Quando a somali Asha Abdikadir Ahmed cozinhava com lenha, seu restaurante ficava cheio de nuvens de fumaça. Mas agora, quando ela coloca um briquete no fogo, além de não produzir fumaça, o fogo dura toda a manhã .
“O briquete é melhor do que a lenha que eu estava usando antes. É mais barato e mais eficiente”, diz Asha, de 42 anos, que dirige seu próprio restaurante no campo Bur Amino para refugiados somalis. O local fica no sul da Etiópia e Asha está lá desde que foi inaugurado, em 2011.
Ao colocar molho sobre um ninho de espaguete para um cliente, Asha explica que, em vez de pagar 150 birr etíopes (cerca de 5 dólares) por dia para que um pacote de madeira seja usado como combustível, ela compra dois briquetes da lenha ecológica que custam 5 birr cada (0,20 dólar) e duram o dia inteiro.
Nos últimos meses, Asha tem comprado os briquetes de uma cooperativa de mais de 70 refugiados somalis e mulheres etíopes locais, que vêm transformando a árvore prosopis juliflora em uma fonte de energia mais limpa que traz uma série de benefícios para a economia e para o meio ambiente.
Espécie nativa da América do Sul e Central, a prosopis foi plantada na África durante o século XX e foi inicialmente utilizada como lenha para cozinhar, madeira para construção de casas e cercas para gado. Além disso, era fonte de sombra para o sol escaldante e de defesa contra a erosão do solo.
Mas, com até 15 metros de altura, ganhou uma reputação assustadora por ocupar terras de pastagem arável, ameaçando os meios de subsistência de agricultores e pastores. Os animais ficam doentes ou morrem se comer suas vagens e podem ser perfurados por seus longos e afiados espinhos. Já as raízes profundas da árvore sugam água em áreas já secas.
“As desvantagens são muitas. Onde há uma árvore de prosopis, não pode haver mais nada. Ele absorve toda a água e seca a terra”, diz Moge Abdi Omar, coordenadora do projeto da Organização da Juventude para Mulheres e Pastoral, Wa-PYDO, que estabeleceu a cooperativa em 2017 com o apoio da Fundação IKEA.
A cooperativa Bur Amino compra prosopis de outra cooperativa que corta a árvore em Dollo Ado, na fronteira com a Somália. Juntas, as mulheres tiram a casca da árvore para fazer briquetes de queima lenta e sem fumaça para vender a clientes como Asha. As sobras são vendidas como lenha para cozinhar.
A Etiópia abriga mais de 700 mil refugiados. Atender às necessidades energéticas dessa população no campo de Bur Amino e em outros lugares continua a ser um grande desafio.
Pelo menos quatro em cada cinco pessoas deslocadas à força em todo o mundo utilizam madeira para cozinhar e se aquecer. Isso não apenas leva ao desmatamento e à degradação ambiental, mas também pode inflamar as tensões entre refugiados e membros das comunidades que os acolhem, que também dependem da madeira como fonte de combustível.
Além disso, o aumento do desmatamento geralmente obriga mulheres e meninas refugiadas a caminhar cada vez mais longe para encontrar lenha, expondo-as ao risco de serem estupradas ou espancadas enquanto percorrem longas distâncias sozinhas.
“Antes, costumávamos andar sete ou oito quilômetros no mato. Havia mais perigos”, relembrou Saredo Abdi, de 26 anos, membro da Cooperativa Bur Amino.
Além de fornecer um combustível mais limpo, Moge diz que o projeto tem três benefícios claros.
“Como um dos nossos objetivos é buscar meios de subsistência, os refugiados conseguem renda e oportunidades de emprego. Em segundo lugar, o projeto ajuda a resolver o problema que eles têm com a comunidade anfitriã. Por último, ajuda a resolver questões de proteção, como a violência de gênero”, acrescenta Moge.
O apoio que a cooperativa recebeu da Fundação IKEA ilustra como uma abordagem mais ampla para lidar com situações de deslocamento pode resultar em maior autossuficiência de refugiados e apoio às comunidades anfitriãs.
Tais exemplos de parcerias estratégicas e solidariedade foram apresentados no Fórum Global sobre Refugiados, uma reunião que ocorreu em dezembro, em Genebra.
O fórum reuniu governos, organizações internacionais, autoridades locais, sociedade civil, setor privado, membros da comunidade anfitriã e refugiados para discutir as melhores políticas para proteger refugiados e ajudá-los e seus anfitriões a prosperar e encontrar soluções duradouras.
A mais de 20 quilômetros de Dollo Ado, a cooperativa de colheita de prosopois trabalha arduamente, cortando árvores que transformaram essa área seca e empoeirada em uma floresta espinhosa e verde. Burros zurrem quando uma linha de camelos é cuidadosamente conduzida através do mato.
Os homens jogam os troncos da árvore em uma pilha. Cada peça pode custar entre 5 birr (0,20 dólar) e 20 birr (0,70 dólar).
Apoiando o machado no ombro, Aden Abdullahi Ahmed, membro da Cooperativa Dollo Ado, diz que espera que seu trabalho beneficie as gerações futuras de refugiados e das comunidades anfitriãs. Sua cooperativa começou com dez membros refugiados e etíopes. Hoje, são 40.
“Utilizar a prosopis será muito útil para energia”, diz o jovem de 30 anos. “Ao mesmo tempo, você está erradicando e limpando a árvore. Talvez os agricultores se beneficiem da terra.”
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