Dois dos mais importantes cientistas climáticos do mundo lideram em Belém uma iniciativa inédita na história das COPs: o Pavilhão de Ciências Planetárias, dedicado a concentrar e disseminar as mais recentes pesquisas, bem como o conhecimento acumulado ao longo das últimas décadas sobre o tema.
O espaço, localizado na Blue Zone, é coordenado pelo sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, e pelo climatologista brasileiro Carlos Nobre.
“Sempre soubemos que a política climática precisa ser guiada pela ciência”, disse Rockström, em entrevista ao OC. “O aquecimento global está indo mais rápido do que previmos, estamos mais próximos de pontos de inflexão, os eventos extremos estão acontecendo perigosamente e as negociações fundamentais são atualizadas com base na ciência”.
Nobre lembrou que já houve pavilhões que trataram da emergência climática nas COPs, como o do próprio IPCC, mas destacou que a ambição desta vez é mais ampla.
“Esse é um pavilhão que vai tentar trazer toda a ciência para busca de soluções, para mostrar a urgência em reduzir as emissões, em proteger bilhões de pessoas no mundo inteiro dos eventos extremos que já estão acontecendo. Então é uma conexão com políticas públicas”, afirmou.
Erro estratégico
Pioneiro na definição dos chamados “limites planetários” (PB, na sigla em inglês para Planetary Boundaries), a partir dos quais é possível estimar a saúde do planeta, Rockström disse lamentar que boa parte da população e seus governantes não tenham assimilado a real dimensão do problema.
“Estou muito desapontado porque, embora a maioria dos cidadãos em todo o mundo esteja preocupada com as mudanças climáticas e entenda que nós as estamos causando, eles não estão muito bem informados sobre os riscos de exceder 1.5ºC e não estão muito bem informados sobre os limites planetários. Então, sim, isso é um problema real”, afirmou.
Sobre a posição dúbia do Brasil, que oscila entre vanguardista climático e gigante petroleiro, Rockström disse enxergar que a eliminação gradual dos combustíveis fósseis é o futuro. “Continuar nesse caminho é um erro, e espero que possamos ter uma discussão aberta para desviar o Brasil desses equívocos”, disse.
Bill Gates
Carlos Nobre comentou a recente carta pública à COP30 na qual o bilionário Bill Gates, antigo aliado do discurso ambientalista, se reposicionou em relação ao enfrentamento às mudanças climáticas, ao defender que a melhoria das condições de vida ao redor do planeta deveria receber mais atenção do que a redução de emissões e as mudanças climáticas.
“Embora precisemos limitar o número de dias extremamente quentes e frios, também precisamos garantir que menos pessoas vivam na pobreza e com problemas de saúde, para que o clima extremo não represente uma ameaça tão grande para elas”, escreveu Gates, no documento.
Para Nobre, a nova posição do bilionário é “completamente sem sentido”. “Ele parece dizer o seguinte: ‘Não, não vai dar para reduzir emissões, elas vão continuar, então vamos colocar ênfase na adaptação.’ Mas com as ondas de calor que nós estamos tendo agora, já são mais de 500.000 mortes. Se a gente chegar a 2ºC de aquecimento, vão ser milhões de mortes por ano”, lembrou.
Segundo ele, a adaptação é essencial, mas se tornará inviável se o aquecimento do planeta se agravar. “A partir de um certo ponto, o planeta vai ficando inabitável. Será um ecocídio, um suicídio ecológico. Se a gente chegar nesse limite, não haverá como adaptar mais nada.”
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O post “Inédito na história das COPs, pavilhão busca unir ciência planetária e políticas públicas” foi publicado em 10/11/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima
