DA COALIZÃO CIÊNCIA E SOCIEDADE – Uma das missões do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é “prover o país com o estado da arte em previsões do tempo e clima e dispor da capacidade científica e tecnológica de melhorar continuamente essas previsões, visando ao benefício da sociedade”. Tal missão pode estar ameaçada. Desde a década de 1990, o Inpe gera previsões de tempo e previsões sazonais de clima. Tais produtos são utilizados pelos governos e pela população para planejar atividades chaves como, por exemplo, aquelas associadas à agricultura e à geração de energia. A importância das previsões de clima do Inpe foi demonstrada durante as crises hídricas de 2001 e 2014, quando o gerenciamento de água e medidas de emergência decretadas pelos governos federal e estaduais dependeram dessas previsões. Na época, o Inpe contava com supercomputadores que permitiram colocar o instituto no patamar dos maiores centros climáticos do mundo em pesquisa e desenvolvimento em previsões climáticas.
Em 2010, no intuito de melhorar a previsão de clima, mantendo o Brasil como pioneiro e referência no hemisfério sul na geração de cenários para estudo das mudanças climáticas, o então Ministério de Ciência e Tecnologia e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo adquiram o supercomputador Tupã modelo XT6 da Cray, que foi instalado no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/Inpe. Na época, esse supercomputador era o mais potente da América do Sul e um dos 500 mais potentes do mundo. Durante dez anos, o Tupã foi utilizado por grupos de pesquisa, instituições e universidades nacionais e internacionais. Seus dados serviram para apoiar a gestão do Operador Nacional do Sistema Elétrico, entre outros.
No momento, quando já estamos vivendo a maior crise hídrica em 91 anos, situação crítica que demanda previsões de clima confiáveis, o Inpe está sem verba para o pagamento de energia elétrica. Como consequência, a projeção é de que, com o orçamento atual, o Tupã tenha que ser desligado em agosto. Contudo, essa ferramenta é essencial para a elaboração de previsões de tempo e clima, tratamento e coleta de dados meteorológicos, emissão de alertas climáticos e pesquisa e desenvolvimento científico, e não pode parar. A ciência climática no Brasil não pode ser desativada por falta de recursos, e o país não pode prescindir das pesquisas e previsões de clima e de mudanças de clima. Essas informações permitem emitir alertas e salvar vidas humanas e bens materiais, de forma que tal retrocesso trará graves consequências científicas, econômicas e sociais para o país. Além disso, nos tornaremos reféns de previsões climáticas feitas por centros no exterior, as quais não necessariamente refletem os detalhes regionais como os que o Inpe provê, o que adiciona mais um risco significativo para a segurança do Brasil, além daqueles que já vivenciamos nos últimos tempos.
O post “Na maior crise hídrica em 91 anos, o primeiro apagão é na previsão climática” foi publicado em 14th June 2021 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima