O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou na segunda-feira (9), em Brasília (DF) o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2019, intitulado “Além da renda, além das médias, além do hoje: desigualdades no desenvolvimento humano no século 21”.
O evento reuniu representantes de governo federal, corpo diplomático, sociedade civil e academia para apresentar os resultados do documento, que aponta ganhos substanciais nos níveis básicos de saúde, educação e padrão de vida no mundo, ao mesmo tempo em que destaca que as necessidades de muitas pessoas permanecem não atendidas, e uma próxima geração de desigualdades se inicia.
Ao abrir a cerimônia, a representante-residente do PNUD no Brasil, Katyna Argueta, destacou que o relatório explora, com novas lentes, as diferentes desigualdades nos distintos grupos populacionais, e propõe que a desigualdade seja explorada além da renda, além das médias e além do hoje.
“Além da renda porque existem fatores relacionados às oportunidades de acesso à dignidade, ao respeito e aos direitos, não necessariamente vinculadas a desigualdades econômicas. Além das médias porque a tirania das médias simplifica e distorce o debate. Além do hoje porque o mundo está mudando muito rapidamente, e devemos considerar os novos fatores que estão delineando as iniquidades do futuro”, afirmou Argueta.
Ninguém para trás
Representando o governo federal, a secretária-executiva do Ministério da Cidadania, Ana Maria Pellini, cumprimentou o PNUD pelo lançamento do documento. Em sua fala, destacou diferentes “Brasis”, um que se desenvolve e é motivo de orgulho, na ciência e na tecnologia, e outro que ainda envergonha e precisa de ações para minimizar seus desafios.
“Temos uma caminhada muito longa para termos um país que se desenvolva de maneira uniforme, levando todos, não deixando ninguém para trás”, concluiu.
Também presente à cerimônia, o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, comentou os resultados do relatório com uma palestra sobre a relação entre a ciência e os grandes desafios para a redução das desigualdades.
Ele defendeu que países em desenvolvimento tenham acesso a bancos de dados internacionais e explicou que a inteligência artificial traz benefícios para a humanidade, mas, ao mesmo tempo, gera mudanças para o futuro do emprego. “Isso é um risco, mas também um grande desafio, que pode ser resolvido por meio da qualificação dos trabalhadores”, disse.
Novas evidências
Durante o evento, a coordenadora da Unidade de Desenvolvimento Humano do PNUD Brasil, Betina Barbosa, fez uma apresentação sobre o relatório e explicou que o RDH apresenta duas questões principais. A primeira: é necessário lidar com os desafios da mudança do clima. A segunda: é preciso aproveitar o progresso tecnológico para reduzir as desigualdades.
De acordo com Barbosa, o documento ainda expõe cinco novas evidências: as disparidades no Desenvolvimento Humano persistem, mesmo considerando que privações extremas foram consideravelmente reduzidas; uma nova geração de desigualdades emerge; as desigualdades se acumulam durante o ciclo de vidas das pessoas e refletem profundos desequilíbrios de poder; medir e responder às desigualdades no desenvolvimento humano demanda transformações nas métricas em uso; para mudar os desequilíbrios, precisamos agir agora – antes que domínios políticos sejam capturados pelo poder econômico.
Possibilidades de ação
O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2019 faz um chamado para a ação e recomenda políticas públicas que podem apoiar os governos de todo o mundo no combate às novas e variadas formas de desigualdade, que vão para além da renda, das médias e do hoje.
Barbosa relata que as recomendações finais do RDH 2019 incluem: finalizar o trabalho do século 20, de modo que todas as pessoas no planeta tenham as liberdades e oportunidades básicas para uma vida digna; acompanhar e endereçar as novas desigualdades do século 21, entendendo a evolução e a expectativa das pessoas em relação ao futuro; para os bebês que vão nascer em 2020 e vão ver o século 22, é preciso preparar o terreno de forma que as desigualdades do presente pertençam ao passado.
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