O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) divulgou essa semana (11) que peixes e lagostas provenientes de áreas atingidas pelo vazamento de óleo nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte estão próprios para consumo, com base em uma análise feita pelo Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais da PUC/RJ. Contudo, o coordenador do laboratório, Renato Carreira, nega a afirmação de que não há riscos.
“Nós fomos contactados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) do MAPA sobre suporte em análise de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). O SIF ficou responsável por coletar amostras em indústrias de pescado controladas pelo órgão, e nos enviar para análise. Discutimos protocolo de acondicionamento das amostras e envio, para evitar contaminação. Nosso protocolo permite identificação e quantificação de 37 HPAs, entre 2 e 6 anéis. No laudo indicamos quais compostos ocorreram”, explicou Carreira sobre o estudo e metodologia de amostragem.
“O problema é que o laudo é para um número pequeno de amostras. Precisa aumentar a abrangência das áreas de coleta e incluir outros tipos de pescaria, como outros peixes e crustáceos e moluscos. A coleta deve considerar os hábitos de consumo, os quais não conheço em detalhe para o NE”, justificou o pesquisador, sobre a possibilidade ou não de consumo do pescado.
Carreira explica que a indicação de ‘‘níveis seguros” depende da metodologia utilizada para a análise de risco. “No nosso laudo, consideramos o método adotado pela NOAA [National Oceanic and Atmospheric Administration ou Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, em português, agência dos Estados Unidos da América dedicada à conservar e gerenciar ecossistemas e recursos costeiros e marinhos] no caso do DH [Deepwater Horizon, plataforma operada pela empresa petrolífera BP] no Golfo do México, em 2010 [a explosão da plataforma provocou a morte de 11 trabalhadores e derramou milhões de barris de petróleo], e que é detalhado em um artigo de 2019 (está citado no laudo). Nesse artigo, há uma tabela que mostra que já foram adotados diferentes ‘níveis seguros’ em diferentes acidentes ao redor do mundo. Um outro lado dessa história é a necessidade de se estabelecer no país quais são os níveis seguros de HPAs – e outros contaminantes orgânicos – em pescados comercializados na região, seguindo uma metodologia de análise de risco específica para as condições/características de consumo em cada estado. Temos que pensar em ações de acompanhar a concentração desses contaminantes no médio e longo prazos”.
Quando questionado sobre a necessidade de levar em conta fatores como a bioacumulação (processo no qual os seres vivos absorvem contaminantes no organismo e os concentram ao longo da cadeia alimentar), o pesquisador afirma que diversos fatores devem ser considerados. “No caso da bioacumulação, sabemos que peixes têm pouca tendência a bioacumular HPAs. Mas isso depende da espécie considerada. Peixes detritívoros de hábitos costeiros são motivo de maior preocupação. Moluscos e crustáceos, idem. Portanto, deve haver um planejamento estratégico de coleta para garantir a representatividade dos pescados que são consumidos pela população. Um exemplo é a ação que participamos em conjunto com a UFPE e o Estado de Pernambuco, para fazer um acompanhamento da concentração de HPAs em diferentes peixes, crustáceos e moluscos”.
Ao explicar sobre a necessidade de considerar a variação na quantidade de óleo entre os locais contaminados, Carreira diz que “com certeza há áreas muito mais impactadas do que outras, por isso é importante um programa em escala regional, com mapeamento das áreas de maior preocupação, para que seja feito um acompanhamento de curto, médio e longo prazos. Acho que os Estados têm um papel fundamental nesse acompanhamento”.
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