Floresta ocupa uma área de 52 hectares
A Ilha do Campeche, situada a aproximadamente 1,5 km da costa leste de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, destaca-se por suas praias paradisíacas, águas cristalinas e areias brancas, além de abrigar sítios arqueológicos com inscrições rupestres datadas de milhares de anos.
Tombada como Patrimônio Arqueológico e Paisagístico em 19 de julho de 2000 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Ilha do Campeche é formada por costões e morros recobertos de Mata Atlântica. Pesquisadores conseguiram catalogar mais de 150 desenhos espalhados por toda a ilha – desenhos geométricos, com formas humanas e de animais – em 21 sítios arqueológicos que podem ser vistos durante as caminhadas pelas trilhas existentes no local.
A região ao redor da Ilha é parte integrante do bioma da Mata Atlântica, contribuindo para sua riqueza em diversidade biológica. Protegida pelo tombamento federal, a ilha busca equilibrar o turismo com a preservação ambiental, enfatizando a importância de práticas sustentáveis para garantir a conservação desse ecossistema único.
A Ilha é singular em sua biodiversidade e importância para a sustentabilidade. Sua relevância vai além do patrimônio cultural tombado, incluindo a proteção de habitats marinhos que promovem a conservação de tartarugas, aves migratórias e outros animais.
Trabalho de Educação Ambiental e Patrimonial
A Ilha implementa diversas práticas de sustentabilidade para preservar seu ecossistema. Isso inclui a conscientização patrimonial e ambiental entre os visitantes, promovendo a coleta seletiva de resíduos e a minimização do impacto humano. As trilhas e áreas sensíveis são delimitadas, reduzindo a interferência das plantas nativas. Além disso, há esforços para proteger a vida marinha, especialmente as tartarugas que utilizam as praias para reprodução.
Atualmente, o lugar é preservado pelo IPHAN. Em entrevista à Coordenadora do programa de visitação e conservação da ilha, Dafne Reinisch, explicou como é feito o trabalho do Instituto para preservar o local.
“É mais do que água cristalina e areia branca, é história viva”
A coordenadora do Programa de Visitação e Conservação da Ilha do Campeche, Dafne Reinisch — programa de gestão que vem sendo desenvolvido desde o tombamento, falou sobre as medidas adotadas para preservar esse pedaço único de natureza. “Com todo esse monitoramento é um programa de visitação já estabelecido, recebemos os visitantes explicando o zoneamento, legislação e atividades permitidas.”
Ela destacou a importância da educação patrimonial e ambiental, abordando trilhas terrestres e atividades de mergulho e a importância da gestão do turismo a partir do Programa de Visitação e Conservação da Ilha do Campeche. “Na atividade de contemplação, jamais tocamos em algo, não alimentamos os peixes para fotos. Tentamos causar o menor impacto possível.”
A ilha, rodeada pela Mata Atlântica, revela diversos ecossistemas durante um único passeio. “As zonas de conservação marinha são vitais, evitando acesso a berçários de espécies marinhas. Nossa abordagem é focada na educação ambiental e patrimonial.”
Ao longo da trilha, os visitantes podem encontrar quatis, mas é feito um alerta que destaca a perda de espécies nativas devido à introdução desses animais. O foco é preservar a integridade da ilha, com o intuito de conscientizar todos sobre o impacto humano ao visitar.
Mata Atlântica e suas belezas
Ao chegar, é possível ter acesso a algumas trilhas. Um local místico e histórico, onde homens primitivos viveram há cerca de 5 mil anos, deixando como grande legado a maior concentração de inscrições rupestres da costa brasileira Santa Catarina.
A trilha do Letreiro dura cerca de 30 minutos, morro acima e envolta à Mata Atlântica, tendo também como recompensa uma vista panorâmica da costa leste da Ilha, voltada para o Oceano Atlântico. E, após uma descida íngreme com chão arenoso chega-se ao costão onde está localizado o sítio arqueológico que possui o maior número de inscrições rupestres, incluindo as máscaras e a arte reconhecidas como únicas no mundo, excepcionalidade que fundamentou o tombamento da Ilha como Patrimônio Arqueológico e Paisagístico.
A trilha volta norte, também envolta por remanescentes de mata nativa, percorre a Pedra do Rosa, passando também pela Pedra Fincada; por costão com inscrições rupestres; pela Pedra Preta do Sul, sítio arqueológico com cerca de 20 inscrições; pela Pedra do Ferro Eletrico, conhecida pelo ponto que, curiosamente, desorienta bússolas e pela Praia da Enseada, na qual há também um sítio arqueológico com cinco oficinas líticas.
Durante o passeio, Giliane Bruna, Monitora credenciada pelo IPHAN e que atua no Programa de Visitação e Conservação da Ilha do Campeche, mostrou como a vegetação se estabeleceu de novo na Ilha, após um grande desmatamento que ocorreu no século XVIII. Durante o percurso, é possível admirar a linda paisagem e árvores típicas do local, como o araçá, cujo tronco se assemelha ao da goiabeira, descamando como a maioria das espécies da família Myrtaceae, sendo lisos e parcialmente alaranjados , nativo do bioma Mata Atlântica, presente principalmente em florestas de planícies, como as restingas e vegetação de praias.
Pescadores reivindicam direito de fazer o passeio
Para chegar à Ilha é necessário o uso de embarcações. Existem três pontos para iniciar a travessia: na Praia da Armação, na Praia do Campeche e na Barra da Lagoa. Na primeira e na última opção o transporte é realizado por barcos; na segunda, por meio de botes infláveis.
O transporte e desembarque na Ilha do Campeche estão diretamente relacionados com a proteção e conservação desse Patrimônio Ambiental Natural e Cultural. Durante a alta temporada, entre dezembro e março, a capacidade é de 800 pessoas por dia. Já na baixa temporada, são 700 pessoas por dia. Somente na última temporada, a praia recebeu uma média de 87 mil visitantes.
De acordo com o vice-presidente de associação de pescadores da ilha, João Esperandio, todos os pescadores, durante a alta temporada, interrompem a pesca para realizar o turismo. “Somos pescadores artesanais há mais de 40 anos. Por exemplo, meu avô, praticamente a vida dele foi na praia da Ilha do Campeche. Trabalhava com pesca, depois foi meu pai, a prefeitura quer ter o poder de todo o transporte da ilha”, alegou. Atualmente, são 70 famílias de pescadores artesanais da praia da Armação que possuem o passeio para Ilha do Campeche como complemento de renda.
Em outubro de 2023, foi firmado acordo definindo que o desembarque de visitantes à Ilha do Campeche deveria ser realizado apenas pelos signatários do Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), a saber: Associação dos Pescadores Artesanais da Praia da Armação – APAAPS (baleeiras abertas), Associação das Empresas de Transporte Náutico da Barra da Lagoa – ATBL (escunas “Aquarium”, “Lagomari” e “Queribim”), Associação dos Barqueiros de Transportes da Praia do Campeche – ABTC (botes de borracha) e a ACOMPECHE. Nessa mesma ocasião, teve início a discussão de um novo sistema de controle de acesso à Ilha, a partir de pulseiras, com a definição de um Grupo de Trabalho (GT).
Em dezembro/2023, foi expedida ordem judicial, determinando que o Município de Florianópolis cumpra o acordo, fiscalizando e impedindo o transporte de passageiros até a Ilha do Campeche por terceiros não signatários do TAC.
A decisão foi alvo de recurso interposto pelos transportadores não signatários do TAC, ainda pendente de julgamento. Em sede de tutela provisória, porém, o respectivo Desembargador Relator no Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4), em 15/janeiro/2024, proferiu decisão no sentido de que, após a implantação do sistema de controle que respeite o limite de ingresso de pessoas na Ilha do Campeche, estaria suspensa a obrigação do Município de Florianópolis de impedir o transporte de passageiros até a Ilha do Campeche por terceiros não signatários do TAC.
No dia 19 de janeiro deste ano, foi realizado o primeiro encontro do Grupo de Trabalho (GT), no qual houve a continuidade dos debates acerca do histórico e das sugestões para aprimorar a gestão e proteção da Ilha do Campeche, ocasião em que não houve avanço da proposta do Município.
Até o momento, não houve implantação de qualquer sistema pelo Município de Florianópolis, ente que permanece obrigado não só a realizar a fiscalização, mas também a impedir o transporte de passageiros até a Ilha do Campeche por terceiros não signatários do TAC, questão que, como tudo indica, ainda será bastante debatida nos próximos meses, principalmente para fins de evitar retrocessos na gestão e proteção do Patrimônio Ambiental Natural e Cultural da Ilha do Campeche.
Para saber mais acesse; https://patrimonioilhadocampeche.com.br/
Reportagem e fotos – Larissa Nunes – Jornalista da Frente Parlamentar Ambientalista
O post “Ilha do Campeche: conheça para preservar um paraíso envolto pela beleza da Mata Atlântica” foi publicado em 25/01/2024 e pode ser visto diretamente na fonte Frente Ambientalista