A jacutinga (Aburria jacutinga), espécie da Ordem dos Galliformes e da Família dos Cracídeos, é endêmica da Mata Atlântica e considerada uma excelente dispersora de sementes, capaz de se alimentar de 41 frutos, colaborando na manutenção das florestas e dos sistemas hídricos. A ave ocorria do sul da Bahia até o sul do Rio Grande do Sul, na Argentina e Paraguai. Porém, com a caça e a pressão em seu habitat, hoje ela é considerada Em Perigo (EN) de extinção pela lista global da BirdLife International/IUCN e a lista Nacional do Ministério de Meio Ambiente. Além disso, Criticamente Ameaçada (CR) de extinção de acordo com a lista de animais ameaçados no estado de São Paulo e provavelmente extinta no estado do Rio de Janeiro, onde foi avistada em Itatiaia pela última vez em 1978 e na Serra dos Órgãos em 1980.
Em 2010, considerando-se a alarmante situação de conservação da jacutinga e as constantes pressões ao habitat da espécie, especialmente na região do Parque Estadual da Serra do Mar (SP), a SAVE Brasil iniciou o “Programa de Conservação de Aves Cinegéticas da Mata Atlântica: Reintrodução e Monitoramento de Jacutingas (Aburria jacutinga)”. O programa foi uma exigência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio/APA Mananciais do Rio Paraíba do Sul com a finalidade de atender parte das condicionantes ambientais referentes a licença de instalação do gasoduto Caraguatatuba-Taubaté (GASTAU) construído pela Petrobras.
A Fase 1 (2010-2013) do programa confirmou a raridade da jacutinga (Aburria jacutinga) na Região da Serra do Mar e a necessidade de um reforço populacional urgente a fim de evitar a extinção local da espécie. A fase II do programa, iniciada em 2014, visa a reintrodução e monitoramento de jacutingas na região da Serra da Mantiqueira em São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos/SP, na região da Serra do Mar em áreas próximas ao Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba/São Paulo e no município Cachoeiras de Macacu, na Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA) no estado do Rio de Janeiro.
As ações do projeto envolvem a reintrodução, soltura e monitoramento de jacutingas, educação e disseminação da importância da conservação dessa e de outras aves de Mata Atlântica para a comunidade, em paralelo à articulação com os órgãos de fiscalização ambiental, envolvendo-os nas ações de campo. O apoio de zoológicos e dos criadouros conservacionistas de jacutingas é fundamental para o sucesso do projeto, já que contribuem com o fornecimento de aves para serem soltas, além de desenvolverem ações de disseminação sobre a espécie e sua conservação. Para isso, o projeto conta com incríveis instituições parceiras como a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Companhia Energética de São Paulo (CESP), Parque das Aves, Fundação Parque Zoológico de São Paulo , RioZoo, e a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil.
Antes da soltura, todas as jacutingas passam por exames sanitários e depois são recebidas em nosso viveiro de reabilitação e adaptação, que fica inserido no meio da mata, já na área onde serão soltas. Lá, todas as candidatas à soltura passam por um processo de reabilitação e preparação comportamental para se adaptarem da melhor forma na natureza. Todas essas jacutingas são treinadas para aprenderem a reconhecer predadores, se alimentar na floresta e se fortalecerem para voo.
Depois de soltas, as aves são monitoradas por transmissores via rádio, idas a campo e através da participação da comunidade local incentivando a prática de observação de aves. As jacutingas recebem apelidos e anilhas coloridas para facilitar a identificação. Desde 2016, 30 jacutingas foram soltas pelo projeto, e o macho apelidado de Preto, que fez parte do primeiro grupo de soltura, segue sendo monitorado há 4 anos.
Através do monitoramento já foi possível acompanhar várias histórias interessantes, como a fuga do machinho Ouro de um macaco-prego, o encontro da fêmea Juçara bebendo água em uma bromélia, o avistamento da fêmea Mimi, a jacutinga aventureira, com comportamento reprodutivo de bater as patinhas e abrir a cauda em leque, e a formação do primeiro casal, Preto e Mangue, que juntos já realizaram duas posturas de dois ovos em cada. A primeira postura do casal foi em fevereiro de 2018, com o registro de ninho e a publicação de um artigo científico. A segunda foi em setembro de 2019 e, embora os ovos não tenham eclodido, as aves demonstraram uma excelente adaptação em vida livre.
Além disso, contamos com o monitoramento participativo de membros da comunidade, que durante a pandemia se mostrou extremamente eficiente, pois tivemos 14 relatos de avistamentos por munícipes de 03 jacutingas reintroduzidas. Com a suspensão de nossas atividades em campo durante esse período, o monitoramento participativo foi muito valioso. Cada registro fotográfico enviado ao whatsapp exclusivo do projeto, recebe um certificado de protetor da jacutinga e uma placa de propriedade protetora das jacutingas, e o primeiro e segundo avistamento de cada mês ainda são presenteados por 03 estabelecimentos parceiros com vales pizza, corte de cabelo e até mesmo cafés da manhã! O engajamento da comunidade nos proporcionou todas essas incríveis parcerias.
O Projeto também tem algumas parcerias de marketing relacionado à causa. Uma delas é com uma cervejaria de São Francisco Xavier que produz uma cerveja artesanal black IPA chamada Jacutipa, em homenagem as jacutingas reintroduzidas no município, além da parceria com a empresa de calçados Usthemp, na qual cada venda utilizando o cupom de desconto SAVEBRASILJACUTINGA , 20% do valor é revertido ao projeto. São jacutingas estampadas em calçados e acessórios, em 03 opções de cores.
Como mencionado anteriormente, a sensibilização da comunidade e a educação ambiental são duas das linhas principais do Projeto Jacutinga, que desenvolveu 03 materiais didáticos (1 livro de história e atividades para crianças , 1 livro de atividades para professores , e 1 modelo para origami de jacutinga ) e já envolveu mais de 12 mil pessoas em suas atividades. Além disso, o projeto começou em 2019 uma campanha sobre a guarda responsável de animais domésticos, já que estes são uma ameaça à fauna nativa, quando criados soltos. Para isso, foi elaborado um folheto com informações sobre a saúde e bem-estar de animais domésticos, incluindo cuidados como vacinação, alimentação, castração e prevenção de riscos ao meio ambiente e aos animais silvestres.
Através da continuidade de todas essas ações de conservação, o projeto visa aumentar a população de jacutingas na Mata Atlântica através de novas solturas, seguindo a recomendação de modelos criados através da utilização de um software (Vortex), que ajuda a determinar a mínima população viável para garantir a sobrevivência da espécie. O projeto também atualiza constantemente um protocolo de reintrodução e monitoramento para ser replicado em outros locais onde a espécie está localmente extinta e que até mesmo pode ser adaptado para outras espécies de aves.
Para continuar acompanhando as novidades do Projeto Jacutinga, fique ligado nas redes sociais da SAVE Brasil, pois todas as quintas-feiras publicamos as Aventuras das Jacutingas na Mata Atlântica em nosso Facebook e Instagram.
O Projeto Jacutinga é realizado pela SAVE Brasil e financiado pela BirdLife International, AAGE. V. Jensen Charity Foundation e Fundação Grupo Boticário. Conta com a parceria da APA Mananciais do Rio Paraíba do Sul, Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Companhia Energética de São Paulo, Parque das Aves, RioZoo, Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil, Reserva Ecológica de Guapiaçu, Toyota, SP Bier, Usthemp, Pangea Bar, Salão Brothers, Bruno Pães Artesanais, Projeto Amigos dos Bichos de SFX e Iniciativa Gaia.
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O post “Jacutingas de volta à Mata Atlântica” foi publicado em 5th October 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco