DO OC – Nesta sexta-feira (21/3), no primeiro Dia Mundial das Geleiras, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras (WGMS, na sigla em inglês) alertam para o ritmo acelerado de derretimento do gelo no planeta. Em 2024, pelo terceiro ano consecutivo, todas as 19 regiões glaciais registraram perda líquida de massa, totalizando 450 bilhões de toneladas de gelo a menos. A perda é a quarta maior já registrada em um ano.
O relatório “Estado do Clima Global ”, publicado pela OMM na quarta-feira (19/3), já havia destacado a situação crítica das geleiras, um dos resultados do aquecimento global. Cinco, dos últimos seis anos, registraram o recuo mais rápido de geleiras já documentado, e o período de 2022 a 2024 teve a maior perda de massa glaciar em um intervalo de três anos.
No ritmo atual, muitas geleiras do oeste do Canadá e dos Estados Unidos, da Escandinávia, da Europa Central, do Cáucaso, da Nova Zelândia e de regiões tropicais não sobreviverão ao século 21, alertam as organizações.
O WGMS, ligado à Universidade de Zurique (Suíça), estima que as geleiras já perderam mais de 9 trilhões de toneladas de gelo desde o início dos registros, em 1975. “Isso equivale a um enorme bloco de gelo do tamanho da Alemanha com 25 metros de espessura”, explica Michael Zemp, diretor do órgão. O dado não inclui as camadas de gelo continentais da Groenlândia e da Antártida.
Um estudo coordenado pelo WGMS e publicado em fevereiro na revista Nature revelou que, apenas entre 2000 e 2023, as geleiras perderam 6,5 trilhões de toneladas de gelo. Isso significa que, em 23 anos, desapareceram cerca de 73% de todo o gelo perdido desde 1975.
As regiões que mais contribuíram para essa perda global de 2000 a 2023 foram Alasca (22%), Ártico Canadense (20%), geleiras periféricas na Groenlândia (13%) e Andes (10%).
Durante esse período, o derretimento das geleiras elevou o nível do mar em 18 mm. “Isso pode não parecer muito, mas cada milímetro expõe entre 200 mil e 300 mil pessoas a inundações anuais”, diz Zemp.
Geleiras e o impacto no abastecimento de água
As regiões de alta montanha são as “torres d’água” do planeta, armazenando e fornecendo água para populações de diversas regiões. O derretimento acelerado ameaça esse abastecimento, alerta o comunicado da OMM e do WGMS desta sexta-feira. “O esgotamento das geleiras coloca em risco o suprimento de água para centenas de milhões de pessoas que vivem a jusante [o fluxo das águas vindas das nascentes], dependendo do degelo para os períodos mais quentes e secos do ano”, diz o comunicado.
Além disso, o derretimento das geleiras aumenta os riscos de enchentes. “Estamos vendo um rápido aumento da vazão de água de degelo, causando desastres como enchentes, pois o volume de água é grande”, explica Jefferson Cardia Simões, professor de glaciologia e geografia polar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em 2022, o Paquistão enfrentou enchentes severas, impulsionadas por chuvas intensas e o degelo acelerado. O especialista lembra ainda que, em outras regiões, a água das geleiras já está diminuindo tanto que ameaça o abastecimento hídrico, como ocorre em partes do Peru e da Bolívia.
Uma análise do MapBiomas Peru mostrou que entre 1985 e 2022 o país perdeu 48% da área de geleiras. “A análise revela impactos claros das mudanças climáticas, como a perda de 94,5 mil hectares de área de geleiras, com possíveis impactos no abastecimento de água em vários biomas do país e, nos Andes, transbordamento de lagos e lagoas”, explica Nicole Moreno, especialista técnica do MapBiomas Peru.
Além de serem importantes para o abastecimento de água, as geleiras desempenham um papel essencial no equilíbrio térmico do planeta. O gelo reflete parte da radiação solar de volta para o espaço, ajudando a manter as temperaturas globais mais baixas.
Com o derretimento acelerado, essa proteção natural se reduz, permitindo que mais calor fique retido na Terra, o que intensifica o aquecimento global. “As geleiras, ou melhor, a criosfera, que é a massa de gelo e neve do planeta, é uma reguladora térmica do planeta”, destaca Simões.
A geleira do ano
A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2025 como o Ano Internacional da Preservação das Geleiras e estabeleceu o dia 21 de março como o Dia Mundial das Geleiras, a ser celebrado anualmente. O objetivo é ampliar a conscientização sobre o papel essencial das geleiras, da neve e do gelo no sistema climático e no ciclo hidrológico, além de destacar sua importância para as economias locais, nacionais e globais.
A geleira South Cascade, localizada em Washington, nos Estados Unidos, foi escolhida como o “Glaciar do Ano”. As primeiras medições do gelo da South Cascade foram feitas em 1953, um ano depois da instalação das primeiras estacas. O monitoramento formal teve início em 1957. Entre 1953 e 2023 , a geleira perdeu 0,76 metros de espessura de água equivalente por ano, o que mostra que ela está recuando.
“Medições glaciológicas de longo prazo são de suma importância para rastrear a variabilidade regional. Em combinação com observações globais de satélites, podemos então fazer declarações sobre a evolução global das geleiras”, explica Samuel Nussbaumer, glaciologista da Universidade de Zurique e integrante do WGMS. (PRISCILA PACHECO)
O post Derretimento de geleiras pode deixar centenas de milhões sem água apareceu primeiro em OC | Observatório do Clima .
O post “Derretimento de geleiras pode deixar centenas de milhões sem água” foi publicado em 21/03/2025 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima