Boa parte dos brasileiros está sorrindo de orelha a orelha e torcendo para que agosto ganhe seu primeiro feriado nacional, decretado quando o pior presidente de todos os tempos for finalmente preso.
Parece que falta pouco. A operação da Polícia Federal na sexta foi ironicamente intitulada Lucas 12:2, referência a um versículo bíblico que atesta que “não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”. Houve busca e apreensão na casa de assessores de Bolso para descobrir como eles venderam (e depois recompraram) joias e relógios recebidos (e não declarados) pelo ex-presidente.
Agora a gente sabe que, no dia 30 de dezembro de 2022, quando Bolso fugiu do Brasil para não ter que entregar a faixa a Lula, e também para se afastar do local em que haveria uma tentativa de golpe de Estado uma semana depois, o objetivo principal da viagem no avião presidencial era levar as joias para a Flórida. É sério! Ele carregou itens roubados que iria transformar em dinheiro vivo (sua especialidade). É algo típico de república das bananas, né?
Até no dia 30 de dezembro, poucas horas antes de Bolso deixar o país, Mauro Cid tentou recuperar as joias confiscadas pela Receita no aeroporto em 2021 (lembram das fake news de que foi presente de um príncipe saudita que se apaixonou por Micheque? Ha ha, nada como romantizar o crime!). Bolso tentou de todos os jeitos reaver as joias (há pelo menos
oito registros disso ). Não conseguiu. Felizmente, os servidores públicos concursados bateram o pé, e não liberaram. Restou à quadrilha fugir com o que tinham — que não era pouco.
Tudo isso faz o Brasil pensar sobre outros casos famosos que ocorreram no último governo, como um avião da FAB ter sido pego traficando 39 quilos de cocaína. Ou a inauguração de uma embaixada brasileira em Bahrein (Dudu Bananinha foi correndo pra lá. Aqui tem
um excelente fio falando do comércio de ouro ilegal). Aliás, o avião presidencial de 30 de dezembro fez uma parada em Roraima. Pra quê?
Está claro que diplomacia e comércio exterior, pra Bolso e sua quadrilha, serviram de meros disfarces para o que realmente importava:
vantagens pessoais . Nenhuma surpresa. Bolso e seus filhos viveram disso por décadas. Entraram na política unicamente pra enriquecer ilegalmente.
Como pontua Jamil Chade, “Em quatro anos, Bolsonaro e seus ministros destruíram a reputação do Brasil no exterior, retiraram o país da mesa das grandes negociações e transformaram-se em párias. Se de um lado o bolsonarismo usou a estrutura profissional do Itamaraty para atender ao movimento de extrema direita no mundo e promover uma guinada na política externa, sem qualquer base no interesse nacional, as revelações sobre o destino dado por presentes oficiais de outros governos mostram que a percepção do clã Bolsonaro era que o interesse privado prevalecia sobre o país”.
Por coincidência, semana passada no Paquistão o ex-primeiro ministro foi preso e condenado a três anos de prisão por não declarar corretamente os presentes que ganhou quando estava no poder. Porque, óbvio, os presentes não pertencem ao chefe, pertencem ao país. Eu, que sou servidora pública, sei muito bem que as cadeiras e o computador no escritório que ocupo na universidade não são meus. Sei que, quando eu me aposentar, não posso levá-los comigo. Aliás, o gabinete tampouco é meu. Eu só estou lá no momento. Depois, será ocupado por outro docente, que também será responsável pelos objetos lá dentro.
Uma das coisas mais bacanas pra se visitar em museus de todo o mundo é a ala de presentes. Lá são expostos, pra todos os cidadãos verem, o que, sei lá, a Nigéria deu à China na visita de não sei quando. Geralmente são centenas de objetos valiosos ou típicos da região. Evidentemente, eles fazem parte do patrimônio do país, não do chefe que o recebeu. Bolso e sua quadrilha sabiam muito bem disso.
A troca de presentes entre chefes de Estado é comum, mas quem recebe é o representante de um país, não uma pessoa física. O presidente só pode ficar com o presente para si se ele for um item personalíssimo (tipo comida, boné, camiseta) de baixo valor. Segundo a lei, “os acervos documentais privados dos presidentes da República integram o patrimônio cultural e são declarados de interesse público […] e não podem ser alienados ao exterior”.
Depois de um longo silêncio sem reação, bolsominions lançaram as mentiras de costume: que as joias que Bolso surrupiou valiam 400 reais, que Lula e Dilma também ficaram com presentes (a lei mudou em 2016, mas, além disso, são casos totalmente diferentes , como mostra esse fio), que Jair é o Messias, então merece ser tratado à base de ouro.
É de se pensar por que os ditadores da Arábia Saudita gostavam tanto de Bolsonaro a ponto de cobri-lo de joias, diamantes, e relógios caríssimos. Não pode ser só a ideologia misógina que os une. Pode muito bem ser pagamento de propina. Bolso vendeu uma refinaria pra eles por mixaria, e eles retribuíram a gentileza. O que mais ainda não sabemos? Qualquer pessoa de bom senso percebe que esse escândalo das joias deve ser apenas a pontinha do iceberg. Imaginem tudo que iria ficar escondido caso Bolso tivesse sido reeleito. Imaginem quanto mais ele e seu grupo miliciano iriam roubar.
Quem ainda tinha uma boa imagem das Forças Armadas deveria rever seus conceitos. Praticamente todos os assessores de Bolso que participaram dessa pouca vergonha são milicos. Como bem disse o comentarista de política da GloboNews
Octavio Guedes , “Uma joia trazida por um almirante, transportada por um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e negociada por um general. Provavelmente a maior operação militar desde a guerra da Cisplatina” (de 1825).
Caiu na net que o slogan das Forças Armadas já foi trocado para “braço forte, mão leve” ou “muamba forte, preço amigo”.
Muita gente se lembrou o que declarou o general-múmia Augusto Heleno, ministro de Bolso, sobre Lula: “Um presidente da República desonesto tinha que tomar uma prisão perpétua. Isso é um deboche com a sociedade. Um presidente da República desonesto destrói o conceito do país”.
E a situação do pior presidente da história só piora… É que a Polícia Federal está compartilhando todas as informações da investigação com o FBI, já que o contrabando e lavação de dinheiro da famílicia aconteceu lá também. FBI também irá investigar os muitos crimes de Bolso.
“A constatação do golpismo, da venda de joias, a falsificação de certificados de vacina, do embaraço à votação no 2º turno e do uso da Caixa para pagar o consignado do auxílio Brasil na véspera da eleição apontam para a mesma direção: o ex-presidente Bolsonaro e seus assessores”. Quem diz isso
é o Estadão , aquele do editorial infame da “escolha muito difícil”.
Eu fico pensando em quantos dos 17 milhões que Bolso diz ter arrecadado com pix de seguidores é lavagem de dinheiro. Assim como o advogado Wassef lembra o picareta de Better Call Saul, a tal vaquinha me fez recordar Breaking Bad, quando o filho de Walter White abre um fundo na internet que passa a servir para lavar parte da grana que o pai ganha com drogas.
Tá chegando a hora de Bolso ir pra Papuda. E é hora de rever o que um milico, Lawand, escreveu para Cid em novembro: “Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele [Bolsonaro] dê a ordem [pro golpe de Estado]. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara [os generais] não cumprirem a ordem. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso”.
Hoje sabemos que Bolso estava mais preocupado em vender e embolsar a grana das joias do que em permanecer no poder. Tic tac, tic tac…