Identificar oportunidades de colaboração e atuação conjunta para o avanço da agenda de direitos, tendo as mulheres indígenas como protagonistas, foi o objetivo de consulta realizada pela ONU Mulheres , no final de maio, com integrantes da iniciativa Voz das Mulheres Indígenas e a deputada federal Joênia Wapichana.
Durante a consulta, lideranças relembraram marcos da reorganização política nos últimos anos, efeito das desigualdades de gênero e a mobilização para defender povos e territórios indígenas na pandemia do novo coronavírus.
A representante da ONU Mulheres, Anastasia Divinskaya, reiterou o compromisso da organização com o movimento de mulheres indígenas, com atenção ao enfrentamento da violência.
Primeira deputada federal indígena eleita, Joênia Wapichana, destinou parte do seu percurso político à causa dos povos indígenas, e à atuação na Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. Os trabalhos do grupo estão concentrados na fiscalização das ações dos governos e formulação de políticas públicas como foco em povos indígenas e comunidades quilombolas.
Questões relacionadas a conflitos territoriais com latifundiários e garimpeiros, acesso a equipamentos de proteção individuais de saúde e a atenção aos povos indígenas na pandemia fazem parte do dia a dia da Joênia Wapichana na atuação parlamentar.
A coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e integrante do Voz das Mulheres Indígenas, Sônia Guajajara, recuperou a linha do tempo de conquistas e protagonismo das mulheres indígenas – das participações no Acampamento Terra Livre ao Encontro das Mulheres Indígenas e à Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, ocorrida em 2019.
“A luta das mulheres indígenas é trazer a visibilidade e romper barreiras. É preciso ultrapassar a linha e assumir lugares para além das comunidades”, afirmou Sônia Guajajara, que já concorreu como candidata à Vice-Presidência do Brasil.
O empoderamento político foi observado por Guajajara nas organizações de representações indígenas mistas, nos partidos políticos e nas eleições para cargos eletivos. “Olhando a nossa atuação no Voz das Mulheres Indígenas, vimos as demandas das mulheres e como assumiram a agenda como sua”, disse.
A violência contra as mulheres indígenas tem sido uma das áreas de atenção das lideranças. “As mulheres estão sendo mortas pelo machismo, que chegou nos territórios indígenas. Não podemos negar. É preciso enfrentar o machismo nas aldeias”, completou.
Mobilização digital
A pandemia da COVID-19 lançou lideranças e povos indígenas para as redes sociais na organização do maior encontro político: o Acampamento Terra Livre, em abril deste ano. Nos perfis centrais da APIB, a audiência ultrapassou 1.500.000 de acessos.
No evento, a APIB promoveu debates sobre o orçamento público e também sobre os efeitos demográficos e de saúde da pandemia para povos indígenas. Além disso, promoveu uma discussão sobre os recursos disponíveis no orçamento público para promover os direitos de povos indígenas, ressaltando que são necessários investimentos mais robustos em políticas públicas.
Imbuída do espírito de que “nossas ações não podem parar”, Sônia Guajajara avalia uma das realidades reveladas pela pandemia é que “o espaço das redes sociais é potente para estratégias de fazer a luta”, especialmente para visibilizar o impacto da pandemia nos povos indígenas, cujos dados da sociedade civil são divergentes de órgãos oficiais.
A integrante do Voz das Mulheres Indígenas e candidata à senadora nas eleições de 2018, Telma Taurepang, assinalou a relação com partidos e a disputa eleitoral como relações novas e hostis para a realidade das mulheres indígenas, e apontou a necessidade de construir estratégias para assessorar candidatas indígenas no cumprimento da legislação eleitoral.
Aliada a essas estratégias, a integrante da APIB, Joziléia Kaingang, trouxe a importância de se investigar as “candidaturas-laranjas” entre as mulheres indígenas candidatas.
Uma outra integrante do Voz das Mulheres Indígenas, Leonice Tupari, comentou sobre a incidência da violência nas aldeias indígenas e a presença religiosa externa às culturas tradicionais.
Sobre a pandemia da COVID-19, a integrante da Associação Indígena Guateka Marçal de Souza, Suzie Guarani, falou sobre o aumento da pobreza entre os povos indígenas e a insuficiência de resposta governamental às demandas das aldeias.
A integrante do Voz das Mulheres Indígenas, Eliana Karajá, lembrou também sobre a importância da mobilização por cestas básicas e as dificuldades e medo enfrentados pelas lideranças, que atuam no apoio às organizações de base.
De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2 de julho de 2020, foram confirmados 7.198 casos de contágios em indígenas e 166 óbitos. Segundo o monitoramento da APIB, são 10.722 casos confirmados e 420 óbitos entre os povos indígenas.
Fonte
O post “Mulheres indígenas avaliam estratégias de empoderamento político e resposta à COVID-19” foi publicado em 8th July 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ONU Brasil