Belenenses
Enfim um drama
Quando a COP30 começou na segunda-feira sem guerra entre os países para enfiar assuntos novos na agenda, muita gente estranhou a calmaria. O Brasil conseguiu que os brigões deixassem quatro temas conflituosos de negociação para serem tratados em conversas separadas nos três primeiros dias de COP, esperando um encaminhamento na quarta-feira (12). As consultas estavam indo bem, até que não foram mais: as divisões de sempre entre países desenvolvidos e em desenvolvimento apareceram e, na tarde de quarta-feira, o presidente André Corrêa do Lago convocou o que ele chamou de “a plenária mais curta da história da UNFCCC” somente para dizer aos países que as consultas sobre esses itens continuarão até sábado.
Mecanismo de transição justa recebe primeiro apoio…
O Mecanismo de Ação de Belém para uma Transição Justa (BAM, na sigla em inglês), ideia lançada nesta COP por vários grupos da sociedade civil, recebeu apoio do G77, o bloco composto por 134 países em desenvolvimento mais a China. O BAM se propõe a ser um mecanismo de coordenação internacional, alinhado com o Acordo de Paris, para a formulação dos critérios da transição justa. Algo como a criação de uma moeda comum da transição, para que ela siga uma lógica parecida em diferentes locais, sem aprofundar as desigualdades. Pelo apoio, o G77 ganhou das ONGs o prêmio Raio do Dia, para os países que mais ajudam na negociação (e que não é dado todo dia).
…e a primeira bordoada
Na quarta-feira, o Reino Unido levou o primeiro antiprêmio Fóssil do Dia, concedido aos países que mais atrapalham a negociação. A láurea é dada pela CAN (Climate Action Network), uma rede de 2.000 organizações de 130 países. Os britânicos disseram não ver “necessidade” de um mecanismo institucional para coordenar os esforços de transição justa. A resistência britânica segue a cartilha dos países ricos, que não querem saber de ver nenhuma instituição nova criada debaixo da UNFCCC para não terem que botar dinheiro nela.
África tenta adiar indicadores de adaptação
A ideia inicial era que os países saíssem dessa COP com uma lista de cem indicadores que seriam usados como critério de financiamento para as políticas de adaptação. Em reunião do GGA, o Mecanismo Global de Adaptação, ocorrida na terça, países africanos sugeriram que o número de indicadores seja reduzido a cerca de 20, e que a decisão seja adiada para a COP32, em 2027, provavelmente na Etiópia. O medo é que uma lista tão ampla de indicadores acabe por atrapalhar o financiamento para países em desenvolvimento, que poderão ter dificuldades em atender a todos os critérios. O Aosis, grupo de países insulares, sugeriu que os indicadores não devem se tornar condição sine qua non para acessar o financiamento. A razão é a mesma, ainda mais tendo em vista a limitação de um país como Tuvalu, cuja população não ultrapassa 10 mil pessoas. Um novo texto foi colocado na mesa na tarde de quarta-feira, com opções a serem negociadas nos próximos dias.
Brasil reforça segurança na COP após invasão
Depois que uma passeata por clima e saúde, na terça-feira (11) à noite, terminou com um grupo dissidente invadindo a sede da COP e entrando em confronto com os seguranças, o governo brasileiro resolveu reforçar o policiamento na frente da Zona Azul. Uma dezena de carros da Força Nacional, da PF e da PM do Pará guardavam a entrada e a rua que dá acesso ao prédio, e soldados armados montavam guarda para evitar problemas. Após três COPs em ditaduras onde o direito a manifestação não existe, a UNFCCC desacostumou.
Barqueata reúne 5 mil pessoas e 200 embarcações
A Cúpula dos Povos começou em Belém com uma barqueata que navegou pelo Rio Guamá com cerca de 5 mil pessoas e 200 embarcações. Saindo da Universidade Federal do Pará (UFPA) e outros portos, a travessia percorreu 7 milhas náuticas com mensagens por justiça climática, por uma transição energética justa, em defesa da Amazônia, dos povos tradicionais e seus territórios. O “ato político sobre as águas”, como foi chamado pela organização, recebeu as delegações que participam das atividades da cúpula até o próximo dia 16 na capital paraense.
O gap de ar-condicionado
O prédio que abriga a Zona Azul de Belém até ficou pronto, mas o sistema de refrigeração não dá conta do inferno quente e úmido de novembro na Amazônia. O resultado é que os frequentadores da COP vivem permanentemente molhados de suor, e os pavilhões dos países, onde o ar-condicionado simplesmente não chega durante o dia, são um lembrete permanente do aquecimento global; visitantes precisam apelar para leques enquanto tentam assistir a eventos. Além do gap de ambição, do gap de adaptação e do gap de financiamento climático, a COP precisa lidar com o gap de conforto térmico.
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O post “Notas mais ou menos aleatórias da COP30 (dia 3)” foi publicado em 12/11/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima
