DO OC – Em um cenário em que 75% das emissões de gases de efeito estufa vêm de petróleo, carvão e gás, é preciso estabelecer metas globais para a redução do uso de combustíveis fósseis, e não apenas contabilizar os avanços na geração por fontes renováveis.
O alerta foi feito por Catherine Abreu, diretora do International Climate Politics Hub (ICPH), durante o evento “Implementando a decisão da COP28 sobre combustíveis fósseis”, realizado nesta segunda-feira (23/6) na Conferência de Bonn, na Alemanha, preparatória para a COP30.
Promovido pelo Observatório do Clima e pela Oil Change International, o evento reuniu quatro especialistas para tratar do que, nas palavras de Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do OC e moderador da mesa, é o “grande elefante” na sala global.
“Os combustíveis fósseis estiveram historicamente ausentes das negociações climáticas da ONU até muito recentemente. E também há hoje uma forte reação de alguns países contra um avanço feito nesta agenda há um ano e meio em Dubai”, declarou.
Angelo se referia ao parágrafo 28 do Balanço Global do Acordo de Paris, que pela primeira vez mencionou a necessidade de uma “transição para longe dos combustíveis fósseis” de forma “justa, ordenada e equitativa”, com ação já nesta década crítica, embora sem clareza sobre o como fazer isso.
Catherine Abreu defendeu a necessidade de que essas lacunas sejam preenchidas na COP30, para que o mundo possa se concentrar “na causa da crise climática”.
“O que foi acordado na COP 28 é de fato um pacote, certo? Estamos falando do pacote necessário para fazermos a transição dos combustíveis fósseis para a energia renovável e a eficiência energética. Não é um menu de opções. É uma série de coisas que precisam se mover simultaneamente para diminuirmos, de forma justa e equitativa, a causa da crise climática”, defendeu.
Segundo ela, as estimativas mais recentes mostram que o avanço nas energias renováveis não foi acompanhado de redução na demanda e no consumo de fósseis.
“Precisamos que essa energia renovável que está entrando tire os combustíveis fósseis de operação. E essa é a parte desse pacote de transição energética que não está indo bem”, disse.
A declaração foi ao encontro do que mostrou estudo divulgado nesta semana pela Oil Change International, segundo a qual os principais países produtores estão levando adiante planos de expansão na produção de óleo e gás de 2025 a 2035 – 70% dela capitaneada por Estados Unidos, Canadá, Noruega e Austrália.
“O Brasil, anfitrião da COP30, está entre os 10 maiores (…) até 2035, com planos de expansão que superam os da Arábia Saudita”, apontou o estudo.
Integrante da mesa, Romain Ioualalen, da Oil Change International, avaliou esse contexto como um “planejamento ativo contra os objetivos do Acordo de Paris”.
“Há uma necessidade urgente de parar a expansão dos combustíveis fósseis globalmente, de forma equitativa, porque se isso não for feito, nenhum dos objetivos do Acordo de Paris será alcançável. É simples assim”, disse.
Sobre a necessidade de mais investimentos em fontes renováveis de energia, Janet Milongo, da CAN International, destacou que um problema a ser resolvido o quanto antes é a falta de equidade nas diferentes regiões do mundo.
Ela citou o caso da África, que, embora rica em recursos naturais, é destinatária de apenas 2% dos fluxos globais de financiamento para fontes renováveis. O continente, afirmou ela, tem potencial para implementar um sistema 100% livre de fósseis. “As energias renováveis são na verdade o combustível mais barato disponível”, destacou.
O indiano Trishant Dev, da CSE, defendeu que as decisões sobre a transição energética sejam inseridas em contextos mais amplos de “desenvolvimento, emprego e segurança energética”.
Na Ìndia, segundo ele, a demanda por energia cresce a taxas de 6% a 7% ao ano. E a queima do carvão é a base da matriz energética do país, sendo que 95% da produção está concentrada em três estados.
“Isso significa que esses estados são economicamente dependentes do carvão, têm uma economia menos diversificada, e uma saída do carvão não afetaria apenas a geração de energia, mas também os empregos locais, as receitas fiscais e os serviços públicos”, lembrou.
Nos países desenvolvidos, em contrapartida, o contexto é mais favorável a uma transição rápida.
“Muitos países ricos têm economias mais diversificadas e redes de segurança mais fortes para absorver esses choques de transição. E, o mais importante, eles esgotaram seu orçamento global de carbono. Portanto, quando pedimos a um país em desenvolvimento que tenha o mesmo tipo de cronograma que um país desenvolvido, estamos ignorando esses contextos energéticos locais, trajetórias de desenvolvimento e restrições estruturais”, acrescentou Dev.
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