntos construir visões políticas que contribuam para a construção de um cenário de sociedade e meio ambiente que seja, de fato, inovador.
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O post Por que a crise climática também é uma pauta das juventudes apareceu primeiro em ((o))eco .
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O post “Por que a crise climática também é uma pauta das juventudes” foi publicado em 2nd June 2021 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco