Para definir o que é um zoológico (ou jardim zoológico), não é preciso ir muito longe: a resposta está na própria palavra. O termo zoológico vem da combinação das palavras gregas zôion (“animal”), logía (”estudo”) e oikos (“casa”), que podemos entender como “local para estudo de animais”. Mas seu objetivo, o que o zoológico faz, é algo mais abrangente. No século 21, ele assume as funções de pólo de entretenimento, pólo de educação ambiental, local responsável pelo salvamento e proteção de espécies. Ali se reúnem profissionais especializados, como veterinários, biólogos e zootecnistas, que cuidam da alimentação, da ambientação dos recintos, da saúde mental e física dos animais, entre muitas outras atividades.
Nem sempre foi assim. Na maior parte da história da humanidade, abrigar animais selvagens era um privilégio de nobres e reis que os mantinham como coleções privadas. O zoológico mais antigo de que se tem notícia estaria localizado em Hierakonpolis, no Egito. Escavações apontam que em 3500 AC, o local abrigou um zoológico com cerca de 113 animais, incluindo babuínos, elefantes e até um filhote de hipopótamo. Há 2000 anos AC, imperadores da dinastia Xia chinesa mantinham coleções de animais. Mais tarde, governantes assírios possuíam crocodilos, e os astecas, aves de rapina. Na Itália do século XIV, os príncipes da dinastia Médici admiravam animais exóticos em seus parques, assim como Luís XIV, na França do século XVII. Em 1752, o imperador Francisco I fundou o mais antigo jardim zoológico que ainda existe, o Zoológico de Schönbrunn, em Viena, Áustria.
Críticos dos zoológicos questionam a moralidade da sua existência sob o argumento de que seriam prisões de animais, onde os bichos viveriam em condições degradantes. Ainda mantêm a visão de que zoológicos são coleções de animais para entretenimento humano. Entretanto, há tempos, zoológicos evoluíram e deixaram para trás esses aspectos. Hoje, a conservação da biodiversidade deve ser a missão que norteia estes espaços: devem proporcionar bem-estar aos animais, educação para conservação da fauna, pesquisa e, além disso, lazer e contemplação da natureza.
“A sociedade hoje não reconhece um zoológico que não faz pesquisa e conservação de fauna. É uma demanda porque a fauna precisa e é uma demanda porque a sociedade demanda. O fim do zoológico era a exposição há décadas, hoje a atividade fim do zoológico é pesquisa e conservação. A exposição é um meio. Um meio para promover educação ambiental, pra gente manter a reprodução dos animais em cativeiro, é um meio para gente ter recursos para investir em conservação, não é o fim”, destaca o veterinário Caio Motta, coordenador do Núcleo de Atividades In Situ (NAIS) do Zoo de São Paulo, em uma matéria ao ((o))eco .
Objetivos
Além do lazer, zoológicos e aquários devem ter como pilares de ação a educação ambiental, a pesquisa e a conservação.
- Educação Ambiental: Os zoológicos proporcionam o contato do público com animais que nunca veriam na natureza. Visitas a estes espaços podem aprofundar a compreensão e permitir que as pessoas ajam de maneiras novas e positivas para salvar a biodiversidade e proteger o meio ambiente. A missão dos educadores em instituições zoológicas deve ir além da informação sobre as espécies na instituição e da conscientização, promovendo também comportamentos em prol da conservação.
- Pesquisa: Os zoológicos e aquários oferecem uma oportunidade única para aumentar a compreensão das espécies selvagens, suas necessidades ambientais e sua capacidade de adaptação. Isto pode preencher uma lacuna importante no conhecimento que não pode ser adquirido a partir de populações selvagens por causa do comportamento animal, de ambientes inacessíveis, do acesso limitado, dos custos de estudar um grande número de indivíduos e a probabilidade de o próprio estudo impactar os animais que estão sendo observados.
- Conservação: Não há dúvidas que a maior ameaça às espécies da fauna mundial é perda de seus habitats naturais. Dada a impossibilidade de vida na natureza em razão da devastação de ecossistemas, a manutenção de indivíduos em cativeiro é forma de evitar a completa extinção da espécie. Existem inúmeros e bem documentados exemplos de espécies extintas na natureza que foram recuperadas graças ao trabalho de reprodução em cativeiro feito por zoológicos. Alguns casos notáveis são o condor da Califórnia (Estados Unidos), o cavalo de Przewalski (Mongólia), o furão-de-patas negras (Estados Unidos) e o mico-leão dourado (Brasil): são bons exemplos de como o trabalho cooperativo entre zoos possibilitou reintroduções e melhoria do status de conservação da espécie.
Zoológicos no Brasil
No Brasil, os fins da educação e da pesquisa estiveram no cerne dos zoológicos desde a lei nº 7.173, de 1983 pela qual “considera-se jardim zoológico qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semi-liberdade e expostos à visitação pública” para “atender a finalidades sócio-culturais e objetivos científicos”. As atualizações à lei trazidas pela Instrução Normativa IBAMA nº 07, de 2015 , e pela Resolução CONAMA nº 498, de 2018 reforçam o papel de conservação da fauna que zoológicos devem exercer.
Jardins zoológicos (e aquários) podem nascer por iniciativa do Estado (governo federal, estadual ou municipal) ou por iniciativa privada, mediante autorização de instalação do IBAMA . O Instituto é órgão responsável pelo registro e pela fiscalização desses empreendimentos, com apoio dos órgãos ambientais locais. O empreendedor interessado em ter seu zoológico deve se inscrever no Cadastro Técnico Federal (CTF), registro obrigatório para todos que realizam atividades passíveis de controle ambiental. A partir daí, o processo de obtenção da autorização passa para o Sistema Nacional de Gestão da Fauna Silvestre (Sisfauna), onde o empreendedor apresentará o projeto do zoológico e obterá licenças ambientais e autorizações pertinentes. (O passo-a-passo pode ser encontrado aqui. )
Uma vez autorizado, o empreendimento se juntará aos outros 84 zoológicos brasileiros, como o Bosque da Ciência (AM) , o Mangal das Garças (PA) , o Zoo de Brasília (DF) , o BioParque do Rio (antigo RioZoo) (RJ), a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte (MG) e o GramadoZoo (RS) . O novo zoológico também poderá se filiar à Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB, antiga Sociedade de Zoológicos do Brasil), a organização tem a missão de integrar os zoológicos e aquários brasileiros, contribuindo para o seu desenvolvimento e os inserindo na comunidade internacional.
A AZAB mantém um trabalho de intercâmbio e cooperação com associações zoológicas no exterior como a Associação Latino-americana de Parques Zoológicos e Aquários (ALPZA) , Associação Americana de Zoológicos e Aquários (AZA), Associação Europeia de Zoológicos e Aquários (EAZA) , Associação Mundial de Zoológicos e Aquários (WAZA) , Zoo Conservation and Outreach Group (ZCOG) e Species 360 . Além disso, a AZAB fornece aos associados apoio técnico, inclusive com a realização de cursos, workshops, simpósios, congressos e outros eventos para qualificação.
Fontes
- Legislação | Lei 7173, de 1983
- Wikipédia | Jardim Zoológico
- Super Interessante | Afinal, os zoológicos são bons ou ruins?
- DW | Zoológicos desempenham papel importante na preservação de espécies
- Gazeta do Povo | A evolução do zoológico: da exibição de animais a espaços de pesquisa e conservação
- ((o))eco | Reportagem: Em risco de ser extinta, Fundação Zoo SP tem papel importante para conservação
- WAZA | Relatório: Comprometendo-se com a conservação
- Ministério do Turismo | Turismo pelos zoológicos do Brasil
- AZAB | Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil
Como fazer referência a este artigo: O que faz um Zoológico. Dicionário Ambiental. ((o))eco, Rio de Janeiro, out. 2020. Disponível em: < https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/o-que-faz-um-zoologico/>. Acesso em: XX (dia) xxx. (mês) XXXX (ano). |
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O post “O que faz um Zoológico” foi publicado em 29th October 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco