PRESS RELEASE
Às vésperas de hospedar a COP30 em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou menos de três minutos dos mais de 18 de seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (23) à crise do clima. A culpa é menos de Lula do que do mundo: era esperado que o brasileiro tratasse de múltiplas crises, do tarifaço americano à ascensão da extrema-direita, da defesa da soberania à regulação das plataformas digitais, do naufrágio do multilateralismo nos 80 anos das Nações Unidas às execuções extrajudiciais promovidas pelos EUA no litoral da Venezuela ao genocídio em Gaza.
Lula fez tudo isso – inclusive chamando pelo nome o que Israel está fazendo na Palestina – numa fala à esquerda, empoderada pelos atos contra a anistia do fim de semana e recheada de recados ao anfitrião do encontro, Donald “Excelente Química” Trump.
O presidente foi correto, não mais do que isso, ao tratar de clima: cobrou as NDCs, as metas dos países, que deverão ser apresentadas amanhã (24) num evento co-organizado por ele e por António Guterres; ressaltou a NDC do Brasil e os bons resultados no combate ao desmatamento; e voltou a falar da criação de um Conselho de Mudança Climática na ONU, uma proposta com a qual o Brasil vinha flertando e da qual deixou de falar há alguns meses após críticas de que isso só aumentava a confusão em torno da estratégia brasileira de condução da COP.
Embora haja zero clareza sobre como o tal conselho poderia funcionar, a ideia do governo brasileiro é levar debates políticos difíceis, como a transição para longe dos combustíveis fósseis, para decisões por voto, contornando a regra do consenso que impede a UNFCCC (a Convenção do Clima da ONU) de entregar uma implementação adequada do Acordo de Paris.
Falando em fósseis, estes estiveram ausentes da fala de Lula. E talvez tenha sido melhor assim, já que o presidente andou tecendo loas ao petróleo em entrevistas recentes após ter apontado nos últimos anos a necessidade de uma transição energética.
Quem estava esperando um discurso do grande líder climático do Sul Global que arrancou aplausos do mundo em 2022 na COP27, no Egito, pode ter se frustrado: a fala de Lula não foi a de um anfitrião de uma conferência do clima decisiva para garantir um futuro seguro para a humanidade. Porém, o mundo e o Brasil de 2025 tampouco são os de novembro de 2022. A COP30 precisará triunfar num ambiente político e geopolítico muito desfavorável, e esse climão fica evidente em tudo que Lula disse e principalmente no que não disse.
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O post “Na ONU, Lula defende novo Conselho do Clima” foi publicado em 23/09/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima