Para alunos e professores, o primeiro dia de aula é sempre uma combinação de entusiasmo, planos para o futuro e expectativa. E foi isso o que se viu na sala de aula virtual do curso promovido pelo projeto Cozinha&Voz , que lançou a segunda turma online na última segunda-feira (20).
“Eu estou muito emocionado, sou o único aluno transexual da minha faculdade e adoro aprender. Espero aprender sobre dança, poesia, música, e o que mais gosto, a culinária”, disse Klaus Antônio Miranda, estudante de turismo de 20 anos e aluno do Cozinha&Voz de Brasília (DF).
Klaus faz parte da turma de 50 alunos e alunas, homens e mulheres transexuais de Brasília, São Paulo e Espírito Santo. Assim como Klaus, muitas dessas pessoas estão desempregadas e, em meio e apesar da pandemia, buscam garantir a capacitação profissional.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um aumento de 26% no número de desempregados no Brasil só entre a primeira semana de maio e a quarta semana de junho, durante a pandemia da COVID-19. São 2,6 milhões de brasileiros que perderam o emprego em apenas sete semanas.
O Cozinha&Voz faz parte de uma ampla iniciativa de promoção do trabalho decente para pessoas em situação de vulnerabilidade, desenvolvida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), com apoio da chef Paola Carosella e da Casa Poema.
Criado na forma de aulas presenciais em 2017, o projeto promove a capacitação profissional por meio de um curso de assistente de cozinha, visando aumentar a empregabilidade de pessoas em situação de exclusão e vulnerabilidade socioeconômica.
A primeira turma da versão online do Cozinha&Voz foi lançada em abril passado e conta ainda com o apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).
“A possibilidade de começar uma segunda turma do Cozinha&Voz Web demonstra os bons resultados que conseguimos na primeira turma”, disse a oficial técnica de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da OIT, Thaís Faria.
“Começamos essa segunda turma com mais experiência e muito mais segurança de fazer um trabalho que seja acolhedor, mas forte o suficiente para proteger as pessoas durante a pandemia e garantir que elas possam sair desse período com geração de renda.”
Os alunos e as alunas irão participar de aulas diariamente ministradas online, por um período de três meses. Cada participante recebe também uma bolsa de auxílio mensal no valor de 500 reais durante todo o curso, com a contrapartida de participar e permanecer em isolamento.
Por videoconferência, conversas e aulas virtuais, o projeto oferece aulas de música, dança, poesia, palestras e debates sobre temas como saúde, racismo estrutural, discriminação e violência contra a população LGBTQI+. Especialistas, procuradores do MPT de vários estados, representantes do UNAIDS e da OIT participam de palestras.
A experiência reunida na implementação do projeto Cozinha&Voz no formato virtual levou à criação de novos módulos do curso: o Roda de Leitura, no qual a turma faz leitura comentada de um livro; e o Troca de Saberes, onde um(a) aluno(a) compartilha uma habilidade ou um conhecimento com os (as) colegas.
O Cozinha&Voz também trouxe para a versão a distância o apoio e cursos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), que ensinam e estimulam o empreendedorismo.
Empregabilidade contra a exclusão
A aula inaugural da segunda turma do curso contou com as presenças de dez procuradores(as) do MPT de Espírito Santo, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e São Paulo, entre eles, a vice-coordenadora Nacional do MPT, Ana Lúcia Gonzales, e a coordenadora nacional de Coordigualdade da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho do MPT, Adriane Reis de Araújo.
“É um trabalho relevante e a gente espera, com projetos como este, promover a empregabilidade e a transformação da sociedade”, disse Adriane Araújo.
A procuradora e gerente do projeto do MPT de Empregabilidade da População LGBTQI+, Sofia Vilela, destacou que procuradores de outros estados estavam assistindo à aula inaugural, uma vez que há interesse de levar o projeto para outras localidades.
“É bem interessante porque nós discutimos empregabilidade, racismo estrutural e a parte lúdica, a dança, a música, a poesia. Agora, durante a pandemia, além disso tudo, tem a questão financeira, que o projeto traz para essa população vulnerável”, disse ela.
“A gente estava tentando levar o Cozinha&Voz presencial para Brasília há algum tempo e não conseguia, e estamos fazendo nesse novo formato, criativo, em um momento importante”, declarou a subprocuradora-geral do Trabalho, Sandra Lia Simon.
“Eu vinha há algum tempo observando o projeto e agora estou feliz com o fato de o Cozinha&Voz ter chegado a Brasília”, reforçou o procurador do Distrito Federal e representante regional da Coordigualdade, Charles Silvestre.
Do Espírito Santo, a procuradora do MPT Sueli Teixeira Bessa disse que espera conhecer cada um(a) dos alunos(as) presencialmente em algum momento e que irá, sempre que possível, participar virtualmente das aulas.
A assessora de Apoio Comunitário do UNAIDS, Ariadne Ribeiro, falou sobre os temas que vai debater com a turma: infecções sexualmente transmissíveis, HIV e saúde mental. “Quero muito construir conhecimento com vocês. Eu não estou aqui para ensinar, estou aqui para trocar conhecimento”, disse.
A coordenadora técnica do Cozinha&Voz, a atriz e poeta Elisa Lucinda, disse que o projeto busca fazer com que, no futuro, todos sejam representados na sociedade. “Você luta contra a desigualdade, excluindo?! Não, não é possível. Nosso trabalho é mexer nas palavras, na voz de cada um na busca por uma representatividade mais justa.”
Fonte
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” foi publicado em 24th July 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ONU Brasil