Rosana, Eliane e Dinha, mulheres autônomas de São Paulo, vivem hoje cenários muito parecidos por conta da pandemia do coronavírus. Trabalhadoras ligadas à Economia Solidária viram sua renda despencar drasticamente desde os primeiros dias de março de 2020.
Sem políticas reais de enfrentamento à pandemia, que poderiam ter barrado a proliferação do vírus, diminuído o número de contaminados e de mortos, e evitado parte da precarização a vida de milhões de brasileiros, a realidade de quem vive de vendas e prestações de serviços parece estagnada.
Elas fazem parte da Associação de Mulheres da Economia Solidária e Feminista do Estado de São Paulo (AMESOL) , uma associação que funciona de forma horizontal, através de equipes e comissões de trabalho – como GTs de finanças, comunicação, infraestrutura – que buscam dividir funções e ganhos, além de gerar capacitação técnica das mulheres pra melhorar seus produtos.
A organização também atua do ponto de vista político, entendendo que a autogestão tem tudo a ver com a luta feminista e sua forma de encarar as formas de trabalho e divisão sexual das tarefas.
Maria Fernanda Marcelino é historiadora, faz parte da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e explica que a pandemia atingiu rapidamente as mulheres da Economia Solidária.
“Se você imaginar que essas mulheres vendiam seus produtos em feiras livres, em eventos, em encontros e também para uma rede de consumo consciente, do comércio justo, primeiro houve uma queda brutal nos rendimentos dessas pessoas, né? E portanto a venda de produtos que não são essenciais diminuiu bruscamente.” explica.
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“Você não compra mais a boneca, o enfeite, a biojóia, o acessório, né? São esses produtos que majoritariamente as mulheres produzem, ligados ao crochê, ao artesanato, à costura. Um tanto também da alimentação e tal”, ilustra a historiadora.
Sem os eventos, as mulheres não conseguem mais manter a renda pré-pandemia. “A medida que você vende no final de semana pra comer durante a semana, e você não está vendendo, você não tem recurso para as coisas mais básicas. Então falta recurso pro gás de cozinha, falta recurso para conta de água, de luz e para a alimentação mais básica”, conclui Marcelino.
“Minha renda hoje é de R$ 200 por mês”
Rosana Camilo tem 42 anos e hoje é diarista, artesã e musicista, exatamente nesta ordem, mas nem sempre foi assim.
Moradora de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, ela tem formação em psicologia e trabalhou por alguns anos como agente comunitária de saúde, cargo que teve que deixar por conta de uma depressão severa na época.
E foi aí que o artesanato, que ela conheceu e começou a aprender em 2006, voltou para a sua vida dez anos depois. Ela produz brincos, pulseiras, colares , tudo feito à mão com pedrarias e com a técnica macramê, que significa “nó” e tem origem nos tecelões turcos que faziam franjas trabalhadas em toalhas.
Os preços variam entre R$ 20 e R$ 250, com média de R$ 40 por um par de brincos.
Em 2016, ela começou a investir na divulgação através das redes sociais e a expor em feiras de artesanato. No final do ano seguinte, Rosana conheceu o movimento feminista e a AMESOL, que a convidou para expor nas feiras da associação. Este foi o primeiro contato de Rosana com a Economia Solidária.
Até o início da pandemia esta era sua principal ocupação – já que o marido também estava empregado – e seus ganhos ficavam entre R$ 700 e R$ 1.000 por mês.
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A pandemia chegou, seu esposo acabou demitido logo no primeiro mês e as feiras foram canceladas. Ela, que todo final de semana participava de eventos, se viu desesperada. Mãe de 3 filhos, hoje vivem na casa Rosana, o marido e o filho mais novo de 11 anos.
Como já havia trabalhado em casas de família desde os 9 anos de idade, com a quarentena teve que tornar a atividade sua principal fonte de renda novamente.
Mais de um ano depois da pandemia, a situação está complicada em sua casa. Ela tem produzido somente sob encomenda, o que fez com que seus ganhos mensais com artesanato diminuíssem. Hoje, tira entre R$ 200 e R$ 300 com artesanato por mês.
Ela conta que as campanhas da Economia Solidária impactam muito no aumento das vendas durante este período. A artesã cita uma parceira com a Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã e também a campanha #PresenteieDuasMães, ambas realizadas em 2020.
“Com a pandemia mudou tudo, especialmente no começo que não tinha intimidade com vendas pela internet. Eu postava as fotos no Instagram e Facebook, mas sem conexão com o público. Fiz curso pra entender como poderia melhorar esse processo nas redes sociais, aprendi a importância de fotos boas, de legendas bem escritas, de interação com os seguidores, um universo de informações e, aí, começou a melhorar as vendas”, conta a artesã.
“Eu cheguei a faturar R$ 12 mil e na pandemia estou vivendo de doações”
Elaine Aparecida de Souza tem 47 anos e é produtora de eventos corporativos na área de alimentação. Ou melhor, era. Assim como Rosana, hoje Elaine exerce várias profissões para conseguir manter a casa e pagar as contas. Além de trabalhar com eventos, hoje ela também vende pães, doces, bolos e está aprendendo a costurar.
Ela, que começou a trabalhar aos 14 anos, sempre vendeu doces para complementar a renda familiar. Durante a graduação de Direito, uma amiga a convidou para expor e conhecer a feira da AMESOL, e ali começou a história de Elaine com a Economia Solidária.
Logo após a graduação, enquanto estudava para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) , Eliane percebeu que já havia conquistado muitos clientes e que poderia se estabelecer no ramo de alimentos.
Através de um programa do governo municipal de Fernando Haddad , então prefeito de São Paulo, ela fez uma especialização e deixou de atender pessoas físicas para trabalhar com o ramo empresarial.
Trabalhando com alimentação de eventos, reuniões, aulas e festas de final de ano antes da pandemia, Elaine chegou a faturar 12 mil reais nos melhores meses. Isso permitiu que ela guardasse parte dos ganhos para uma emergência.
“Eu tinha feito uma reserva de grana e foi com essa reserva que a gente conseguiu passar metade do ano [de 2020]”, conta.
O dinheiro foi utilizado para manter as contas da casa e custear as consultas e tratamento de sua mãe, que há dois anos necessita de cuidados.
Hoje seu faturamento é 10% do que recebia antes da pandemia. Ela tira entre R$ 800 e R$ 1.200 por mês, já que todos os eventos estão suspensos e ela está oferecendo produtos que não faziam parte de seu portfólio.
“Tive que me reinventar para tentar conquistar uma clientela cativa. Fui me adaptando, comecei a vender bolo, depois copo da felicidade, super barra recheada, box de frutas com brownie para fazer fondue e assim por diante”, explica.
Ela explica que neste período de pandemia, muitas mulheres passaram a buscar na alimentação uma nova fonte de renda. Através de um grupo no Facebook, ela dá dicas para quem está começando, porque sabe da importância de ter apoio e alguém para socorrer.
“No ano passado tivemos algumas ajudas como a da vaquinha da AMESOL. Também fiz entrevistas que tinham ajuda de custo, comecei a fazer ovos de páscoa, vendi chocolate no dia dos namorados”, explica.
A família de Elaine tem recebido cestas básicas neste período de isolamento.
“Meu irmão mora na frente de casa, moram ele, a esposa e cinco filhos. Ele trabalhava como motorista de aplicativo, mas não conseguiu manter o carro alugado e teve que devolver. Ele paga aluguel e aí fica muito complicado. Então a comida que entra aqui também vai pra lá e a gente fica se ajudando”, ilustra a teia de solidariedade.
Durante a pandemia ela tem atendido alguns eventos. Na semana passada preparou a alimentação de um evento para oito pessoas. A produção e a entrega foram feitas de acordo com as orientações de biossegurança.
“Parece que eu voltei a viver, eu voltei a fazer uma coisa que me faz muita falta. Não é só pelo dinheiro, é a satisfação quando o cliente fala que o trabalho tava bem feito, que a comida tava gostosa. Eu gosto de montar uma mesa, gosto que a pessoa aprecie uma comidinha caseira bem feita, eu tenho satisfação quando a pessoa morde e fala que tá uma delícia. A satisfação pessoal vem antes da satisfação financeira, mas a satisfação financeira é muito necessária, tá fazendo muita falta”, conta.
Desde janeiro está empenhada também em aprender a costurar para trabalhar com a irmã para conseguir ajudar nas contas da casa enquanto ainda não tem tantos clientes.
“Perdi 90% da minha renda, estou morando em uma casa emprestada”
Assim como Elaine, Edileuza Guimarães, a Dinha, também trabalha com comida. Ela conheceu a Economia Solidária através de um folheto no colégio em que a filha estudava, e como o sonho de sua mãe sempre foi montar uma cooperativa de comida, as duas convidaram mais três vizinhas para uma palestra sobre o tema.
Moradora de Osasco, ela conta que após o impeachment contra Dilma Rousseff, em 2016, a vida das mulheres foi ficando cada dia mais precarizada.
Antes da pandemia, ela e mais 12 mulheres montaram uma cooperativa no bairro que chegou a ter uma cozinha industrial, uma loja de bolos e um restaurante – em momentos diferentes.
O antigo forno industrial foi a única coisa que sobrou do melhor período financeiro que viveram e ainda hoje é utilizado pelas mulheres que ainda trabalham com alimentação.
Antes de 2020, Dinha tirava entre R$ 3 mil e R$ 4 mil reais por mês, conseguia pagar o aluguel e as contas sem passar perrengues, mas atualmente ela e sua família vivem de favor em uma casa cedida pelo cunhado.
Com redução de 90% desse valor, ela pediu ajuda à família após ver que não conseguia mais pagar o aluguel e comprar as coisas básicas para o sustento da família. Hoje ela tira menos do que um salário mínimo por mês com seus produtos.
“As pessoas quando passam dificuldade, a primeira coisa que elas pensam em fazer é alimento pra vender pra fora, então aí a gente tem que buscar inovar. Só que com essa pandemia, a nossa inovação fica um pouco limitada, né? Mas a gente vai fazendo o que pode”, explica.
“Antes da pandemia, tudo era junto com as minhas companheiras. A gente produzia, eu colocava tudo no meu carro, saia, vendia tudo que a gente produz: pão, bolo, bolo no pote, tortas , tudo. Nossos produtos tinham em média de preço de R$ 5 até R$ 18, que eram os bolos grandes”, revela.
Ela conta que a saída de todos produtos produzidos pela cooperativa era praticamente garantida. “A gente fazia dez bolos de cada sabor, tortas, bolo no pote. As coisas saíam muito, até mesmo pra feira, a gente fazia muita feira. Nosso cuscuz vegano é um sucesso. Então, onde a gente levava, vendia”.
As vendas dos produtos continuam, mas a dificuldade agora é se adaptar às novas formas de vender, principalmente pela internet, um caminho desconhecido até então para ela.
“Além de cuidar da casa, dos afazeres, a gente ainda tem que cuidar da divulgação na internet, porque tem aquela coisa lá que a gente aprendeu que tem horário certo pra divulgar determinado produto e tal. Mas de repente nesse horário certo pra divulgar o seu produto, você tá em outra atividade”, desabafa.
“Chega sete ou oito da noite eu estou acabada”, finaliza.
Economia solidária como forma de radicalizar a democracia
Marcelino explica que a Economia Solidária é uma outra forma de olhar a economia porque coloca as pessoas como centrais.
“[As pessoas estão] No centro da economia, em harmonia com a natureza, sem relações de exploração entre essas pessoas que estão trabalhando. A questão central da Economia Solidária é a autogestão, quando as pessoas que estão trabalhando definem o que vão fazer, qual vai ser a forma de produção, de comercialização, é a radicalização da democracia, né?”.
“E a gente costuma dizer que a economia é mais solidária se ela for feminista, porque a gente vê, mesmo em espaços de autogestão, que existe divisão entre trabalhos de homens, trabalhos de mulheres”, explica a historiadora.
“A gente vê as mulheres que tão trabalhando no auto sustento, que elas seguem acumulando a dupla jornada, né? Elas continuam responsáveis pela reprodução da vida humana. Elas acumulam o trabalho doméstico e de cuidados, ao mesmo tempo produzem. Muitas vezes produzem à noite, somente depois que todo mundo tá jantado, que a roupa tá lavada, que a marmita tá pronta. Esse é só neste momento que ela vai se dedicar à produção própria”, relata fazendo referência a casos reais que acompanha.
O feminismo se relaciona com a Economia Solidária na medida em que coloca como um dos pilares a divisão sexual do trabalho, tirando a carga das mulheres de terem que arcar sozinha com todo o trabalho doméstico e de cuidados. e dando a oportunidade para as mulheres se dedicarem aos seus empreendimentos, de se profissionalizar e capacitar, investir em estudos, técnicas, além de, claro, na participação política.
“A Economia Solidária, ela não visa só o monetário”, explica Marcelino.
“Ela vê o conjunto das coisas. É comum as mulheres dizerem ‘olha, eu ganho pouco aqui, eu ganharia mais fazendo outra coisa, mas aqui eu encontro com as pessoas, aqui eu faço o que eu gosto, aqui eu consigo conciliar outras funções dentro de casa’”, explica.
“A Economia Solidária me mostrou que é possível todo mundo ganhar sem precisar passar a perna em ninguém, que é o que a gente vê acontecer muito no grupo corporativo”, conta Elaine.
Mas como funciona a Economia Solidária? Ela explica: “Na feira da AMESOL, a gente tinha um caixa único, cada um recebia de acordo com seu trabalho e o valor de seus produtos. É solidário no sentido de eu estou fazendo, tenho meu espaço pra trabalhar e o sistema de divisão a gente vai pagar igual. É 5% pra todo mundo, então se eu ganhei mil reais, é 5% em cima de mil reais e quem ganhou 5 reais, é em cima dos 5 reais”.
A produtora de eventos se emociona ao falar sobre o impacto da Economia Solidária e do feminismo na sua vida.
“A AMESOL tem um papel muito grande na minha formação de Economia Solidária, com as mulheres que compõem a AMESOL. São histórias de vidas de várias partes de São Paulo, do Vale do Ribeira”, conta.
Ela diz que se sente privilegiada por fazer parte da organização e por poder ajudar de alguma forma ‘os seus’.
“Conhecer a Economia Solidária feminista fez toda diferença na minha vida, porque essas mulheres têm histórias que se complementam com a minha. Então, as minhas histórias são as histórias delas, ainda que com diferenças, né?”, diz.
“São histórias parecidas, são histórias de mulheres que têm que batalhar pra caramba, têm que cuidar da família. Com a Economia Solidária feminista eu aprendi também a ver isso de uma forma mais leve, né? A gente sabe que pode contar com uma com a outra, trocar experiências, se ajudar. Isso é muito forte, muito importante”, relata.
No futuro ela quer repassar seus conhecimentos, fortalecer outras mulheres negras, ensinar suas técnicas de fazer ovos de páscoa e outros produtos, e assim ajudar a melhorar a vida de quem ocupa o mesmo lugar que ela na pirâmide de privilégios.
Dinha se emociona ao falar sobre a Economia Solidária
“A Economia Solidária representa os mais pobres. É qualidade de vida, é prezar pelo ser humano. É valorizar a vida, valorizar o bem-estar do ser humano, valorizar as lutas, é trazer os direitos, lutar por justiça social, Economia Solidária é direito da gente trabalhar da forma que gente gosta e dali gerar sua renda. Tudo que o sistema capitalista não é”, explica.
Ela conta que conhecer a Economia Solidária e feminista trouxe informação, base, discernimento e qualidade de vida. Além disso, fez aflorar dentro dela algo que ela, sua mãe e suas companheiras já conheciam, mas não sabiam nomear.
“Trouxe pra fora toda aquela aquela coisa de cuidados, de prezar pelo próximo, de cuidar, de solidariedade, de trabalhar e se valorizar enquanto trabalhadora. Aflorou muita coisa que a gente tinha dentro da gente e nos trouxe mais conhecimento”, continua.
“A grande importância da Economia Solidária na minha vida, e acredito que na vida das minhas companheiras também, é a gente se reconhecer como trabalhadora, a gente fazer com que as pessoas nos respeitem como trabalhadora, porque a gente gera renda, a gente é parte importante da composição da renda da nossa casa” finaliza Dinha.
Rosana, por sua vez, diz que se encontrou no movimento. “A Economia Solidária gera na gente um sentimento de pertencimento a um lugar onde a gente não se sente sozinha. Está na forma de organizar a produção, consumo e a distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano e não no capital (lucro)”.
Ela explica que os princípios de autogestão, democracia, solidariedade, cooperação, respeito à natureza, comércio justo e consumo responsável, são os principais pilares de sustentação da Economia Solidária.
“Qualquer outro modelo de organização de feiras e vendas é totalmente diferente do que encontrei dentro da Economia Solidária. A gente se organiza para que seja bom igualmente para todas as pessoas que estão em determinado grupo. Ninguém fica pra trás na Economia Solidária”, conta emocionada.
“É muito importante esse sentimento, é a autonomia que a gente alcança, é o trabalho em grupo que nos fortalece, é a nossa valorização enquanto artesãs e artesãos. Hoje poder falar que eu sou uma trabalhadora da Economia Solidária e Feminista é algo que me dá muito orgulho”, finaliza.
O abandono do Estado
“A gente pode afirmar sem nenhuma sombra de dúvida que há um abandono por parte do Estado com as mulheres”, lembra Marcelino.
E isso não vem de hoje. “Historicamente as mulheres estão nos serviços mais precarizados. São domésticas, diaristas, são boleira, salgadeiras, né? Produzem coisas em casa, artesanatos, coisas e tal pra vender, assim como também vendem coisas de catálogos, vendem um monte de outros produtos, que são formas de se manter, mas sem nenhuma seguridade social”, explica a historiadora.
“Essas mulheres antes da reforma previdenciária já tinham muita dificuldade de se aposentar, agora então há quase uma impossibilidade disso acontecer. Nós já vínhamos aí num processo de marginalização das mulheres, de não-acesso das mulheres ao trabalho formal ou trabalho com seguridade social”, explica.
A falta de renda cria, então, uma avalanche de exclusão das mulheres do mundo do trabalho. “Nestes momentos de crise, esses são os empregos que primeiro são dispensados, né? Você não vai comprar bolo, fazer festa. Você pode cortar a diarista, você pode dispensar milhares de mulheres do telemarketing”, argumenta.
“Então, sim, o Estado não olha para as mulheres. Desde não oferecer infraestrutura que ajude na reprodução da vida – e aí eu tô dizendo escolas em tempo integral, de creche, estou dizendo de saúde adequada. Porque, quando uma pessoa adoece dentro de casa, quem deixa de desenvolver algum trabalho remunerado fora são as mulheres que vão cuidar de avós, de pais, de marido, de crianças doentes. Então realmente há um abandono gigante do Estado para com as mulheres”, pontua a militante da Marcha Mundial das Mulheres.
“E para além da exploração do trabalho das mulheres, seja reprodutivo, de cuidados, também tem um outro aspecto que é a exploração do corpo, do ponto de vista da sexualidade, né?”, continua.
“A gente tem visto durante a pandemia o aumento da violência contra as mulheres. A sobrecarga do trabalho é gigante, né? E, com isso, vem as gestações indesejadas, com isso adoecimentos mentais, sofrimentos emocionais. Tudo tem penalizado com maior intensidade toda a população pobre, mas com maior intensidade as mulheres da população pobre, que são, que são majoritariamente também negras”, finaliza.
A falta de políticas voltadas para as mulheres trabalhadoras também atinge as mulheres que anteriormente trabalhavam em outras funções e neste período foram forçadas a se reinventar.
“A pandemia afetou as mulheres de forma avassaladora. Milhões de mulheres foram demitidas ou se viram forçadas a deixar seus empregos para cuidar de filhos ou familiares durante a pandemia e a previsão é que o retorno ao mercado será demorado e difícil”, conta Andréa Albuquerque, advogada de Maceió.
Ela prioriza comprar direto com quem produz, porque acredita que é uma forma de fortalecer e ajudar as pequenas produtoras. Um dos pontos centrais para que a advogada adotasse essa política particular, foi perceber que a falta de renda e a dependência financeira agravaram também o problema da violência doméstica.
“Uma saída para essas mulheres tem sido a economia solidária. A formação dessa rede de apoio tem sido fundamental neste momento. A geração de renda para mulheres não configura apenas um incremento na renda familiar, mas uma independência financeira necessária para a libertação de uma relação abusiva, por exemplo”, conta.
Ela compra produtos orgânicos cultivados pela agricultura familiar, bolos, compotas, tortas, enfeites, crochê, bonecos feito a mão, tudo diretamente da mão das mulheres.
“Comprar de mulheres da economia solidária, que é estruturada fora da mentalidade exploratória do capitalismo, contribui para o desenvolvimento de toda a comunidade, pois mulheres organizadas e fortalecidas coletivamente procuram beneficiar outras mulheres e, por consequência, suas famílias. É uma corrente do bem que se amplia constantemente”, finaliza a advogada.
“Queremos doar R$ 200 para 50 mulheres”
Durante o ano de 2020, a AMESOL começou a desenvolver ações de solidariedade em conjunto com a Marcha Mundial das Mulheres para prestar assistência para as mulheres em situação de vulnerabilidade.
Foram feitas vaquinhas on-line, rifas, captação de cestas básicas do poder público, parcerias com movimento por moradia. Agora uma nova campanha está disponível nas redes da AMESOL e da Marcha Mundial das Mulheres para continuar ajudando as mulheres que precisam pagar o aluguel e colocar a comida na mesa.
A ideia é doar pelo menos R$ 200 para 50 mulheres da associação. Para participar da campanha de doações basta entrar nas redes sociais da AMESOL ou clicar aqui .
( Fonte: Jornal Brasil de Fato)
O post “Como vivem as mulheres da economia solidária de São Paulo durante a pandemia?” foi publicado em 3rd April 2021 e pode ser visto originalmente na fonte Rede de Gestores