ANÁLISE
O alegado “absolutista da liberdade de expressão” quer garantir na verdade apenas uma liberdade essencial: explorar minerais estratégicos para os negócios da Tesla e demais empresas do grupo em qualquer lugar do mundo, incluindo o Brasil, não importando os meios necessários para isso.
Elon Musk é um militante de extrema-direita e dos tipos mais perigosos: o que tem muito, muito dinheiro e influência para provocar as tensões e rupturas desejadas.
Não só admitiu publicamente que iria apoiar golpes de estado em quaisquer países que atrapalhassem as suas empresas, usando não por acaso o exemplo da Bolívia e as suas generosas reservas de lítio, como trabalha continuamente para acessar os chamados minerais de transição, sem os quais empresas como a Tesla simplesmente não conseguem produzir.
Muito antes de atacar diretamente o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes , Musk tratou de, no Brasil, firmar negócios com a Vale para o suprimento de níquel para os carros da Tesla e sondou a compra da canadense Sigma Lithium, maior mineradora de lítio a se instalar no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais.
Também foi cortejado, homenageado e bajulado em 2022 por Jair Bolsonaro, generais e empresários, incluindo executivos do setor extrativo, ao mesmo tempo em que foi convidado a assumir a Ceitec, única fábrica de chips da América Latina – plano frustrado por Lula ao assumir o governo – e fechou um contrato extremamente nebuloso e mal explicado com o Ministério das Comunicações para instalar internet em milhares de escolas na Amazônia, o que jamais se confirmou.
Os provedores via satélite da Starlink estão sendo muito bem usados por outro público: garimpeiros invasores de terras indígenas que agora tem , via a empresa de Musk, uma forma eficaz e barata de se comunicar e fugir de fiscalizações na Amazônia. A promessa de instalar uma fábrica da Tesla em Manaus também ficou na promessa.
Enquanto isso, o apoiador de Donald Trump tenta desestabilizar a política brasileira acenando para os seus amigos bolsonaristas que perderam a eleição, tentaram um fracassado golpe de estado – o mesmo tipo de manobra política que Musk é entusiasta – e precisam se manter em evidência para tentar voltar ao poder.
Foto de destaque: Cleverson Oliveira/ Ministério das Comunicações
São os minerais críticos, estúpido
Se o flerte de Musk com a Sigma Lithium não se concretizou, o legado do namoro com Bolsonaro resultou na abertura do mercado brasileiro de lítio em meados de 2022 , favorecendo exatamente empresas como a Sigma.
Ao contrário da propaganda de “lítio sustentável quíntuplo zero greentech” que conta, claro, com o apoio dos governadores Romeu Zema de MG e Renato Casagrande do ES, além do vice-presidente Geraldo Alckmin, as operações da Sigma no Jequitinhonha tem causado danos a indígenas, quilombolas e comunidades rurais, desestabilizando a vida local e trazendo novos problemas a cidades pobres que estão cansadas de promessas de desenvolvimento que nunca se concretizam, como mostrei no Observatório da Mineração.
O agora rebatizado “Vale do Lítio” contou com anúncio pomposo de supostos adversários políticos, juntinhos, na bolsa americana Nasdaq em maio de 2023, já no governo Lula , para atrair investidores internacionais.
Criada para ser vendida pelo melhor preço possível, a Sigma enfrenta problemas internos entre os seus controladores e passa por uma série de rumores de mercado em processo conduzido pelo Bank of America, incluindo o que dizia que a canadense poderia ser adquirida pela alemã Volkswagen ou pela montadora chinesa BYD, que ultrapassou a Tesla em valor de mercado e anunciou uma rumorosa fábrica no Brasil.
Com o preço do lítio em queda no mercado global. a CEO da Sigma, Ana Cabral-Gardner, recentemente disse que vai segurar um pouco a venda da empresa , enquanto se concentra em dobrar a capacidade de produção no Vale do Jequitinhonha: de 270 mil toneladas para 520 mil toneladas anuais até 2025.
A Sigma irá receber financiamento do BNDES , que anunciou um fundo de minerais críticos focado em médias empresas , em planejamento. O lítio do Jequitinhonha abastece o mercado global, em especial a China, e a Sigma tem acordos com a sul-coreana LG Energy Solution e com a suíça Glencore, que acaba de assumir o controle da Mineração Rio do Norte, maior produtora de bauxita do Brasil , envolvida em um longo histórico de conflitos com quilombolas no Pará.
Todos esses movimentos interessam e impactam diretamente Elon Musk.
A corrida por minerais críticos está aquecida e a geopolítica acompanha . O lítio deve ver sua demanda crescer em mais de 40 vezes até 2040, segundo projeção da Agência Internacional de Energia. E a estimativa do mercado é que a demanda por níquel cresça 19 vezes até 2040, mas analistas apontam para um cenário de escassez a partir de 2026. O níquel da Vale, explorado no Canadá e no Pará, impacta terras indígenas na Amazônia . E a divisão de metais de transição da Vale agora é controlada em parte pela Arábia Saudita. O cipoal de investidores envolvidos nas transações de minerais críticos incluem alguns dos maiores players globais. O JPMorgan, por exemplo, que foi fiador da compra do Twitter por Musk, é um grande investidor da Vale.
A China concentra o processamento de lítio e níquel, assim como de boa parte dos minerais críticos. Não por acaso você não viu Elon Musk provocar o governo chinês – mesmo com o Twitter bloqueado na China há muitos anos – viu?
Os negócios de Musk vão mal: o Twitter (ou X) perdeu 70% do seu valor de mercado e os anunciantes passaram a correr desde que o multibilionário resolveu comprar a plataforma para brincar de turbinar a extrema-direita global. O lucro da Tesla também anda derretendo e, só em 2024, as ações da empresa despencaram 44% de acordo com o índice da Nasdaq.
Musk não gosta de ser cobrado pela responsabilidade que as ações das suas empresas causam. Agora investigado a pedido do STF, quer impedir que o PL 2630 – o PL das Fake News – avance, o que pode gerar obrigações e punições para plataformas como o Twitter. Elon respeita as leis na Europa , mas não quer respeitar no Brasil.
Se governo nenhum do mundo é contra a exploração de minerais críticos, é sempre melhor que seja um governo de extrema-direita, alinhado ideologicamente com Musk e que facilite o caminho para os seus negócios.
A suposta liberdade de expressão defendida por Musk – algo que ele, na realidade, não curte muito não – nada mais é que a liberdade de utilizar rigorosamente qualquer meio que possa garantir a sobrevivência das suas empresas, ainda que nem sempre da maneira mais inteligente.
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O post “Militante de extrema-direita, Elon Musk quer garantir é o suprimento de minerais estratégicos para os seus negócios” foi publicado em 09/04/2024 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Observatório da Mineração