Hoje faz uma semana que um adolescente de 13 anos matou a facadas a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, feriu outras três professoras e um aluno na escola estadual Thomázia Montoro, em SP, e foi apreendido. Foi pelo menos o décimo ataque em escolas brasileiras nos últimos nove meses.
Em depoimento à polícia, o adolescente disse que não gostava do pai , que o pai batia nele com cinta e que também era agressivo com a mãe, e que pensou em matá-lo quando tinha onze anos. Mas alegou que não foi isso que o levou a cometer o atentado, e sim o bullying que dizia sofrer por sua aparência. Segundo ele, era chamado de “rato de esgoto” por alguns colegas. Ele já planejava o ataque havia dois anos, inspirado em Columbine.
No dia 7 de fevereiro, ele enviou a seguinte mensagem pelo WhatsApp a um colega: “Vc vai morrer. Vc tá fudido. Vou matar vc e sua mãe fdp”. A mãe do menino ameaçado (de 12 anos) viu a mensagem uma semana depois e escreveu: “Vou na escola hj mostrar o tipo de conversa que vc tem com as pessoas. Aqui ninguém tem medo de vc não”. Três minutos depois, o adolescente pediu desculpas, disse que era só brincadeira, e implorou para que ela não contasse: “vc não conhece meus pais”. A mãe fez a coisa certa: foi à escola e denunciou a ameaça.
Até o início de março, o adolescente estudava em outro colégio, na escola Estadual José Roberto Pacheco. Um mês antes do atentado, os pais do garoto foram chamados para conversar sobre o comportamento suspeito do filho. Além da ameaça de morte a um outro aluno, ele já pedido a uma aluna um isqueiro e gasolina, mostrado a colegas imagens suas portando armas de fogo, e elogiado outros massacres. Toda essa comunicação com os pais foi registrada em ata. Ou seja, eles sabiam que o filho tinha “interesse em realizar uma chacina”. O pai agiu com indiferença, disse que estava tudo normal e que a arma era dele.
A vice-diretora da escola mostrou à Polícia Civil não só a ata da reunião com os pais, mas também o boletim de ocorrência que registrou. Ela repassou o que sabia ao Ministério Público, que não fez o que deveria a tempo. A promotoria só apresentou o pedido de internação compulsória um mês depois do boletim de ocorrência.
Ao que me parece, a escola agiu muito corretamente: pediu que os pais levassem o adolescente para um exame no Capsi (Centro de Atenção Psicossocial Infantil) para ver se ele teria condições psiquiátricas de seguir no colégio. Os pais apresentaram somente um laudo preliminar, e a escola recusou que o garoto continuasse a frequentar as aulas. No dia 1o de março, os pais então transferiram o filho para a escola Thomázia Montoro. No dia 27 de março, ele cometeu o atentado lá.
A polícia já ouviu quarenta pessoas, entre elas um aluno que conversou com o adolescente no banheiro antes das facadas (o menor negou qualquer participação), e outro que pode ter instigado o assassino nas redes sociais. Ainda há bastante para se desvendar, mas eu fico imaginando a reação de todo mundo que havia alertado sobre o comportamento perigoso do adolescente. Não há dúvida que ele deu sinais claros do que iria fazer.
Mais duas notinhas relacionadas: Há seis meses houve um ataque à uma escola em Barreiras, BA. Uma aluna cadeirante de 19 anos foi morta a tiros e facadas por um adolescente de 14 anos, frequentador de fóruns de ódio, que tinha pegado a arma do pai, que é policial. Uma coisa que eu ainda não sabia: o adolescente ficou tetraplégico .
A mãe do jovem de 18 anos que em agosto do ano passado tentou realizar um massacre em Vitória, ES (felizmente ele foi impedido e hoje está preso) deu uma entrevista dizendo: “Não sei como comunidades na internet capturam e seduzem esses jovens, mas parece que pescam mesmo essas possíveis vítimas para poderem fazer de soldado deles”. Essa mãe não desconfiou de sinais bastante evidentes de que o filho pode estar radicalizado, como pedir livro para “entender a mente de Hitler”, querer vestir capa preta e coturno, se interessar por armas de fogo, não demonstrar mais afeto, idolatrar atiradores de massacres, e frequentar comunidades de ódio na internet. De novo, algo que repito há anos: pais, vocês precisam saber o que seus filhos fazem na internet e conversar com eles.
O post “O QUE MAIS SE SABE SOBRE O ATENTADO NA ESCOLA” foi publicado em 3rd April 2023 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva