Na 5ª edição do lançamento da plataforma Empresas com Refugiados, 60 pessoas se reuniram no espaço da WeWork no Rio de Janeiro para apresentar boas práticas de contratação, sensibilização e atuação em rede. O evento foi realizado no início de novembro pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global.
Empresas como Sodexo, Fundação Banco do Brasil, Posto LoveStory e Rede Globo apresentaram suas iniciativas de capacitação profissional, contratação e sensibilização sobre a causa do refúgio, enquanto o Exército falou sobre o trabalho da Operação Acolhida em Roraima e Amazonas.
O Oficial de Meios de Vida do ACNUR, Paulo Sergio de Almeida, reforçou que a chegada de estrangeiros representa a possibilidade de crescimento econômico e desenvolvimento social para o país de acolhida, e que a atuação integrada de diversos atores é chave para que este processo aconteça de forma sustentável.
“Hoje temos 189 mil solicitantes de refúgio Brasil, que juntamente com o número de refugiados já reconhecidos e outros imigrantes não ultrapassa 0,5% da população brasileira, enquanto a média global é de 3%. Isso é muito menos do que em alguns dos países que nos cercam, como é o caso da Colômbia, que já recebeu mais de um milhão de venezuelanos”, afirmou Paulo Sergio. “No Brasil, sai mais gente do que entra, já há alguns anos.”
“Somos trabalhadores, temos muitas contribuições para dar. Não queremos só receber assistência, e sim mostrar que temos mãos, mente e coragem para trabalhar, como fazíamos no nosso país”, afirmou a venezelana Victoria Velasquez, de 58 anos. Professora de espanhol na Venezuela, a refugiada veio direto para o Rio de Janeiro com a filha e a neta com o dinheiro enviado pelo outro filho, estabelecido no Brasil há dois anos e atualmente cursando doutorado em história na PUC-Rio.
“Mas não tivemos outra opção senão vir para cá. Minha filha infelizmente possui insuficiência renal e precisa fazer hemodiálise três vezes por semana, tratamento que aqui conseguimos realizar”, afirmou Victoria. “O que me move é que há esperança de viver melhor”, disse a venezuelana.
Pesquisa recente lançada pelo ACNUR – Perfil Socioeconômico de Refugiados no Brasil – aponta que 93% das pessoas querem obter a nacionalidade brasileira. “Isso significa que as pessoas querem se integrar neste país,” destacou Paulo Sergio. “O grande desafio é que o índice de desemprego desta população é bastante superior à da brasileira, em torno de 20%. Além disso, a maioria das pessoas (80%) recebe de um a dois salários mínimos, o que gera desafios adicionais de acesso a moradia e qualidade de vida”, concluiu.
Para Gabriela Almeida, assessora de Direitos Humanos da Rede Pacto Global, a absorção de venezuelanos na região provoca engajamento dos funcionários, melhoras na produtividade e dinamismo do ambiente de trabalho.
“Desde o início da interiorização, conseguimos 63 vagas de trabalho formal. Isso significa que quase o triplo de pessoas são beneficiadas, pois cada uma dessas vagas ajuda no desenvolvimento de um núcleo familiar diferente”, informou o coordenador das Aldeias Infantis SOS no Rio, Marcos Gazal Peres, que recebe refugiados.
Desde 2018, a Rede Globo tem atuado no tema, com campanhas publicitárias e até uma novela inteiramente sobre refugiados. “Fomos procurados pelo ACNUR, que nos disse: vocês precisam nos ajudar a contar para o brasileiro quem é um refugiado. E nós topamos o desafio. Porque existe uma traição semântica nessa palavra”, destacou a diretora de responsabilidade social, Ana Paula Brasil.
“As pessoas pensam que refugiados são fugitivos. Começamos com uma campanha publicitária, ‘Tudo Começa pelo Respeito’ e depois tivemos a coincidência feliz que foi a novela Órfãos da Terra, e seguimos todo este tempo trabalhando de forma integrativa sobre o tema em diversas plataformas”, informou Ana Paula.
Durante o evento, ela destacou outras iniciativas da emissora, como o lançamento do Caderno Globo ‘deslocamentos e refúgios’, falas de refugiados no REP (Repercutindo Histórias Inspiradoras) e, mais recentemente, a contratação de venezuelanos como atores da série Segunda Chamada.
O dono do posto de combustível LoveStory, Francisco Fernandes, relatou o impacto positivo da contratação de venezuelanos. “Quando o cliente percebe que está sendo atendido por alguém de outro país, normalmente a reação dele é de ficar feliz. Isso chama a atenção dele, gera conversa, curiosidade, é algo que marca. A experiência que eu estou tendo é ótima, porque as pessoas são ótimas”, contou.
Também participaram do evento representantes da Organização Internacional para Migrações (OIM), da Secretaria de Desenvolvimento e Direitos Humanos do Eestado do Rio de Janeiro e da Caritas Arquidiocesana.
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