Com mais de 100 municípios em situação de emergência, mais de 60 mil pessoas desabrigadas e desalojadas e 20 mortos até o momento, o sul da Bahia enfrenta um quadro drástico de fortes chuvas que tem muitas causas.
Reflexo direto da crise climática, dois motivos principais são o fenômeno La Niña e o aumento da temperatura das águas do oceano Atlântico. Os temporais intensos e de duração fora do normal, um dos piores desastres da história da Bahia, podem deixar de ser atípicos com o agravamento da emergência climática.
E um dado mostra que a mineração terá papel importante nisso: o governo da Bahia, nas mãos de Rui Costa (PT), investiu impressionantes R$ 600 milhões em pesquisa mineral somente nos anos de 2019 e 2020.
Esse valor inclui a fase de autorização de pesquisa e de lavra. A Bahia é, disparado, o estado que mais investiu em pesquisa mineral. Se considerarmos o período de 2010 a 2020 a cifra ultrapassa R$ 1,8 bilhão em gastos.
A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), caso único no país, tem se empenhado diretamente em atrair o maior número possível de mineradoras para a Bahia. O tom adotado pela CBPM e por seu presidente, Antonio Carlos Tramm, é de celebrar os resultados do setor em solo baiano.
Mais de 80% do que foi investido em 2019 e 2020 está concentrado nas cidades de Juazeiro (30%), Jaguarari (20%), Itagibá (18%) e Jacobina (12%). O cobre lidera entre as substâncias, com mais de 44,65% de investimentos, seguido pelo ouro com 18% e pelo níquel com 17%.
Cobre e níquel estão entre os “minerais estratégicos” para a transição energética do mundo e a demanda por esses minerais está subindo exponencialmente.
Sul da Bahia já enfrenta crise climática e mineração
O sul da Bahia, área afetada pelas fortes chuvas, também encara gigantes projetos minerais, como o Porto Sul, tocado pela Bamin (Bahia Mineração), controlada pela Eurasian Resources, do Cazaquistão.
A região é duramente atingida também pela exploração massiva de eucalipto , com centenas de milhares de hectares de “falsas florestas”, sobretudo da Suzano (que adquiriu a Fibria e a Aracruz Celulose), empresa que coleciona violações socioambientais, conflitos com comunidades tradicionais e não raro usa o mesmo modal logístico que a mineração também utiliza, como no Maranhão .
O projeto do Porto Sul, concentrado em Ilhéus, inclui um gigante complexo portuário, uma mina de minério de ferro em Caetité (já afetada pela exploração de urânio ) e a ferrovia Oeste-Leste (Fiol). Com previsão de inauguração para 2026, o terminal terá capacidade para escoar até 42 milhões de toneladas por ano de minério, grãos e outros produtos para países como a China.
As obras, em andamento, já secam nascentes, derrubam áreas da Mata Atlântica e prejudicam a vida de moradores.
Nada disso parece ser um problema para a CBPM. Tramm, o presidente, defende dedução fiscal para a pesquisa mineral, inclusive. Segundo ele , é “um absurdo” que isso não exista no Brasil.
“É preciso que o governo tome providências quanto ao título minerário, permitindo que ele seja utilizado como garantia de financiamento. Pois, o mercado de pesquisa não pode ficar na mão apenas de grandes empresas. É preciso incentivar a atuação do médio e pequeno empresário”, pede o presidente da CBPM.
Seu discurso está alinhado com a Frente Parlamentar da Mineração, o lobby em Brasília e a tentativa de reformar o Novo Código de Mineração. O título minerário como garantia para financiamento foi incluído no relatório do GT que ficou para ser decidido em 2022 . O incentivo para o pequeno e médio minerador é pauta chave dos parlamentares que defendem o setor.
Enquanto isso, o Sul da Bahia recebeu apenas 2,1% das verbas federais para prevenir desastres e Jair Bolsonaro reduziu os investimentos na Defesa Civil em 43% em 2021 .
Mais de 50 empresas iniciaram produção mineral na Bahia em 2021. Setor cresce 60% pelo segundo ano consecutivo.
A Bahia virou a bola da vez para a mineração no Brasil. 50 novas mineradoras começaram a produzir na Bahia em 2021.
Dos 417 municípios baianos, 231 têm a mineração como uma de suas atividades econômicas em algum período dos últimos seis anos.
Os novos empreendimentos em andamento no entorno da Fiol e outros em prospecção são destacados pela CBPM.
Estão previstos R$ 70 bilhões em investimentos no setor mineral na Bahia até 2025. Isso é cerca de 35% dos aportes previstos em todo o Brasil , segundo o IBRAM.
Caderno recém-lançado pela CBPM destaca que a mineração baiana cresce 60% pelo segundo ano consecutivo em 2021. Nem a pandemia, lembram, foi capaz de parar esse processo.
“Na esteira da Fiol, a CBPM já trabalha para atrair mais investimentos às oportunidades identificadas na região e, também, em estudos de novas jazidas minerais a 100km de distância de cada lado dos trilhos”, afirmou Tramm.
A produção mineral do território baiano está entre as cinco maiores do Brasil, com liderança na extração de bentonita, barita, cromo, diatomita, magnesita, talco, urânio e vanádio. A Bahia ocupa ainda a segunda posição na extração de quartzo, grafita e sal-gema. Tem destaque também a produção de água mineral, cobre, ouro e feldspato. Pedras preciosas, rochas ornamentais e fosfato também figuram na lista.
O faturamento de 2021 ficou em R$ 8,15 bilhões. A Bahia é líder nacional na produção de 18 minerais.
A parte de “Mineração e Sustentabilidade” do site da CBPM se enrola e acaba por repetir em 4 tópicos o mesmo texto , destacando na verdade “as oportunidades em negócios minerais” na Bahia.
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O post “Governo da Bahia gastou R$ 600 milhões em pesquisa mineral nos últimos 2 anos. Crise climática pode se agravar.” foi publicado em 28th December 2021 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Observatório da Mineração