O resultado da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP25) foi frustrante no que se refere ao compromisso dos países de assumir metas mais ambiciosas para a redução das emissões, mas a maior atuação da sociedade civil e do setor privado foi um fator positivo do evento realizado até o último fim de semana em Madri, na Espanha, sob a presidência do Chile.
A avaliação é de representantes do corpo diplomático de Espanha e Chile, assim como de membros da academia presentes em encontro que reuniu em torno de 30 pessoas na sede do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), na capital fluminense, na última terça-feira (17). A intenção do evento foi compartilhar reflexões e discutir desafios para o futuro do combate às mudanças do clima.
“Infelizmente, os resultados não foram tão ambiciosos como gostaríamos, mas foi um evento importante (…). Houve mobilização da sociedade civil e das empresas”, disse o cônsul-geral da Espanha no Rio de Janeiro, Luis Prados Covarrubias. “Foi útil para difundir a consciência da importância de agirmos rápido.”
Na opinião do cônsul-geral, a atuação de empresas e da sociedade civil como um todo pode gerar pressão sobre os governos nacionais, que se verão obrigados a acelerar o cumprimento das atribuições frente ao Acordo de Paris, firmado em 2015. “A Espanha assumiu a responsabilidade de sediar a cúpula porque tem compromisso com o tema”, salientou.
De acordo com Covarrubias, a Espanha já mantém uma posição destacada mundialmente na produção de energias renováveis — é o quinto país do mundo em potência eólica instalada e a 12ª potência mundial em capacidade da produção de energia renovável — e tem como meta aumentar para 70% o componente de energia renovável em sua matriz energética até 2030, atingindo a neutralidade de emissões de CO2 em 2050.
O país, ao lado do Peru, lidera a mobilização de atores no eixo temático de “transição justa” no combate às mudanças climáticas. Em setembro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou uma nova iniciativa que visa garantir que a criação de emprego decente e a proteção dos meios de subsistência estejam no centro dos esforços dos países na ação climática.
A iniciativa foi desenvolvida pela Cúpula de Ação Climática, juntamente à Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a outros membros da Área de Ação dos Impulsionadores Sociais e Políticos da Cúpula, co-liderada por Espanha e Peru.
“O mundo espera soluções concretas e mais ambiciosas. As novas gerações esperam mais de nós, pedem resposta mais sólida e urgente”, disse por sua vez o cônsul-
A professora adjunta da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Letícia Cotrim da Cunha — co-autora do sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) — alertou durante o evento para o aumento das emissões de gases de efeito estufa desde a aprovação do Acordo de Paris.
“O ritmo atual de emissões arrisca provocar mudanças irreversíveis”, disse. Segundo ela, as emissões globais de gases aumentaram 4% desde 2015, enquanto seria necessário reduzi-las em mais de 7% ao ano na próxima década para atingir as metas do acordo climático.
Aprovado por 195 países, o Acordo de Paris visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. Isso exigirá reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global, em 45% até 2030, e alcançar a neutralidade de carbono em 2050.
A professora também considerou os resultados da COP25 como frustrantes, especialmente diante da falta de consenso sobre as regras do mercado de carbono. Novas negociações serão realizadas em novembro do ano que vem em Glasgow, na Escócia, durante a COP26.
“O governo britânico também ficou decepcionado com os resultados (da COP25). Nem todos os países mostraram ambição suficiente. Assegurar essa ambição é nosso maior desafio para a COP26”, disse o cônsul-geral do Reino Unido no Rio de Janeiro, Simon Wood.
De forma a garantir mais ambição na implementação de suas metas, o acordo exige que cada país prepare e comunique Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) a cada cinco anos. Esse ciclo começa em 2020, cinco anos após as nações terem apresentado suas primeiras NDCs.
Segundo Wood, entre os focos da próxima conferência estão discussões sobre financiamento, sobre soluções baseadas na natureza e de adaptação e resiliência. “Para nós, além do brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), nossa prioridade internacional é a COP26”, disse. “Temos mais oportunidades do que barreiras para a transição a um futuro com menos carbono”, declarou.
Kimberly Mann, diretora do UNIC Rio, lembrou que o secretário-geral da ONU se disse decepcionado com o resultado da conferência deste ano, mas que não pretende desistir, uma vez que ativistas e jovens estão se fazendo ouvir nas ruas. “A mudança climática não é mais um problema de longo prazo. A crise atinge desproporcionalmente os mais vulneráveis. É necessária vontade política para mudar o curso dessa história”, declarou a diretora do UNIC Rio.
I am disappointed with the results of #COP25 .
The international community lost an important opportunity to show increased ambition on mitigation, adaptation & finance to tackle the climate crisis.
But we must not give up, and I will not give up.
— António Guterres (@antonioguterres) December 15, 2019
Durante a COP25, o secretário-geral da ONU reconheceu que líderes empresariais e financeiros têm feito sua parte para vencer as mudanças climáticas. Mais de 170 grandes empresas globais se comprometeram a definir metas científicas e verificáveis de redução de emissões.
“Em apoio a esses esforços, convoco vocês, líderes do setor privado e da sociedade civil, a desafiarem seus governos a aproveitarem esta oportunidade para esclarecer suas políticas de desenvolvimento econômico que permitirão que suas empresas invistam decisivamente em um consumo líquido zero de emissões de carbono no futuro”, disse Guterres na ocasião .
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