Ontem o filho 03 do pior presidente de todos os tempos (e, como emendou um leitor, o pior ex-presidente de todos os tempos também), Eduardo Bolsonaro, mais conhecido como Dudu Bananinha, fez um
discurso hediondo num evento (se não fizesse, não seria um Bolsonaro).
Mas, antes de mais nada, vamos falar sobre o tal evento. Foi uma
manifestação pró-armas que reuniu menos gente que o escudo de PMs que estava lá para protegê-los e também para impedir que a “multidão” fosse até a Praça dos Três Poderes. Obviamente, a data do evento não foi à toa: foi para marcar meio ano da tentativa de golpe em 8 de janeiro, que todo mundo sabe que foi organizada e comandada por Jair, seus filhos e seus asseclas.
E que deu muito ruim pra eles, porque todas aquelas cenas de depredação da Câmara de Deputados, do Senado e do STF provaram que eles são vândalos, terroristas, golpistas sem nenhum patriotismo com o país. Acho que nem os bolsonaristas mais fiéis acreditam que aquela galera era feita de esquerdista infiltrado. Eram eles cumprindo o que Jair prometeu durante anos — que ele não aceitaria a derrota nas urnas. A CPI é mais um tiro no pé, como já se previa.
Além do mais, ontem marcou um ano do
assassinato do policial Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu. Tesoureiro do PT local, Marcelo fez uma festa temática para comemorar seu aniversário de 50 anos. Um policial penal bolsonarento, Jorge Guaranho, invadiu a festa e atirou em Marcelo, que revidou, mas morreu, deixando quatro filhos, um deles com um mês de vida. Guaranho está preso e deve ser julgado este ano. Lógico que ele deve ser uma inspiração para muitos fascistas.
E lógico que o evento pró-armas de ontem sabia de tudo isso. Mas como chamar a atenção para uma manifestação tão pífia? Caprichando no discurso de ódio, claro.
Dudu discursou: “Prestem atenção na educação dos filhos. Tirem um tempo para saber o que eles estão aprendendo nas escolas, para que não haja espaço para professores doutrinadores tentarem sequestrar nossas crianças. Não há diferença entre um professor doutrinador e um traficante de drogas, que tenta sequestrar e levar nossos filhos para o mundo do crime. Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior, porque ele vai causar discórdia dentro da sua casa, enxergando opressão em todo tipo de relação. Ele vai falar que o pai oprime a mãe, a mãe oprime o filho e que a instituição chamada família tem que ser destruída”.
O deputado federal de extrema-direita comparou uma das categorias mais respeitadas e necessárias em qualquer país com traficantes! Ah, mas ele não disse “professores”, disse “professores doutrinadores”, dirão os defensores do indefensável. Quem decide quem é doutrinador? Eles? Qualquer professor que diga o óbvio em sala de aula — como, por exemplo, pontuar que os Bolsonaros representam a extrema-direita — é chamado de doutrinador por eles. Era o que a Escola sem Partido tanto queria — criminalizar os professores, afirmando que todos os “doutrinadores” deveriam ser processados e demitidos. Foi o que o MBL passou anos fazendo (e eu creio que parte do imenso declínio do grupelho reaça foi também por causa disso).
Atacar professor é bandeira da direita não só no Brasil, mas em todo mundo. Por aqui, Jair já editava e espalhava vídeos difamando professores e pesquisadores desde 2012. Muito antes da existência do Gabinete do Ódio, seus assessores faziam isso abertamente, usando verba parlamentar e se valendo da im(p)unidade parlamentar para que Jair não fosse processado. Em 2018, assim que foi
eleita deputada estadual por Santa Catarina, uma olavete bolsonarista mandou que alunos gravassem seus professores e enviassem os vídeos para ela, a fim que eles pudessem ser perseguidos pela extrema-direita.
O pior ministro da educação da história, Abraham Weintraub (hoje brigado com Bolso), passou todo seu mandato atacando professores. Em 2019, por exemplo, falou que as universidades públicas eram “
madraças de doutrinação ” que só faziam balbúrdia, plantavam maconha e produziam drogas sintéticas. Dois anos depois, foi condenado a pagar R$ 40 mil por danos morais coletivos a professores.
Há inúmeros outros exemplos de como o governo Bolsonaro (e seus apoiadores) odeiam professores (e estudantes; odeiam a educação). Não é por acaso que um de seus alvos preferidos seja Paulo Freire, reverenciado no mundo inteiro, exceto pelos fascistas do Brasil, que o veem como doutrinador-mor .
Pois bem, a indignação contra Dudu foi geral. Já hoje de manhã, o Psol entrou com ação no Conselho de Ética da Câmara de Deputados, e o Twitter dedicou o dia inteiro para pedir a cassação de Dudu. “Esse insulto a todos os professores brasileiros não pode ficar impune”, disse Guillherme Boulos. Será que Dudu perderá seu mandato? (espero que sim, mas duvido).
Há um outro contexto que deve ser considerado. Os meses de março e abril deste ano foram tomados pelo pânico. 2023 já é o ano (e ainda estamos na metade) que registra o maior número de ataques em escolas brasileiras em sua história. Segundo o Instituto Sou da Paz, foram sete ataques, enquanto 2022 teve seis, e 2019, três. Em vinte anos de ataques a escolas, houve 139 vítimas, 46 delas, fatais. Armas de fogo (as mesmas que a manifestação pró-armas de ontem defende) foram usadas em 48% dos massacres e foram responsáveis por 76% das vítimas fatais.
Os massacres aumentaram justamente a partir do primeiro ano do governo Bolso, que iniciou a flexibilização do acesso a armas de fogo. Em 2020 não houve massacres porque as escolas estavam fechadas, devido à pandemia. Mas já em 2021 eles voltaram com força.
E nenhum desses massacres foi cometido por “professores doutrinadores”. Muito pelo contrário: os autores quase sempre são homens (e meninos) brancos e héteros de extrema-direita, que idolatram Bolso e armas de fogo.
Como bem lembra Kiko Nogueira do DCM , nesse contexto dos massacres em escolas (em que muitas vezes professoras são vítimas), e no contexto do discurso de Dudu ser para um grupo pró-armas, a fala criminosa pode ser vista com um apito de cachorro (uma mensagem em código para um grupo. Como Allan dos Santos disse ao brindar com um copo de leite para defender seu mito, “entendedores entenderão”). É um convite para que os “patriotas” peguem em armas e abram fogo contra professores doutrinadores.
Se muitos dos massacres em escolas já têm as digitais dos dedos da família Bolsonaro, os próximos, depois desse discurso, terão a mão inteira.