O lobo-guará é uma das espécies associada às unidades de conservação com maiores restrições. Foto: Nando Bonfim/CC BY-SA 4.0 O objetivo primordial de uma unidade de conservação é proteger a fauna e flora nativa, mas existem diferentes níveis de proteção, das mais restritivas às mais flexíveis aos usos humanos. Pesquisadores se debruçaram sobre uma importante região de Cerrado para entender como essas diferenças afetam a biodiversidade, em especial os mamíferos. Com a análise de imagens de várias armadilhas fotográficas, mapearam a ocorrência de espécies como o lobo-guará, o tamanduá-bandeira, a onça-parda e a anta, e concluíram que elas são pelo menos 5 vezes mais comuns em áreas com maior status de proteção do que áreas similares com grau menor de proteção.
A pesquisa foi feita na região do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu , um conjunto de unidades de conservação (UCs) que cobre uma área de 1.783.799 hectares no norte e noroeste de Minas Gerais. Os pesquisadores analisaram milhares de registros obtidos por mais de 500 armadilhas fotográficas instaladas na região do mosaico – 264 distribuídas por 5 UCs de proteção integral e outras 253 instaladas ao longo de 2 UCs de uso sustentável – e indicaram, em geral, as áreas sob maior nível de proteção no mosaico têm 2.7 vezes mais espécies de maior porte e 2.4 vezes mais espécies ameaçadas de extinção em nível mundial.
O artigo publicado nesta quarta-feira (9) no periódico científico Biological Conservation, às vésperas do Dia Nacional do Cerrado (11 de setembro), é assinado por um grupo de pesquisadores de instituições brasileiras e britânicas.
“Este é um dos primeiros estudos que mostra de forma sistemática que a criação de parques tem um efeito extremamente positivo sobre a biodiversidade do Cerrado. Apesar de intuitivo, comprovar a importância das áreas protegidas mais restritivas com dados robustos é essencial neste momento em que elas estão sofrendo pressão de diversos setores, que aparentemente não entendem o valor da biodiversidade e de ecossistemas saudáveis”, comenta o autor principal do estudo, Guilherme Braga Ferreira, da University College London e do Instituto Biotrópicos.
Das 21 espécies avaliadas, nove tiveram maior ocupação em UCs mais restritas. A única que teve ocorrência maior em UCs de uso sustentável foi a raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), um pequeno canídeo ameaçado de extinção que parece melhor adaptado às áreas mais antropizadas. Outras 11 espécies não apresentaram fortes relações de acordo nível de proteção da área, em sua maioria animais menores e menos ameaçados.
“Apenas 3% da área original do Cerrado está protegida por áreas com maior nível de proteção. Nosso estudo indica que a manutenção e, idealmente, a expansão destas áreas deveriam ser consideradas prioridades se quisermos garantir a preservação de animais icônicos do Cerrado brasileiro”, acrescenta Guilherme.
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O post “Estudo reforça importância de áreas protegidas mais restritivas para fauna nativa do Cerrado” foi publicado em 10th September 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco