DO OC – Lula chegou à COP28 com status de estrela, bons resultados no combate ao desmatamento na Amazônia e a correção da NDC (contribuição nacion almente determinada, a meta de cada país ao Acordo de Paris) brasileira a exibir. Mas, na sessão de abertura e na reunião de chefes de Estado , fez dois discursos mornos que frustraram expectativas quanto à sua aguardada participação. O presidente brasileiro chegou a denunciar os imorais gastos globais com guerras enquanto o tempo para evitar o colapso climático se esgota, mas, trazendo da Arábia Saudita uma proposta para o ingresso do Brasil na Opep+ na mala, ignorou o peso dos investimentos em combustíveis fósseis nessa conta.
Em tom genérico, apenas disse na sessão de abertura que “é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”.
Lula cobrou metas climáticas mais ambiciosas, criticou países ricos por até hoje não terem pago o que prometeram em financiamento aos países pobres e lembrou o quanto as mudanças climáticas agravam desigualdades. “É inaceitável que a promessa de 100 bilhões de dólares por ano assumida pelos países desenvolvidos não saia do papel enquanto, só em 2021, os gastos militares chegaram a 2 trilhões e 200 bilhões de dólares”, disse.
Afirmando novamente que o Brasil “está disposto a liderar pelo exemplo”, o presidente citou o plano de transformação ecológica (apresentado por Marina Silva e Fernando Haddad em cerimônia após a fala de Lula) como alternativa para a promoção da industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia no país. Mas, ao esquivar-se da necessidade de eliminação de combustíveis fósseis, único caminho para que o mundo tenha uma chance de limitar o aquecimento a 1,5ºC, Lula enfraqueceu sua participação na COP28 e a oportunidade de exercer um papel real de liderança climática.
Em setembro, o relatório do Global Stocktake já havia apontado que zerar os subsídios aos combustíveis fósseis é uma estratégia indispensável para viabilizar as metas do Acordo de Paris. O documento, que sintetiza o balanço global do tratado a ser concluído nesta COP, mostrou que o mundo destina hoje apenas US$ 803 bilhões anuais para a ação climática, o que corresponde a 32% do investimento anual necessário. Ao mesmo tempo, são em média US$ 892 bilhões anuais investidos em combustíveis fósseis, e mais US$ 450 bilhões cedidos como subsídios à indústria anualmente em 2019 e 2020. (LEILA SALIM)
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O post “Lula cobra ambição climática, mas ignora exploração de fósseis no Brasil” foi publicado em 01/12/2023 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima