Na última terça-feira, participei de uma live realizada pela Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso em parceria com ((o))eco. O papo teve como foco discutir os equipamentos envolvidos na prática do montanhismo, desde caminhadas até nas pedaladas — motivo pelo qual estou aqui. Em especial a cicloviagem, modalidade que se dedica a percorrer longas distâncias, seja em estradas ou trilhas, em cima de uma bicicleta. Da mesma forma que uma pessoa se prepara antes de realizar uma trilha de longo curso que irá durar dias, semanas ou meses; uma série de preparativos também são indicados quando a aventura será feita no pedal.
Antes de colocar as rodas para girar e a fim de otimizar o que levar numa ciclotrip, é necessário saber as características do entorno a ser visitado. Estas informações irão exigir — ou não — a escolha por equipamentos e acessórios com determinadas configurações mais exclusivas. Então, como primeiro passo, sugiro que o cicloviajante reúna informações a respeito do caminho que irá seguir, incluindo o contexto geográfico e questões culturais. Existem percursos abertos às bicicletas que fazem parte da Rede Brasileira, como o Caminho de Cora Coralina (Goiás) ou a Trilha Verde da Maria Fumaça (Minas Gerais), já bem consolidados e com muitas informações disponíveis online.
Sigo, particularmente, a concepção de que ‘mais é menos e menos é mais’ quando se trata de escolher o que levar numa cicloviagem. Garantindo o menor esforço possível em termos de peso e de ajuste de configuração, visto que a própria viagem vai dar conta de acomodar ou não a bagagem ao cicloturista. E não adianta levar equipamentos que, em caso de quebra, eu não consiga reparar nos horizontes geográficos que costumo visitar. De que me adianta uma super suspensão dianteira se, nos confins de Jujuy ou Antofagasta, eu não consiga repará-la ou fazer sua manutenção?
Às vezes, o melhor equipamento é o que você tem. Simples assim. O importante é ir, tomando todos os cuidados pertinentes, claro, mas o importante é ir.
No país, temos à disposição um sem número de opções de qualidade e preço, que permitem que cada um faça a tão famosa relação custo x benefício.
Quanto à bike e seus componentes
Já tive a honra de cicloviajar ao lado de irmãos(ãs) de estrada que usavam uma barra forte adaptada, então, não irei reforçar o coro daqueles que pensam que um equipamento caro é o que faz o ciclista. Existem set ups (configurações) que contribuem com a dirigibilidade em diferentes condições, de single tracks aos estradões. Quanto mais leve for a bike, menos se irá exigir do ciclista um esforço além daquele que, naturalmente, a estrada requer.
As ligas de alumínio para os quadros têm evoluído substancialmente, porém, como usuário apaixonado de uma bike com quadro de Cromoly (Liga 4130), fico com esta opção em termos de resistência e leveza. Em tempo, não pratico cicloturismo de aventura, então meu rodar é bem mais contemplativo do que hardcore. Quadros de carbono e titânio, sinceramente, fogem à escolha que faço.
Não esqueça que é necessário considerar quais itens têm maior desgaste numa cicloviagem e que podem necessitar de reparos ou reposições. Cabos de freio, pastilhas, raios, corrente, movimento central, câmbio (dianteiro e traseiro) e suspensão costumam ser os que encabeçam a lista. ‘Ah, você não falou dos freios a disco’, dirão. Se houver como reparar ou trocar no caminho escolhido, ótimo. Senão, fico com os V-brake mesmo!
Atenção especial ao que está mais tempo em contato com o caminho: os pneus. Revisões periódicas a cada parada diária podem prevenir situações — e problemas — futuras. Atente para perfis de pneus que atendam ao percurso escolhido. Perfis muito baixos e lisos não são tão recomendados para trechos que necessitem de maior tração. Por sua vez, perfis altos e com garras também não são a melhor escolha para longos trechos em asfalto, apenas para citar dois exemplos principais.
Sobre alforges, dianteiro e traseiro, tenho uma forma pessoal de organizar minha bagagem a fim de que altere o mínimo possível o centro de gravidade de minha bike. Faço a opção apenas por bolsa de guidão e alforge traseiro. O material feito em cordura 500 é o mais utilizado por diferentes marcas, mas prefira aqueles cuja costura seja feita em material refletivo.
A maioria dos alforges já vem com tratamento hidrorepelente, porém, nunca abro mão do mal falado e afamado saco de lixo revestindo o interior das bolsas, para deixar suas coisas livres de umidade em caso de chuva. Tenho feito isso há 20 anos, e não é que dá certo?
Não sou favorável ao uso de mochila nas costas por uma série de motivos, dentre eles, sobrecarregar articulações de ombros, pescoço, cotovelo e punho, além de aumentar o risco de lesão grave, cervical ou lombar, em caso de queda.
Monte seu kit de emergência com bike tools que correspondam ao uso. Ferramentas em um kit acabam por diminuir o peso e organizar melhor esses itens fundamentais. Remendos, lixa, cola e pinça ajudam no reparo de pneus, porém minha recomendação é de que você leve uma ou duas câmaras, para uma troca mais rápida, e faça os reparos quando chegar em um local seguro.
Em certos casos, o uso de um GPS exclusivo é dispensável. A função já vem incorporada em smartphones, que comportam “tudo em um só lugar”. Ainda assim, não confie totalmente na tecnologia, porque em alguns lugares do mundo isso não vai servir de nada. Imprima e plastifique o mapa de sua rota, ou pelo menos, daqueles trechos mais “cabeludos”.
Para um cicloturismo que inclua trechos em single track, talvez o uso de alforges não seja recomendável, porém, equipamentos de bikepacking podem ser encontrados em lojas online e nas redes megastores. O Bikepacking é um estilo de viajar mais leve em bicicleta. Visa distribuir a carga em vários pontos da própria bicicleta. Este estilo de viajar usa as bagagens e equipamentos de forma a aproveitar o centro de gravidade da bike e distribuir melhor o peso, sem atrapalhar a condução em terrenos acidentados. A funcionalidade, conforto e simplicidade também são predicados levados em conta pelos amantes da aventura.
Nem todo cicloturista é um campista nato, portanto, não irei detalhar questões relativas à barracas e equipamentos para camping. Ainda assim, vale escolher barracas que, além de leves, sejam rápidas e fáceis de armar e desarmar, tenham excelente impermeabilização e sejam resistentes. O conforto térmico, particularmente, recomendo deixar por conta do saco de dormir.
Espero que estas poucas considerações possam, ao mesmo tempo, informar e motivar os aventureiros a pesquisar sobre os equipamentos que melhor se adequem às cicloviagens. No mais, é escolher os caminhos a seguir e viver experiências únicas.
Assista na íntegra a live sobre equipamentos da última terça (08):
*Therbio Felipe é editor-executivo da Revista Bicicleta
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Fonte
O post “Como se preparar para uma cicloviagem: dicas e equipamentos” foi publicado em 15th December 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco