DO OC – A onda de calor que levou o Reino Unido a registrar as temperaturas mais altas de sua história na última semana foi pelo menos 10 vezes mais provável por causa da crise climática. A conclusão é de um estudo de atribuição da World Weather Attribution (WWA) divulgado nesta quinta-feira (28). A WWA é uma colaboração de pesquisadores de todo o mundo que faz análises de eventos extremos logo após eles ocorrerem para descobrir a intensidade ou probabilidade de acontecerem hoje, em que o planeta está quase 1,2°C mais quente do que nos níveis pré-industriais, em comparação com um mundo sem a influência do aquecimento global.
Para a análise, foram selecionados registros de temperaturas nos dias 18 e 19 de julho em diferentes regiões do Reino Unido, quando os termômetros superaram os 40°C na capital britânica. Um calor assim, inédito em Londres, fez com que os bombeiros tivessem o dia mais agitado desde a Segunda Guerra Mundial pelo excesso de chamadas em decorrência de incêndios. A pista do aeroporto de Luton chegou a derreter. Além disso, foram registradas centenas de mortes relacionadas às altas temperaturas no Reino Unido (o número preciso de vítimas ainda não foi divulgado pelos órgãos oficiais).
“As ondas de calor são o tipo mais mortal de evento climático extremo na Europa, matando milhares a cada ano. Mas elas não precisam ser. Muitas dessas mortes são evitáveis se houver planos de adaptação adequados. Sem uma adaptação rápida e abrangente e sem cortes de emissões, a situação só vai piorar”, disse Roop Singh, pesquisador da Red Cross Red Crescent Climate Centre e um dos autores do estudo.
Nas conclusões da pesquisa, os cientistas destacaram que a estimativa – de aumento de 10 vezes na probabilidade – deve ser considerada conservadora, já que o calor foi tanto que as temperaturas superaram até o que as simulações de modelos climáticos prediziam. “Na Europa e em outras partes do mundo estamos vendo cada vez mais ondas de calor que quebram recordes, causando temperaturas extremas que se tornaram mais quentes mais rapidamente do que na maioria dos modelos climáticos”, afirmou a climatologista alemã Friederike Otto, da WWA.
No estudo, os modelos estimaram que as emissões de gases de efeito estufa aumentariam os termômetros nesta onda de calor em 2ºC, só que registros climáticos históricos indicam que ela teria sido 4ºC mais fria em um mundo sem a influência do aquecimento global. Segundo os autores, isso sugere que os modelos estão subestimando o impacto real da mudança climática nesta e em outras regiões do planeta.
“Mesmo com uma estimativa conservadora, vemos um grande papel da mudança climática na onda de calor do Reino Unido. Sob nosso clima atual, que foi alterado pelas emissões de gases de efeito estufa, muitas pessoas estão passando por eventos durante sua vida útil que, de outra forma, seriam quase impossíveis. E quanto mais tempo levarmos para zerar as emissões líquidas (quando as emissões de CO2 alcançarem um equilíbrio com a remoção de gases da atmosfera), pior se tornarão as ondas de calor”, explica Mariam Zachariah, pesquisadora do Environment of Imperial College, na Inglaterra, e principal autora do estudo.
Esta análise se soma a dezenas de outras que vêm sendo desenvolvidas pela WWA com o objetivo de quantificar a influência do aquecimento global em eventos extremos. Recentemente, o grupo analisou a onda de calor que atingiu a Índia e o Paquistão em março, considerada a pior em 122 anos, e concluiu que o evento teve sua probabilidade de ocorrência multiplicada por 30 por causa das mudanças climáticas. Já as chuvas que atingiram Recife em maio deste ano, matando mais de 120 pessoas e desabrigando 25 mil, foram cerca de 20% mais intensas pelo aquecimento do planeta, mostrou a WWA.
O post “Mudança climática tornou onda de calor no Reino Unido pelo menos 10 vezes mais provável” foi publicado em 28th July 2022 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima