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O domingo de eleições municipais em todo o país chega rodeado de incertezas, marcado pela violência de alguns candidatos e pela mediocridade da maioria deles durante a campanha. Um cenário desalentador para escolher quem vai comandar as cidades onde moramos e vivemos em um dos momentos mais desafiadores para a humanidade.
Já não bastasse a crise climática que bagunça termômetros e vidas, a expansão da guerra no Oriente Médio promete ainda mais morte e sofrimento e traz de volta a ameaça nuclear. Afinal, se o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, diz que não apoiará o bombardeio de instalações nucleares do Irã por Israel, é porque essa possibilidade está no horizonte.
Tudo o que não podemos esperar é moderação por parte de Benjamin Netanyahu. Até porque, embora digam condenar a guerra, os países mais ricos já se posicionaram claramente a favor da ofensiva do governo israelense.
Do Conselho de Segurança da ONU à imprensa ocidental, o que mais se vê é apoio a Israel. As 40 mil vítimas civis em Gaza parecem esquecidas, como se o atual cenário nada tivesse a ver com isso. A invasão do Líbano, assim como os 2 mil cidadãos mortos por Israel no país, merecem no máximo um lamento formal – são “efeito colateral” da guerra pretensamente justa de Israel contra os “terroristas” do Hamas e do Hezbollah.
Uma eloquente demonstração de que os conceitos de justiça e humanidade se perderam definitivamente ao menos entre os que comandam o mundo em colapso.
As tragédias do clima e da guerra se encontram neste terrível mês de outubro, tema do mais recente episódio do videocast “Bom dia, fim do mundo”. Ou melhor, se chocam: como direcionar recursos e os esforços internacionais para a crise climática quando as bombas explodem diante da total falência das negociações multilaterais?
Palavras como redução voluntária de emissões, justiça climática e transição justa nunca soaram tão utópicas diante da concretude distópica. Não é à toa que uma boa parcela dos 98% de brasileiros que se dizem preocupados com as mudanças climáticas simplesmente desistiu de ler, ouvir e assistir a notícias. Pesquisa da Reuters de junho deste ano mostrou que 47% dos brasileiros evitam o noticiário, uma alta de 6 pontos percentuais em relação ao ano passado.
Sabemos, porém, que não adianta ignorar os fatos nem atribuir o apocalipse a uma decisão divina irrevogável. Se parece quase impossível unir esforços pela paz e pela preservação da vida na Terra, esta também é a única esperança de, pelo menos, adiar o fim do mundo, como sugeriu Ailton Krenak. Uma voz indígena que indica caminhos, assim como a luta inspiradora de ribeirinhos, quilombolas, sertanejos e de tantos outros brasileiros obrigados a resistir cotidianamente a tentativas de extermínio, cultural e real.
Se conseguimos restabelecer a democracia no país, se temos hoje um presidente, que mal ou bem tenta sensibilizar a comunidade internacional para a importância de estabelecer mecanismos de governança global mais plurais e justos, isso se deve à capacidade de mobilização da sociedade. Temos conhecimento científico e ancestral, energia e criatividade para mudar o jogo.
Otimista incorrigível, característica que me permitiu manter o entusiasmo pela profissão em mais de 40 anos de jornalismo em um país desigual e cruel em muitos aspectos, acredito que, juntos, podemos “macetar o apocalipse”, como ensinou Veveta em seu emblemático embate com Baby do Brasil.
A começar pela escolha consciente de nossos governantes, dispensando provocadores e falsos profetas, nas eleições de domingo.
Boa festa da democracia para todos nós!
Fonte
O post “Macetando o apocalipse” foi publicado em 05/10/2024 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Agência Pública