O palmito juçara (Euterpe edulis) é uma palmeira nativa da Mata Atlântica. Essa espécie entrou em extinção e agora está sendo resgatada e preservada por meio de uma mudança de paradigma. Trata-se de agricultores familiares que outrora extraíam o palmito, matando a planta e hoje colhem os seus frutos, que após processados, as suas sementes despolpadas servem para o repovoamento da floresta. Essa nova dinâmica está gerando uma relação ecologicamente mais equilibrada, socialmente mais justa e economicamente viável no Vale do Ribeira-SP.
Uma experiência tecnológica na qual a juçara se adapta está sendo muito utilizada é o Sistema Agroflorestal ou Agrofloresta (SAF). Este sistema, de uma forma muito resumida, consiste em um consórcio de plantas que busca imitar a dinâmica de uma floresta (biomimetica ), com produção adensada e biodiversa.
Esse SAF composto por banana e juçara, por exemplo, vem transformando os antigos cultivos no Vale, antes formados por uma única cultura, principalmente a banana. Agora acompanhados pela juçara, os bananais viraram um sistema mais produtivo. Essa lógica é cada vez mais utilizada para aumentar a produtividade por área, tornando a qualidade ambiental uma alternativa econômica real para muitos agricultores no Brasil.
Isso é possível porque a Juçara é uma planta com características de sub-bosque, ou seja, se adapta em clareiras e bordas das florestas, por isso compõe bem o sistema à sobra das bananeiras. Outras plantas também são manejadas nessa SAF e sem uso de agroquímicos, pois quanto maior a diversidade de espécies, menor a incidência de doenças e insetos para desequilibrar o sistema.
O resgate dessa espécie nativa vem tornando a paisagem mais interessante do ponto de vista da biodiversidade. As sementes estão sendo replantadas e os sistemas estão ficando mais ricos pois outras espécies nativas surgem, também por conta da dispersão da fauna atraída pela juçara e pelas bananas sem veneno.
Quem nos demonstra isso na prática são agricultores familiares de Sete Barras que assumiram a militância para a conservação da juçara. Um deles é Gilberto Ohta, integrante da Cooperagua, Cooperativa, que reúne cerca de 100 agricultores familiares moradores do bairro do Guapiruvu. Além de ser um ativista em diversos espaços de construção do movimento agroecológico, Gilberto contribuiu para oficina de construção participativa de diretrizes de manejo sustentável da palmeira juçara que já resultou em um material orientador de boas práticas.
Se você quer saber mais, conheça cartilha da juçara.
Gilberto explica o processo de colheita e pós colheita da juçara que é realizado na comunidade. “O fruto é colhido, selecionado, lavado, debulhado e despolpado e vendido em forma de polpa para lojas alternativas e grupos de consumo de produtos agroecológicos. Há alguns anos esse manejo é como uma eco esperança baseada no princípio da economia regenerativa”. A polpa da juçara é muito parecida com a do Açaí da Amazônia. Essa polpa é vendida no varejo a R$ 5,00 em pacotes de 200ml e as suas sementes, também são comercializadas para fins de reflorestamento.
Nessa região podemos encontrar diversas comunidades de agricultores familiares, quilombolas e aldeias indígenas que atualmente trabalham com o manejo da Juçara. Algumas de suas organizações são apoiadas pelo projeto Agroflorestar: Vale do Ribeira . Projeto esse, realizado pela Cooperafloresta, junto a uma série de outras cooperativas e associações que reúnem ao todo de 4.200 beneficiados. Uma dessas cooperativas envolvidas no projeto é a Cooperagua.
Para entender melhor a realidade do Vale do Ribeira e da situação da banana no mercado de alimentos escute o PodCast Prato Cheio desenvolvido pelo portal “O joio e o trigo”. E conheça mais a fundo a economia regenerativa .
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O post “Manejo sustentável do palmito juçara. “Eco esperança baseada no princípio da economia regenerativa”” foi publicado em 12th November 2020 e pode ser visto originalmente na fonte Futuro com floresta