Mais um atentado numa escola brasileira hoje. E o autor tem apenas treze anos. Um menino.
Foi às 7:40 da manhã, na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, SP, que um aluno da oitava série esfaqueou a professora pelas costas, sem chance de defesa. Câmeras de segurança captaram esse momento hediondo.
Elisabete Tenreiro tinha 71 anos, era professora de Ciências, e trabalhava na escola fazia pouco tempo. Ela não resistiu às facadas e morreu no hospital.
O adolescente ainda feriu outras quatro pessoas. Foi contido por três professoras, três heroínas que conseguiram imobilizá-lo, como mostra o vídeo (algumas notícias dizem que o garoto estava atacando uma outra aluna, negra, e que foi contido por duas educadoras, entre elas a professora Cíntia, de Educação Física).
Ainda há muita desinformação. Hoje cedo circulava a notícia de que o agressor sofria bullying. Mas um menino contou que, semana passada, o autor do atentado chamou um colega de “macaco”, e ele e o colega brigaram a socos. Foi a professora Elisabete quem apartou a briga. Justamente a primeira vítima de hoje.
Hoje um veículo divulgou a carta que o jovem deixou a seus familiares. Parecia uma carta de despedida em que pedia desculpas. Dizia que estava planejando o atentado há dois anos e que ele fazia isso por uma “causa maior”. É um forte indício de que o adolescente é um incel que participava de fóruns neonazistas e misóginos. Outro indício é que ele usava uma máscara do tipo Columbine, que foi popularizada no Brasil com o massacre de Suzano. Mais um indício: no seu celular havia informações sobre ataques a outras escolas no país.
Semana passada, as Polícias Federal e Civil, com ajuda da Interpol, impediram um massacre numa escola no Rio. O adolescente de 17 anos planejava comemorar os 24 anos de Columbine (em abril). Faz duas semanas que o massacre de Suzano completou quatro anos. Datas assim são celebradas por esses grupos e sempre são perigosas, pois inspiram novos ataques (assim como o o aniversário de Hitler, por exemplo).
Desta vez não há como culpar Bolsonaro ou o governador de São Paulo. Massacres em escolas ocorrem em vários lugares do mundo, principalmente nos EUA (este ano já houve dezenas de tiroteios em escolas americanas). É certo que o adolescente de 13 anos do atentado de hoje preferiria ter um fuzil, e com ele mataria muito mais gente. Aqui no Brasil, não existe incel que não votou no Bolso por causa da promessa de distribuição fácil e farta de armas de fogo. Mesmo assim, os massacres precedem a ascensão da extrema direita.
Ficamos revoltadas e atordoadas sempre que um massacre desses acontece. Imagino o pânico dos estudantes, das professoras, de mães e pais que querem que seus filhos estejam seguros nas escolas. Não há saída simples para o fim dos massacres. Pra mim, tudo passa pela educação. Em dezembro, eu e outras doze especialistas redigimos um relatório sobre esses atentados e como tentar impedi-los. Foi para a área de educação do governo de transição de Lula. É possível lê-lo aqui .
Muito mais do que discutir a redução da maioridade penal — como a direita parece querer pautar agora –, seria mais eficaz se toda a sociedade realmente começasse a falar sobre a proliferação de grupos na internet que usam o discurso de ódio como chamariz. E de maneiras para que esses grupos parem de ser tão bem sucedidos em recrutar meninos. Cada vez mais jovens.
O post “MENINO DE TREZE ANOS MATA PROFESSORA E FERE QUATRO EM ESCOLA DE SP” foi publicado em 27th March 2023 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva