DO OC – Ainda não se sabe o que provocou os vazamentos ocorridos nos gasodutos russos Nord Stream 1 e 2 na semana passada, mas tanto autoridades europeias quanto a Rússia , além da Otan , mencionam sabotagem de estruturas. Os gasodutos, construídos para transportar gás da Rússia à Europa pelo Mar Báltico, estão no centro de uma crise internacional desde pouco antes da invasão da Ucrânia, em fevereiro. As preocupações com a imensa nuvem de metano que se formou sobre o oceano e avançou em direção à Europa Ocidental se multiplicam: o metano é o segundo gás de efeito estufa mais importante: cada molécula de CH4 esquenta o planeta cerca de 28 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono.
Além do impacto climático específico do desastre no Mar Báltico, preocupa o possível uso de reservatórios de gás como armas em conflitos internacionais, além da vulnerabilidade dessas estruturas a ataques desse tipo. Mesmo que o ciclo do metano seja mais “rápido” — o gás emitido na atmosfera se decompõe em cerca de 12 anos, enquanto o CO2 leva 120 anos —, a sua alta capacidade de absorção de calor faz com que o gás seja um dos maiores vilões do aquecimento global.
Controlar as emissões de metano é uma necessidade imediata para garantir a meta de 1,5º do Acordo de Paris — o que, aparentemente, exigirá além de iniciativas como o Compromisso Global do Metano , mais atenção a possíveis ações de sabotagem, ataques e controle da vulnerabilidade os gasodutos, em um cenário internacional turbulento como o atual.
Segundo declarou à agência Reuters Manfredi Caltagirone, coordenador do Observatório Internacional de Emissões de Metano (IMEO, na sigla em inglês), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, este foi “muito provavelmente o maior evento de emissões de metano já registrado”. “Isso não nos ajuda em um momento em que definitivamente precisamos reduzir as emissões”, afirmou.
Na última quinta (29), o IMEO divulgou análises de imagens obtidas por satélite que confirmaram o impacto do vazamento dos gasodutos e a grande nuvem de metano no Mar Báltico. Os dados obtidos indicaram que, entre segunda (26) e quinta-feira, o raio visível da bolha de gás diminuiu de aproximadamente 700 metros para 520 metros. Na sexta (30), o tamanho era de 290 metros. No entanto, os cientistas que conduziram a análise estimaram que a quantidade de metano emitido no Mar Báltico seja “substancialmente maior” do que as emissões resultantes dos vazamentos ocorridos no México há algumas semanas.
Segundo o Sistema Integrado de Observação do Carbono (Icos, na sigla em inglês), uma rede de cientistas, o desastre da semana passada no Mar Báltico emitiu tanto metano quanto um país do tamanho da Dinamarca ou uma cidade do tamanho de Paris despejam em um ano na atmosfera. O instituto, que possui estações de observação na Suécia, Noruega e Finlândia, afirmou que as análises em solo são mais acuradas do que as por satélite, que podem subestimar a gravidade das emissões em função do tempo nublado. Em um vídeo, o Icos simula o movimento do metano pela atmosfera (aqui ).
Especialistas em política climática divulgaram em redes de pesquisadores preocupações quanto à vulnerabilidade de gasodutos e os riscos envolvidos no atual cenário internacional. Um cientista classificou o caso no Mar Báltico de “supercrime ambiental”. Segundo ele, os vazamentos mostram a alta vulnerabilidade dos gasodutos a ataques e, ao mesmo tempo, o enorme impacto climático de casos desse tipo, mesmo em estruturas consideradas “seguras”, como os gasodutos europeus.
O Nord Stream é central para o abastecimento de países europeus, que dependem do gás russo para se aquecer no inverno. A dependência do regime de Vladimir Putin só aumentou na última década – as importações russas representavam 27% do uso de gás na Europa em 2013, e chegaram a 38% em 2021. Dois dias antes da invasão da Ucrânia, a Alemanha suspendeu a aprovação do gasoduto Nord Stream 2, em reação ao reconhecimento, pela Rússia, das autoproclamadas repúblicas de Luhansk e Donetsk, no leste ucraniano.
O gasoduto russo de US$ 11 bilhões e 1.200 km foi construído para transportar gás do oeste da Sibéria para o nordeste da Alemanha, dobrando a capacidade do Nord Stream 1. Estava pronto, faltando só uma certificação do governo alemão para o início das atividades. Em março, a empresa responsável pela obra estava à beira da falência: ela encerrou os contratos com seus funcionários após os “desdobramentos geopolíticos que levaram à imposição de sanções”.
Só na Alemanha, metade das residências é aquecida com gás, e a parcela do gás natural russo no consumo do país aumentou de 40% para 55% desde 2012. Essa dependência é ainda maior em países como Áustria e Hungria (60%), Polônia (80%) e Bulgária (100%) (LEILA SALIM)
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O post “Desastre provoca emissão recorde de metano no Mar Báltico” foi publicado em 4th October 2022 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima