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Esta foi uma semana agitada na seara da crise climática. Começou com uma reunião internacional de alto nível em Brasília – que buscou aparar arestas e colocar todo mundo na mesma página para o início da Conferência do Clima da ONU em Belém, a COP30, daqui menos de um mês. Mas veio logo com um balde de água fria, um chamado à realidade de que o problema segue avançando muito rapidamente.
Sobre a reunião, estou me referindo a pré-COP, um encontro de ministros e representantes de mais de 70 países convocado pela presidência brasileira da COP30 para avaliar quais são os pontos onde há mais divergências e que vão precisar de um empenho grande para se chegar a acordos durante a cúpula em Belém.
Foi um encontro de dois dias, na segunda e na terça-feira, não de negociação propriamente dita, mas de tentativa de alinhamento entre os países. De conversas sobre o estado geral de ânimos em relação aos principais assuntos que devem ser discutidos para valer na COP30, como o abandono dos combustíveis fósseis, as metas dos países para a redução de emissão de gases de efeito estufa e para adaptação aos efeitos da mudança do clima. E, claro, o grande nó de todas as COPs, o financiamento necessário para pagar tudo isso.
Como resumiu de modo muito diplomático o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, quando questionado sobre se eles haviam chegado a algum consenso durante o encontro, o que se conseguiu foram “avanços para consensos”. Impossível não dar uma risadinha ao ouvir isso, porque é bem assim, com pequenos passos, que esse processo avança.
Enquanto isso, porém, por mais que haja, desde 2015, um compromisso formal dos países para conter o aquecimento do planeta, o Acordo de Paris, a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera – justamente o que vem aumentando a temperatura da Terra – não para de subir. Mais do que subir, na realidade. Está batendo recordes.
É o que revelou nesta quarta-feira (15) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que divulgou seu boletim anual sobre gases de efeito estufa. Os níveis de dióxido de carbono, o CO2, atingiram os mais altos níveis no ano passado, o que compromete o planeta com um aumento de temperatura de longo prazo.
Isso porque o CO2 tem uma vida longa, de modo que mesmo se hoje fosse possível zerar as emissões, o que está lá hoje na nossa atmosfera vai continuar tendo efeito sobre o planeta por muitos anos.
De acordo com a OMM, a taxa de crescimento de CO2, que era de 0,8 partes por milhão (ppm) por ano na década de 1960, passou para 2,4 ppm por ano na década de 2011 a 2020. Mas de 2023 para 2024, a concentração média global de CO2 deu um salto de 3,5 ppm — o maior aumento desde o início das medições modernas, em 1957.
Em comunicado à imprensa, Ko Barrett, que é vice-secretária-geral da OMM, disse que “o calor retido pelo CO2 e outros gases de efeito estufa está turbinando nosso clima e levando a eventos meteorológicos cada vez mais extremos”. E alertou: “Reduzir as emissões é, portanto, essencial não apenas para o clima, mas também para a segurança econômica e o bem-estar das comunidades”.
O aviso chegou depois da realização da pré-COP, mas certamente vai ecoar durante a COP. As medidas que estão sendo adotadas em todo mundo, como o aumento da geração de energia por fontes renováveis, ainda não estão resultando em uma diminuição efetiva das emissões dos países.
Em parte porque ainda não se vê uma transição energética real – no sentido de que o uso de combustíveis fósseis ainda não está caindo (apesar da boa notícia da semana passada, de que as renováveis superaram o carvão na geração de energia no primeiro semestre deste ano). Outra parte dessa equação são as emissões provenientes dos incêndios florestais do ano passado – além de Amazônia e Pantanal, houve muitas queimadas em todo o planeta, o que também é uma das consequências do aquecimento global.
Mas a OMM alerta que tem um outro fator importante pesando no aumento da concentração de gases na atmosfera. Os sumidouros naturais do planeta, ou seja, aqueles que absorvem CO2 – papel desempenhado pelas florestas, pelos mangues e pelos oceanos –, parecem estar ficando menos eficazes nessa função. E isso é um outro impacto das mudanças climáticas, levando a um perigoso ciclo vicioso climático.
A pré-COP não tinha o objetivo de avançar em negociações nem conclusões. Era um momento para medir a temperatura também entre os países para ver onde eles estão mais propensos a avançar e onde não estão. Uma das dificuldades, como era de se esperar, é em torno do abandono dos combustíveis fósseis – compromisso listado há dois anos, na COP de Dubai, mas que ainda não viu avanço.
Há uma pressão clara por mais recursos e uma expectativa grande em torno do relatório que deve ser divulgado até o fim do mês por Corrêa do Lago e pelo presidente da COP29, Mukhtar Babayev. A dupla ficou responsável por desenhar um mapa do caminho para chegar a US$ 1,3 trilhão por ano como financiamento climático.
No ano passado, na COP de Baku, os países concordaram em mobilizar US$ 300 bilhões, o que é uma ninharia diante das necessidades de mitigação e adaptação. O acordo, considerado pífio, acabou gerando um sentimento de muita insatisfação, principalmente entre os países menos desenvolvidos e mais afetados pela mudança climática. E também, claro, de desconfiança no processo.
A pré-COP tinha um pouco a função também de retomar essa confiança – o que, aparentemente, a presidência brasileira conseguiu. Agora é ver como isso pode se concretizar, para que Belém possa ser a tal COP de implementação que o governo almeja.
Fonte
O post “Enquanto a negociação climática anda devagar, a concentração de CO₂ dispara” foi publicado em 16/10/2025 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Agência Pública