O evento teve como centralidade trazer a temática para o parlamento estimulando discussões que levem a soluções práticas e efetivas no congresso
Nesta terça-feira, 26, a Frente Parlamentar Mista Ambientalista, por meio de seus Grupos de Trabalho de Racismo Ambiental e Clima, em parceria com a Legisla Brasil, realizou um debate para tratar sobre o racismo ambiental e como as emergências climáticas estão relacionadas às políticas públicas.
Estiveram presentes, os coordenadores, deputada Taliria Petrone (PSOL-RJ), coordenadora do GT Clima, deputada Carol Dartora (PT- PR), coordenadora do GT de Racismo Ambiental, e o deputado Nilto Tatto (PT-SP), Coordenador da Frente Ambientalista na Câmara. Além disso, estiveram presentes organizações da sociedade civil, assessorias parlamentares e parlamentares parceiros.
O evento teve como objetivo central trazer a temática para o parlamento, estimulando discussões que levem a soluções práticas e à efetiva incidência do congresso. A crise climática impacta diariamente a vida de muitas pessoas, principalmente comunidades negras, quilombolas, periféricas e indígenas, que estão na linha de frente desses desafios.
Durante o debate, a deputada Carol Dartora (PT-PR) enfatizou a relevância do debate, destacando que muitas dificuldades de integrar vida urbana e meio ambiente estão relacionadas ao racismo ambiental, uma questão ainda pouco conhecida. “Não há mais como fechar os olhos para as consequências de anos pela não priorização da natureza e hoje estamos vendo as consequências acontecerem, tem sido um grande desafio para o poder público criar soluções neste momento, estamos vendo caos em várias cidades, alagamentos, deslizamentos”.
A deputada ainda afirmou que estão sendo pensadas propostas para produzir soluções possíveis para as emergências e eventos climáticos que vêm cada dia mais atingindo as cidades e com isso as populações que mais sofrem, que são as pessoas negras, quilombolas e indígenas. “Realizar uma oitiva dos relatos dessas pessoas que sofrem com essa violência de forma qualificada para a construção coletiva de soluções eficazes aos problemas enfrentados” pontuou.
Já a deputada Taliria Petrone (PSOL-RJ) apontou para as tragédias provocadas pelas mudanças climáticas no Rio de Janeiro, seu estado, onde as chuvas frequentemente resultam em alagamentos e catástrofes, afetando majoritariamente pessoas negras. “Chuva se torna sinal de alagamento, enchente e catástrofe e quem sofre com isso em sua grande maioria são as pessoas negras”.
“Que a gente consiga sair com o compromisso de levar Brasil afora as necessidades de políticas públicas que juntem o entendimento de uma emergência climática com o racismo ambiental, é preciso que a gente tenha as políticas por equidade e justiça social, garantindo que as comunidades marginalizadas tenham voz nas decisões que afetam seu meio ambiente e suas vidas”, completou a coordenadora do GT Clima.
O deputado Nilto Tatto (PT-SP) ressaltou a necessidade de união de forças no Congresso Nacional para enfrentar as crises climáticas. “Este evento teve como objetivo central trazer a temática para o parlamento, estimulando discussões que levem a soluções práticas e à efetiva incidência do congresso.”
Nilto também destacou as contribuições que os povos tradicionais têm feito ao longo da história, “tudo aquilo que contribuiu com a própria produção da ciência para mostrar que precisamos rever nossa relação com o meio ambiente já vinha do próprio ensinamento desses povos e dessas comunidades, o movimento ambientalista foi entendendo”.
O coordenador também apontou a relação entre desigualdade social, histórico de opressão e impactos das mudanças climáticas. “Hoje está mais patente quem sofre mais, de um país que foi construído com quase 400 anos de escravidão, quase extermínio total dos povos originários, nós construímos um dos países mais desiguais do planeta e hoje quando a gente observa os eventos extremos em decorrência das mudanças climáticas, fica mais patente para o conjunto da sociedade quem sofre mais as consequências, nessas inundações quem está perdendo a sua casa, seus bens, suas vidas, quem sofre mais com esse valor extremo não tem ar condicionado, não tem ventilador, racismo ambiental é isso, são essas as consequências”, disse.
O deputado federal Bohn Gass (PT-RS), enfatizou a importância de não tratar essa questão como periférica. “Não está dado, nós precisamos construir isso, desde a compreensão do que é a questão do racismo e as pessoas que mais sofrem são prejudicadas. A crise climática tem cor, classe, nenhuma casa de uma pessoa rica desmoronou porque eles têm estrutura e a construção deles será em espaços que não haverá desabamento. Quem está na região de risco é quem não teve outro lugar para ir, então tem classe, tem cor”, afirmou.
Desigualdade Ambiental e Social
A declaração de Iya Katiuscia de Yemanjá, representante do Terreiro Òbá Labi, destacou o papel das comunidades tradicionais na formulação de políticas públicas. Ela ressalta que, historicamente, essas comunidades foram marginalizadas e negligenciadas em discussões políticas e planos de ação. “Há um tempo atrás a nossa comunidade se perguntou onde estávamos nas políticas públicas, e hoje eu sento nesta mesa com muito orgulho, enquanto comunidade tradicional eu gostaria de falar sobre políticas públicas e a gente não vai conseguir fazer sem convidar efetivamente os sujeitos que são afetados pelas não políticas construídas todos esses anos, quando a gente pensa em desastres ambientais, a gente tem que pensar nessas pessoas, eu venho de um território sem saneamento básico”, pontuou.
A professora Angela Gomes, Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil de Contagem- MG, em sua fala, trouxe a interseção entre questões ambientais e sociais, destacando o conceito de racismo ambiental. Ela argumenta que é fundamental desconstruir a ideia de que desastres naturais são eventos totalmente independentes da influência humana e das disparidades sociais. Ao mencionar os diversos ecossistemas presentes no país, ela sugere que as consequências dos desastres ambientais são desigualmente distribuídas entre diferentes comunidades, muitas vezes refletindo e ampliando disparidades raciais e socioeconômicas.
“A intensificação dos eventos climáticos atinge a todos, mas a repercussão e intensidade de seus impactos não serão vivenciados da mesma forma”
Angela apresentou dados sobre a relação entre desigualdade econômica e emissões de carbono, mostrando que os 10% mais ricos do Brasil são responsáveis por quase 60% da renda nacional. Essa concentração de riqueza tem implicações significativas em termos de consumo e estilo de vida. No entanto, quando se trata de emissões de carbono, a situação é diferente. Ela apontou que os 50% mais pobres emitem apenas 10% do total de carbono. Isso sugere que as pessoas com menor renda têm uma pegada de carbono relativamente menor. Sua observação é de que as pessoas mais pobres são predominantemente pessoas negras, destaca como a desigualdade econômica e racial estão interligadas, afetando não apenas a distribuição de riqueza, mas também questões ambientais.
Reportagem – Larissa Nunes – Jornalista da Frente Parlamentar Mista Ambientalista
O post “Frente Parlamentar Ambientalista realiza debate sobre emergências climáticas e racismo ambiental” foi publicado em 28/03/2024 e pode ser visto diretamente na fonte Frente Ambientalista