Em uma mensagem de vídeo transmitida na Cerimônia do Memorial da Paz, ocorrida no Japão nesta quinta-feira (6) , o secretário-geral da ONU, António Guterres, prestou homenagem às vítimas do bombardeio atômico de Hiroshima, que devastou a cidade em 1945.
“Setenta e cinco anos atrás, uma única arma nuclear causou morte e destruição indescritíveis nesta cidade”, disse ele em seu discurso. “Os efeitos permanecem até hoje”.
No entanto, ele observou que Hiroshima e seu povo optaram por não se caracterizar pela calamidade, mas por “resiliência, reconciliação e esperança”.
Como “inigualáveis defensores do desarmamento nuclear”, os sobreviventes, conhecidos como hibakusha, transformaram sua tragédia em “uma voz unificadora para a segurança e o bem-estar de toda a humanidade”, disse ele.
O nascimento da ONU naquele mesmo ano está indissoluvelmente entrelaçado com a destruição causada pelas bombas nucleares que caíram em Hiroshima e Nagasaki.
“Desde seus primeiros dias e resoluções, a Organização reconheceu a necessidade de eliminar totalmente as armas nucleares”, disse Guterres. No entanto, esse objetivo permanece inalcançado.
Controle de armas cada vez menor
A rede de controle de armas e de transparência e os instrumentos de construção de confiança estabelecidos durante e depois da Guerra Fria estão se desgastando, disse o chefe da ONU. Setenta e cinco anos depois, o mundo ainda precisa entender que as armas nucleares diminuem, e não reforçam, a segurança, declarou.
Contra o pano de fundo de divisão, desconfiança e falta de diálogo, juntamente com os Estados modernizando seus arsenais nucleares e desenvolvendo novas armas e sistemas perigosos, ele disse temer que a perspectiva de um mundo livre de armas nucleares “esteja escapando ainda mais do nosso alcance”.
“O risco de armas nucleares serem usadas intencionalmente, por acidente ou por erro de cálculo é alto demais para que essas tendências continuem”, acrescentou o chefe da ONU, repetindo seu apelo aos Estados para que “retornem a uma visão e caminho comuns que levem à total eliminação das armas nucleares”.
Hora de dialogar
Embora todos os Estados possam desempenhar um papel positivo, os países que possuem armas nucleares têm uma responsabilidade especial: “eles se comprometeram repetidamente com a eliminação total de armas nucleares”, lembrou Guterres.
“Agora é a hora do diálogo, de medidas de fortalecimento da confiança, reduções no tamanho dos arsenais nucleares e maior restrição.”
Pedindo proteção e fortalecimento da arquitetura internacional de não proliferação e desarmamento, o chefe da ONU citou a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, no ano que vem, como uma oportunidade para os Estados “se voltarem a essa visão compartilhada”.
Ele também disse desejar ver a entrada em vigor do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, juntamente com o do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, que “continuam sendo uma prioridade para entrincheirar e institucionalizar a norma global contra testes nucleares.”
A lembrança sobre o ataque contra Hiroshima ocorre em meio à pandemia de COVID-19, que o secretário-geral disse ter exposto tantas fragilidades do mundo, “inclusive diante da ameaça nuclear”.
“A única maneira de eliminar totalmente o risco nuclear é eliminar totalmente as armas nucleares”, explicou.
“As Nações Unidas e eu continuaremos trabalhando com todos aqueles que buscam alcançar nosso objetivo comum: um mundo livre de armas nucleares”, concluiu o secretário-geral.
Realmente não há vencedor em uma guerra nuclear, disse o presidente da Assembleia Geral da ONU, Tijjani Muhammad-Bande.
“Devemos nos comprometer com o desarmamento nuclear, pois nunca haverá justificativa para a dizimação causada por armas nucleares”, enfatizou, exortando todos a “trabalhar incansavelmente” para fazê-lo.
Chamando o Tratado de Proibição de Armas Nucleares de “um acordo importante” no desarmamento nuclear, ele pediu assinatura e ratificação de todos os Estados-membros.
“Em memória das vítimas de Hiroshima e Nagasaki, vamos trabalhar juntos para criar o futuro que queremos: um futuro livre da ameaça existencial de armas nucleares”, concluiu o presidente da Assembleia.
Fonte
O post “Hiroshima escolhe reconciliação e esperança 75 anos após a bomba” foi publicado em 6th August 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ONU Brasil