Foi a melhor campanha do Brasil em Jogos Olímpicos obviamente não por causa de Bolsonaro, que não investiu coisa nenhuma em esporte (nem em cultura, nem em emprego, nem em saúde, nem em segurança, muito menos em educação, só investiu em cloroquina e em comprar vacina com propina), mas apesar dele (que só soube mentir que Baile da Favela foi usada para homenageá-lo e para parabenizar o vôlei masculino, em sua pior atuação desde o ano 2000).
O Brasil terminou em 12o no quadro geral de medalhas (21), com sete ouros, seis pratas e oito bronzes. Quem mais se destacou? Mulheres e o Nordeste . E já já (final de setembro) começam, ainda em Tóquio, as Paralimpíadas, em que o Brasil é uma potência mundial.
Adorei ver o skate, principalmente a Rayssa, a Fadinha, de Imperatriz, Maranhão. Achei o judô bem chato, mas vibrei com a Mayra Aguiar em sua terceira medalha. Amei a Ana Marcela Cunha ganhando ouro na maratona aquática depois de nadar dez quilômetros naquele mar esquisito do Japão (como disse um leitor, a qualquer momento a gente esperava que saísse o Godzilla). E com o Isaquias da canoagem? Herói!
E a Rebeca Andrade da ginástica artística é uma deusa absoluta. Ninguém acreditou que essa (a de prata, depois a de ouro) foi a primeira medalha de uma brasileira! Danielle, Jade, Luisa Parente e principalmente a inigualável Daiane dos Santos são campeãs pra gente (assim como o Darlan Romani do arremesso de peso sai como campeão, apesar de ter ficado em quarto lugar).
Apesar de tudo, apesar do temor com a pandemia, apesar dos japoneses terem sido contra a realização, os jogos foram bons pra distrair, pra nos devolver (mesmo que temporariamente) o orgulho em ser brasileiros, pra nos fazer sorrir e ter esperança em dias melhores — que virão, a partir de 2023. Tenho esperança que as Olimpíadas de Paris 2024 serão muito mais felizes, sem os dois vírus que temos agora.
Mas a marca que fica agora é a de Simone Biles mostrando sua vulnerabilidade, falando em saúde mental. Isso valeu mais que uma medalha (mesmo assim, ela ganhou duas). Outros super atletas já tiveram que lidar com a depressão e outras doenças. Reconhecer isso não é fraqueza. Pelo contrário, é sinal de força. Mais ainda para Biles, que é a única ginasta americana que ainda compete entre todas aquelas que foram estupradas por um médico que só foi condenado após duas décadas de abusos de centenas de meninas.
Reproduzo o texto de Felix Tamsut para a DW.
Após uma pausa para recuperar sua saúde mental, a estrela da ginástica americana Simone Biles conquistou uma medalha de bronze, na trave, nos Jogos de Tóquio.
“Eu realmente sinto o peso do mundo nos meus ombros”, escreveu a jovem atleta no Instagram, antes da final de terça-feira passada (03/08), na qual terminou atrás de duas ginastas chinesas. “As Olimpíadas não são brincadeira!”
As conquistas esportivas, por si só, já colocam Biles entre as maiores atletas do mundo. Mas são as ações fora do esporte que farão uma verdadeira diferença para tantas pessoas, incluindo eu.
A batalha de muitos, como eu
Há alguns anos, comecei a sofrer vários ataques de pânico por dia. Alguns deles foram tão ruins que acabei sendo internado no hospital. Naquela época, eu nem sabia o que era uma crise de pânico. Eu pensava que tinha um problema físico de algum tipo que precisava ser resolvido. Achava que podia ser um resfriado ou um vírus.
Quando uma pessoa próxima sugeriu que eu deveria verificar se as crises tinham razões psicológicas, fiquei confuso. Eu não queria reconhecer que poderia estar sofrendo de um problema mental. Após ter sido diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), senti vergonha. O que diriam minha família e meus amigos? Será que eu perderia meu emprego?
Eu sentia que não havia mais ninguém como eu no planeta. Eu me sentia sozinho.
Mas a parte mais difícil ainda estava por vir. Lidar com sua saúde mental significa não apenas lutar com uma doença, mas também com as percepções e estigmas de outras pessoas.
Além disso, espera-se que muitos de nós tenham determinado desempenho independentemente de nossa situação, seja no local de trabalho ou em círculos sociais. Muitas vezes, você só precisa de uma pausa para cuidar de si mesmo, como qualquer pessoa que, sofrendo de um resfriado, ganharia um tempo para descansar.
Não é vergonha falar sobre isso
Uma das atletas mais famosas do mundo decidiu fazer exatamente isso e falou sobre como as tensões mentais podem atingir você com mais força do que qualquer doença física; como todos podem sofrer de problemas de saúde mental, independentemente de estarem fisicamente aptos, serem famosos ou ricos; que não é vergonha falar sobre isso e viver com isso.
Pessoas como eu podem facilmente se identificar com a decisão de Biles de só competir quando a saúde mental permite. A maneira como ela não teve medo de admitir publicamente a razão de fazer uma pausa do maior palco esportivo da Terra, com milhões e milhões de pessoas aguardando ansiosamente sua apresentação e esperando que ela entregasse resultados, significou que muitas pessoas como eu se sentiram vistas, pessoas cujas lutas muitas vezes foram menosprezadas, às vezes até ignoradas.
Devido a sua decisão, mais pessoas entenderão que a pressão mental “não é brincadeira”.
Só por isso, suas realizações nos Jogos de Tóquio devem ser consideradas muito mais importantes do que qualquer medalha de ouro.