DO OC – Maio começou com mais um alerta sobre os impactos das mudanças climáticas. Alberta, província petroleira no oeste do Canadá, padece por incêndios florestais que já tiraram mais de 29.000 pessoas de casa. Até a manhã desta quarta-feira (10), 81 incêndios estavam ativos, sendo 24 fora de controle. No sábado (6), quando o governo local declarou estado de emergência , havia mais de 100 incêndios ativos. Ao menos 390.000 hectares já queimaram neste ano em Alberta.
A temporada de fogo na província começa naturalmente em maio, mas o estopim para o alastramento das queimadas tem relação com o tempo quente e seco fora do comum para a primavera canadense. Em Fort McMurray , por exemplo, a temperatura chegou a 32,5°C semana passada. No momento, a máxima é 20°C, mas a tendência é voltar a subir no decorrer da semana e alcançar 33°C. Fort McMurray foi arrasada pelo fogo em 2016 .
Segundo o Relatório Nacional de Incêndios Florestais , na primeira semana de maio, o número de incêndios no país em 2023 (639) já havia ultrapassado a média de dez anos (517). O relatório também explica que as condições atmosféricas no oeste canadense gerariam ventos moderados e fortes com potencial para espalhar o fogo. Enquanto que a secagem do solo da floresta aumentaria as chances de incêndios causados por raios.
Pesquisas citadas em artigo publicado no Canadian Journal of Forest Research, em 2021, mostram que houve aumento na área queimada e na duração da temporada de incêndios no oeste e norte do Canadá. Um estudo de 2017, por exemplo, sugeriu que a frequência de condições climáticas extremas que contribuem para incêndios no oeste canadense aumentou de 1,5 para seis vezes na década anterior. A pesquisa sugere que isso ocorreu por causa das mudanças climáticas.
O último relatório sobre mudanças climáticas do governo canadense foi publicado em 2019 e mostra que a temperatura no país aumentou aproximadamente o dobro da taxa média global, com a temperatura média anual canadense subindo cerca de 1,7°C no período de 1948 a 2016. No mundo inteiro, o aumento foi de 1,9°C entre 1850 e 2019.
A situação de Alberta é tão trágica que no dia 4 de maio o Instituto Cooperativo de Estudos de Satélites Meteorológicos da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, identificou uma pirocumulonimbus – nuvem artificial capaz de produzir raios e ventos – oriunda de incêndios a oeste de Edmonton, capital da província. Imagens de satélite do Copernicus Sentinel-3 mostraram que, sábado (6), uma nuvem de fumaça causada pelos eventos em Alberta alcançou o Círculo Polar Ártico.
A província da Colúmbia Britânica também teve incêndios registrados. Quatro estavam fora de controle na divisa com Alberta nesta segunda-feira (8). Algumas áreas também começaram a enfrentar enchentes semana passada por causa do derretimento rápido da neve provocado pelas altas temperaturas. O último alerta de inundação foi emitido na manhã de segunda-feira.
O feitiço contra o feiticeiro
Keith Stewart, estrategista sênior de energia no Greenpeace Canadá, reforça que Alberta é o “coração” da indústria petrolífera canadense. São produzidos 3,8 milhões de barris de petróleo por dia, principalmente nas areias betuminosas, que podem emitir de três a cinco vezes mais gases de efeito estufa do que a média global por barril de óleo por requerer mais energia para a extração.
Conforme mostra o inventário de gases de efeito estufa do Canadá, o setor econômico de gás e petróleo é a maior fonte de emissão de gases de efeito estufa no país. É responsável por 28% do total das emissões canadenses, atrás do setor de transportes (22%). Além disso, os bancos canadenses têm ganhado destaque no financiamento da indústria de combustíveis fósseis. No ano passado, o Royal Bank of Canada (RBC), por exemplo, investiu US$ 42,1 bilhões, um crescimento de 4,18% comparado a 2021, para a produção.
Stewart acredita que há razão para otimismo no Canadá devido a ações do governo federal. “O governo federal prometeu limitar e depois reduzir as emissões do setor de petróleo e gás. E o orçamento federal de 2023 fez um grande investimento em eletrificação, que substituirá o petróleo e o gás como fonte de energia para carros, caminhões e para aquecer ou resfriar edifícios”, comenta. A pedra no meio do caminho é justamente a indústria. “Nosso maior problema é a enorme riqueza e o poder da indústria do petróleo”, completa.
Os incêndios em Alberta, no entanto, obrigaram as empresas de petróleo e gás a suspender os trabalhos. Não há condições para produzir sem riscos. (PRISCILA PACHECO)
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