Cádmio, cromo e ferro são contaminantes tóxicos para o homem; quanto maior a acumulação destes metais no organismo maiores os riscos
Imagem Ilustrativa
Metais nocivos em potencial à saúde humana – como cádmio, cromo e ferro – foram encontrados nas águas de 14 riachos das três áreas de drenagem que abastecem municípios da região do Alto Uruguai, no norte gaúcho. A presença das substâncias está relacionada à ocupação agrícola na área. Para chegar à constatação, pesquisadores da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) e da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) estudaram o caranguejo Aegla por ele permanecer por longos períodos no mesmo local e, assim, acumular muitos contaminantes, sendo considerado um bom “bioindicador”. Os resultados estão na edição da última segunda-feira (15/3) da Brazilian Journal of Biology.
“Não é possível fazer uma relação direta entre as respostas em Aegla e seres humanos. Entretanto, a análise de qualidade de água a partir de bioindicadores é aceita pela comunidade científica como um método eficiente de diagnóstico precoce da condição ambiental”, explica uma das coordenadoras do estudo, Albanin Mielniczki-Pereira.
De acordo com ela, metais pesados podem derivar de fertilizantes fosfatados e são contaminantes tóxicos para o organismo humano. “Podemos dizer que quanto mais tempo uma pessoa tiver contato com cádmio, cromo e ferro, maiores são as chances de eles se acumularem no corpo e, a longo prazo, terem efeitos nocivos”, detalha.
O estudo encontrou uma correlação entre os resíduos e a prática agrícola, atividade econômica importante no norte do Rio Grande do Sul. Na análise de Mielniczki-Pereira, a solução para o impasse é mitigar os impactos da atividade no ambiente hídrico.
“Um caso de sucesso foi o projeto “Caleli” que visou trabalhar com a melhoria ambiental dos imóveis rurais, fazendo recuperação de áreas de borda de Rios, instalando pontilhões rurais sobre os riachos, para passagem de máquinas agrícolas e animais, instalação de sistemas de tratamento de efluentes das residências rurais e atrelado a estes cursos de capacitação dos agricultores”, recorda a docente.
O projeto
Caleli serve como acrônimo para Campo, Leãozinho e Ligeirinho, três rios analisados pela pesquisa que abastecem a cidade gaúcha de Erechim, onde o plantio de soja e milho, além da criação de gado leiteiro, são o carro-chefe da economia. Implementado entre 2014 e 2015, o programa mobilizou 64 famílias que vivem da agricultura em uma parceria entre a Prefeitura Municipal, a URI, a Furg e o Sindicato Unificado dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Alto Uruguai (Sutraf-AU), viabilizada pelo fundo da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento).
À época, os três mananciais eram as únicas fontes de água para a cidade, que enfrentava ocasionais crises de escassez de água, de acordo com Douglas Cenci, presidente do Sutraf-AU. O Caleli surgiu, inclusive, na esteira de “termos de ajustes de conduta ajuizados pelo Ministério Público para os agricultores se comprometerem a preservar os rios”, recorda. “Antes da parceria com a prefeitura e as universidades, eram apenas ações de conscientização e doação de mudas para plantio nas margens”.
Segundo o agricultor, o problema da quantidade de água foi solucionado por uma obra de transposição no Rio Cravo, entregue pela Corsan no fim de 2019. “Foi o que garantiu nos últimos dois anos que Erechim não ficasse em racionamento”, conta. “Mas a preservação ambiental, das nascentes, dos leitos e da mata também devem ser observados. O assoreamento do rio pode atrapalhar também na qualidade”, acrescenta.
A proposta de continuação do projeto Caleli contemplaria a conservação do Rio Cravo, mas ainda precisa não apenas de aprovação como também de execução. Uma segunda etapa, com orçamento previsto de R$ 500 mil, foi sancionada pela Câmara dos Vereadores de Erechim em 2016. Mas, segundo Douglas Cenci, o prefeito que assumiu em 2017, Luiz Francisco Schmidt (PSDB), nunca executou a verba, deixando o programa em suspenso. Com o início de um novo mandato na prefeitura em 2021, o sindicato retomou tratativas para retomar o Caleli.
LEIA TAMBÉM: BIÓLOGOS DO SAAE MONITORAM QUALIDADE DE ÁGUA BRUTA SEMANALMENTE EM INDAIATUBA/SP
Enquanto o projeto continua em espera, Cenci afirma que o Sutraf-AU mantém o trabalho de conscientização, mas lamenta a falta de estrutura. “Tínhamos uma gestora ambiental que fazia a execução lá na ponta e contávamos também com o auxílio das universidades para ministrar as oficinas. Agora é mais difícil”.
De acordo com o artigo “A contribuição do projeto CALELI no município de Erechim – RS”, publicado na revista Gestão Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais, foi possível avaliar o avanço na recuperação e preservação das áreas degradadas, a sensibilização e interesse dos agricultores no cuidado com os recursos naturais e o despertamento da população ao consumo consciente e responsável. “Os resultados ambientais da implantação das medidas de adequação ambiental durante o período de 21 meses são visualmente perceptíveis.”
“Ainda há muita coisa a se fazer, porém este foi um projeto piloto com iniciativa do órgão mais próximo do agricultor, sendo o SUTRAF-AU, juntamente com os órgãos públicos municipais, onde a parceria foi executada com muito sucesso atendendo todas as metas”, conclui. Cenci vai na mesma direção: “São experiências que a gente tratou como um piloto que pudesse ser desenvolvido em outros municípios. Estamos dispostos a agregar mais entidades para incentivar atividades como essas”.
Planos para Erechim
A Secretaria de Meio Ambiente de Erechim, esclarece que, o Caleli era uma fração de todo um grande programa de conservação e recuperação ambiental da bacia dos rios Campo, Leãozinho e Ligeirinho. “Existe uma área de proteção ambiental dentro da bacia hidrográfica e um plano de manejo que estabelece uma série de regramentos e programas”, acrescenta.
A atual gestão prefere não fazer manifestações sobre as definições e encaminhamentos tomados durante o último governo, mas o secretário de Meio Ambiente, Cristiano Moreira, reforça trabalhar neste momento para retomar, atualizar e conversar com a sociedade para reconstruir o plano de manejo dos rios Leãozinho e Ligeirinho.
O presidente do Sutraf-AU disse à Globo Rural que havia uma audiência pública sobre a pauta marcada para o dia 04 de março, que acabou suspensa em razão da pandemia. O Rio Grande do Sul está sob decreto de bandeira preta, com restrições de mobilidade por critérios sanitários.
Impacto da atividade agrícola
Segundo a professora Albanin Mielniczki-Pereira, a contaminação da água por metais pesados não chegou a ocasionar casos de intoxicação em humanos, na área de estudo. “Acompanhamos a evolução nas últimas duas décadas por meio de biomonitoramento na região do Alto Uruguai. Uma análise de longo prazo ainda não foi realizada, mas seria pertinente”, afirma.
A hipótese da pesquisa surgiu das oscilações em marcadores de estresse no organismo de caranguejo Aegla. “Estas alterações apresentaram correlação com o nível de alguns metais coletados no sedimento dos riachos e também com o percentual de agricultura nas imediações das áreas de drenagem”, explica Albanin.
De acordo com o estudo, metais pesados podem ser bioacumulados em organismos vivos e esse processo é influenciado pelas estratégias alimentares e de agricultura. “Aplicação descontrolada de fertilizantes e defensivos agrícolas podem ter impactos na precipitação, erosão do solo e topografia da bacia hidrográfica. Os animais em áreas mais próximas a terras agricultáveis eram os que mais sofriam com estresse oxidativo”, discrimina a publicação.
Fonte: Globo Rural.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS: CONCESSIONÁRIAS DE SANEAMENTO NO RIO DEVERÃO LEVAR ESGOTO A 1,7 MILHÃO DE LARES
ÚLTIMAS NOTÍCIAS:BONS VENTOS PARA O SANEAMENTO NO PAÍS
O post Estudo detecta relação entre ocupação agrícola e metais pesados em rios do RS apareceu primeiro em Tratamento de Água .
Fonte
O post “Estudo detecta relação entre ocupação agrícola e metais pesados em rios do RS” foi publicado em 19th March 2021 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Tratamento de Água