DO OC – O que os militares não fizeram em quatro anos, apesar de toda a conversa sobre soberania, os civis entregaram em sete meses: o governo anunciou nesta sexta-feira (21) que investirá R$ 2 bilhões para criar 34 bases operativas da Polícia Federal na Amazônia. As bases integram o pacote de segurança pública lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e têm o objetivo de combater crimes ambientais e outras formas de crime organizado.
Batizada Plano Amas (Amazônia, Segurança e Soberania), a iniciativa inclui a criação de uma força especial para o meio ambiente dentro da Força Nacional de Segurança. Trata-se de uma proposta antiga do ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, que foi reapresentada na transição de governo. Um centro da PF de cooperação internacional em Manaus também será aparelhado.
O decreto assinado por Lula prevê a instalação de 28 bases terrestres e seis fluviais nos nove Estados da Amazônia Legal, a serem ocupadas por PF, Polícia Rodoviária Federal e forças estaduais. Bases operativas fizeram parte da receita do primeiro PPCDAm (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia), mas elas eram do Ibama, montadas com apoio do Exército, e não da Polícia Federal.
Mas o crime organizado ganhou uma dimensão na região muito maior do que tinha nos primeiros mandatos de Lula. Facções criminosas do Sudeste se instalaram em cidades da região e, desde a pandemia, vêm usando o garimpo para lavar dinheiro de outros crimes. Um estudo do Instituto Igarapé , que analisou 369 operações da PF na Amazônia, mostrou que indiciamentos nas operações contra a grilagem de terras também incluíam corrupção (em 42% dos casos), fraude (60%), lavagem de dinheiro (15%), tráfico de drogas (6%) e de pessoas (também em 6% dos casos).
“Organizações criminosas ocuparam o território e os indicadores de violência cresceram. Combater o nacogarimpo e o narcotráfico na Amazônia é proteger o Brasil. É fazer com o que o Brasil combata o desmatamento”, disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB-MA), na solenidade de lançamento do plano.
“Nós estamos preocupados com a Amazônia porque na Amazônia, hoje — são quase 5 milhões de quilômetros quadrados de Amazônia, uma coisa de uma imensidão, maior que toda a Europa [ocidental] junta — e é lá que está sendo fomentado o crime organizado, o narcotráfico e tudo que é ilícito. E aí precisamos trabalhar junto com governadores dos Estados, redefinir o papel das Forças Armadas, para que todo mundo tenha compromisso e evitar que seja na selva brasileira, tão almejada para ser preservada pelo mundo inteiro, que acontece parte da violência, como aconteceu com os índios yanomami em Roraima”, disse Lula.
No governo passado, o Exército gastou R$ 550 milhões em operações de garantia da lei e da ordem na floresta, mas o desmatamento aumentou 60% e o crime organizado prosperou. A violência foi facilitada pelo descontrole deliberado das armas de fogo, algo que o pacote desta semana também busca mitigar.
“Embora o ideal fosse que essas bases fossem implementadas juntamente com os órgãos ambientais, o plano vai na direção certa: aumentar a presença do Estado na Amazônia”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “O que as ONGs querem e a região precisa é mais controle e mais lei e ordem. Paradoxalmente, quando os militares estiveram no poder, recentemente, prometendo tolerância zero com os ilícitos, o que vimos foi a farra do crime organizado.”
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