O Brasil, reconhecido como um país megadiverso, abriga entre 10 e 20% do número de espécies conhecidas pela ciência e cerca de 30% das florestas tropicais no mundo. Embora ocupem menos de 7% da superfície da Terra, essas florestas detêm mais da metade das espécies conhecidas da fauna e flora global. Apesar da extraordinária riqueza biológica, os países que abrigam as florestas tropicais do planeta ainda enfrentam grandes desafios para conservá-las, sendo que os principais fatores que ameaçam a biodiversidade são a redução de hábitat disponível para as espécies e a fragmentação.
O processo de fragmentação ocorre quando a floresta, ou outros ambientes naturais, vão sendo reduzidos, principalmente por ações humanas (tais como desmatamento, queimadas, construção de estradas e expansão agropecuária) e os remanescentes vão se tornando “ilhas” isoladas e, muitas vezes, de tamanho reduzido. Com o tempo, essas áreas remanescentes podem sofrer diversos impactos negativos decorrentes da fragmentação e do isolamento, incluindo a extinção das espécies que necessitam de áreas extensas para sobreviverem. Diante dessa constatação, os esforços para conservação da biodiversidade foram direcionados para regiões maiores, com grandes remanescentes de habitats conectados. Vários modelos de planejamento ambiental buscam aumentar a conectividade da paisagem, ou seja, criar ligações entre os fragmentos remanescentes de florestas e outros tipos de vegetação nativa, para ampliar as chances de sobrevivências das espécies – entre eles os Corredores Ecológicos ou de Biodiversidade, os Mosaicos de Unidades de Conservação e Outras áreas Protegidas e as Reservas da Biosfera.
Apesar das diferentes abordagens e modelos de governança, esses modelos, de uma maneira geral, seguem estratégias semelhantes para ampliação da conectividade: incentivo à criação de reservas naturais; fortalecimento das unidades de conservação existentes; regeneração e recuperação de áreas degradadas; identificação de instrumentos financeiros de apoio à conservação e mobilização e participação social em prol da conservação. Para todos esses modelos, as trilhas de longo curso podem ser grandes aliadas na busca de uma mudança de comportamento mais favorável à conservação e para implantar um turismo mais sustentável, voltado para natureza. O potencial das trilhas está não só na geração de renda, mas como agente transformador de corações e mentes, moldando uma nova geração de conservacionistas no pais por meio do “conhecer para conservar”.
A Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso foi criada há cerca de um ano com o objetivo de ligar todas as unidades de conservação, e outras áreas relevantes para a conservação no Brasil, por meio de trilhas situadas dentro de corredores vegetados. A ideia é que, além do caráter recreativo e de bem-estar, essas trilhas também sirvam como conectores da paisagem. A Rede congrega representantes de diferentes trilhas de longo curso existentes e planejadas para o país, a exemplo da Trilha Transcarioca, primeira trilha de caminhada de longo curso do Brasil, inaugurada em 2017. Os três pilares básicos da Rede são: 1) conservação; 2) recreação e saúde e, 3) geração de emprego e renda.
Para apoiar a Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso na discussão de temas relacionados à pesquisa nos diferentes campos do conhecimento envolvidos na implantação das trilhas, em julho de 2020 foi criado um GT de Pesquisa com 18 pesquisadores voluntários das áreas da Gestão ambiental, Turismo, Economia, Biodiversidade, Ecologia, Restauração Florestal, Geologia, Geodiversidade e Geografia.
O GT de Pesquisa irá colaborar com a produção e disseminação de conhecimentos e boas práticas relacionadas às trilhas de longo curso no Brasil, indicando e divulgando as pesquisas prioritárias a serem realizadas nas áreas percorridas pelas trilhas de longo curso para, por exemplo: avaliar a funcionalidade das trilhas (para quais grupos de animais ou plantas as trilhas estão cumprindo o seu papel de corredor) e quais medidas de recuperação devem ser adotadas para favorecer o seu papel de conector da paisagem; desenvolver critérios para medir os impactos da visitação nos trechos mais visitados e sugerir melhores traçados para as trilhas; desenvolver instrumentos econômicos de apoio aos mantenedores das trilhas; investigar o potencial econômico das trilhas de longo curso (p. ex. serviço de guias, transporte de bagagens, logística de acesso, pernoites, venda de equipamentos, alimentação, venda de produtos regionais ou locais, etc) e desenvolver indicadores para avaliar se as parcerias estão atendendo as necessidades do recurso natural, do proprietário da terra e do público visitante. As possibilidades de pesquisas são muitas, identificá-las para divulgação da demanda, ou promoção de parcerias para execução, irá ajudar a fortalecer o sistema de rede de trilhas no pais e o próprio SNUC, do qual é ferramenta, hoje muito aquém de todo o seu potencial.
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O post “Pesquisadores se unem para dar um rumo às trilhas do Brasil” foi publicado em 14th July 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco